quinta-feira, 28 de outubro de 2021

Monlevade 1828: Uma Fábrica de Ferro movia a Água

Além do minério de ferro quase puro e da grande quantidade de mata para o fabrico do carvão, os recursos hídricos locais foram, igualmente, essenciais para o funcionamento da Fábrica de Ferro Monlevade, instalada a partir de 1828. Dos martelos de forja aos ventiladores, todo o equipamento era movido por diferentes rodas d’água. João Antônio de Monlevade também era exímio mecânico e, newtoniano, sempre colocava a gravidade para trabalhar a seu favor. Seu nome também foi muito associado à outra roda d’água, o Engenho Mineiro de Pilôes (foto abaixo), aparato mecânico, muito difundido durante o sec. XIX e empregado na trituração do quartzito aurífero na Minas de Ouro, cujas cabeças dos trituradores consistiam em blocos de 80 quilos de ferro forjado, que eram produzidos em escala industrial em Monlevade.


O metalúrgico João Monlevade desviou o curso de dois ribeirões para empregar suas águas como força motriz de diversos equipamentos. O primeiro foi o ribeirão que nasce nas imediações do Campo de Aviação, desce pelas matas do Embaúba e do Hospital Margarida, até o pátio do Colégio Parreiras, onde foi canalizado. Na altura da Rua Imbé, Monlevade desviou o curso desse ribeirão e o fez verter água sobre a pedreira que existe nos fundos do Solar Monlevade, formando para “deleite da vista” uma cascata artificial de 180 pés de altura. Da cascata, a água passava pelo Solar Monlevade e no terreiro dava impulso a um Engenho de Pilões, utilizado para sacar ferro das borras dos fornos; moinho de fubá e ralador de mandioca. Até recentemente, a roda d’água do mencionado Engenho de Pilões se encontrava íntegra no Museu. Contudo, depois que a Arcelormittal retirou o telhado sobre ela, a mesma ficou sujeita às ações das intempéries e ruiu, não sendo restaurada (foto abaixo). 
 
O segundo, muito mais caudaloso, o Ribeirão Carneirinhos, foi desviado através de um bicame para dentro da fábrica, onde movia 3 martelos de forja, de 1200, de 225 e de 75 quilos, os ventiladores, os laminadores e um engenho de serrar madeira. Tudo impulsionado pela água, com destaque para os ventiladores. Para se fundir ou forjar o ferro é necessário o sopro dentro dos fornos para se alcançar altas temperaturas. Monlevade tinha seis fornos de fundir ferro, de 80 quilos de capacidade cada um, e três fornos de forja para caldeamento do ferro a ser trabalhado, operando, diariamente. O sopro de cada forno era conseguido por meio de trompas hidráulicas, caixas de madeira (braúna) calafetadas e hermeticamente fechadas, que, uma vez enchidas de água, expulsavam o ar, soprando-o para dentro dos diversos fornos. Elas eram de efeito duplo e ao se esvaziarem também sopravam o ar para dentro dos fornos. Possuíam ainda mecanismo de segurança que impedia que a água fosse soprada para dentro dos fornos. 
A Fábrica de Ferro Monlevade era, totalmente, dependente da água, sem, contudo, lançar poluente nos recursos hídricos. O consumo de água não era pouco no estabelecimento metalúrgico, mas depois de cumprir seu importante papel na história local, a água dos ribeirões seguia de volta para o Rio Piracicaba, sem qualquer contaminante. Muito pelo contrário, a água para ser utilizada nas trompas dos sopros nos fornos, por exemplo, deveria ser limpa e decantada para não obstruí-las. Apesar do processo produtivo e de abrigar 150 escravos e outros 50 colaboradores direitos, a propriedade não emitia nem mesmo esgoto sanitário como Monlevade fez questão de registrar: “em roda destes edifícios o terreno está sempre ocupado com plantações úteis e livre de emanações pútridas tão nocivas à saúde”.

terça-feira, 26 de outubro de 2021

Três razões, exclusivamente, portuguesas e determinantes para a imensa grandeza territorial do Brasil





A colonização portuguesa é quase sempre muito estigmatizada e deturpada no Brasil para servir de bode expiatório a justificar a grande dificuldade de o país conseguir explorar todo seu potencial socioeconômico. Em 2014, o Brasil alcançou a posição de 6° maior economia do mundo, apresentando, concomitantemente, o potencial de ser 7 vezes maior. O Brasil só é pequeno na cabeça do brasileiro. E, certamente, de todas as grandezas do Brasil, a mais evidente é geográfica, isto é, seu imenso e vasto território, o 5º maior do mundo, composto pela maior porção de terras agricultáveis do planeta, os mais ricos biomas e um subsolo detentor das maiores jazidas minerais já descobertas.
Dentro do repertório de deturpação da história brasileira, ouvem-se muitas bobagens, uma delas muito recorrente é aquela que diz que se tivesse sido colonizado por outra nação como a França, a Holanda ou a Inglaterra, o Brasil teria se visto em menor dificuldade de explorar todo seu potencial enquanto país. Por inúmeros fatores, é preciso deixar claro que se não fosse Portugal, o Brasil jamais teria sido o Brasil, teria sido outro país, não haveria samba, Carnaval, feijoada nem Mestre Aleijadinho ou Athayde. É inegável que o Brasil é um complexo produto, autenticamente, luso que detém outras grandezas, como a histórica, a étnica, a cultural, etc. No entanto, abordarei a seguir as três razões, exclusivamente, portuguesas que foram determinantes apenas para que o Brasil se consolidasse como o imenso país que ele é, territorialmente, o que, isoladamente, já faz dele um grande país, mesmo estando ele muito longe de explorar todo o seu potencial socioeconômico como tal. .
A primeira e mais óbvia delas é o Descobrimento. Não foi outro país a descobrir o Brasil a não ser Portugal. E não foi achamento. O Brasil foi descoberto em função de um cálculo matemático. Colombo havia descoberto a América 8 anos antes, mas acreditava que havia chegado à Índia e, assim, fez publicar os cálculos náuticos de sua viagem. Em 1499, Vasco da Gama regressava a Portugal da primeira viagem para Índia, circunavegando a África. Os portugueses, então, confrontaram os cálculos náuticos da viagem de Vasco da Gama com aqueles publicados por Colombo e concluíram que os últimos estavam errados: a Índia não poderia estar tão perto. Tratava-se, portanto, de um novo continente e se havia terras ao norte, elas também deveriam existir ao sul, que é o que ocorre em volta de todo o globo. Assim, já na segunda viagem para a Índia, os portugueses enviaram Cabral para descobrir o Brasil. Não foi outro país a não ser Portugal a estabelecer a geografia do Brasil, colocando-o no mapa do globo, fato histórico que deve ser compreendido como o marco inicial da imensa projeção territorial brasileira sobre o continente americano e que só foi realizado por Portugal. A França, a Holanda e a Inglaterra jamais descobriram o Brasil, até porque, àquela altura, não eram bons em cálculos matemáticos.
A segunda foi a União Ibérica. Pouco antes de 1500, enquanto descobriam os novos caminhos marítimos, Portugal e Espanha traçaram um meridiano a 370 léguas a oeste da ilha de Santo Antão no arquipélago de Cabo Verde e acordaram que as terras descobertas a leste dele pertenceriam ao primeiro e as encontradas a oeste à segunda. De acordo com a chamada Linha de Tordesilhas, o Brasil teria pouco mais de 1/3 do tamanho que tem hoje. Então, o que aconteceu que permitiu o avanço da fronteira do Brasil para oeste da Linha de Tordesilhas, quase triplicando seu tamanho original? A resposta está em mais uma especificidade portuguesa, o desaparecimento do Rei Dom Sebastião e o conseqüente estabelecimento da União Ibérica. Quase 80 anos depois de descoberto o Brasil, o rei português Dom Sebastião ainda estava a empreender cruzada no norte da África. Ele, definitivamente, não era um navegador, era um fiel cavaleiro cruzado. Desapareceu na famosa batalha de Alcácer-Quibir, no Marrocos, com apenas 24 anos de idade, sem deixar sucessor, o que resultou numa crise sucessória que terminou com a unificação das monarquias de Portugal e Espanha, numa unidade política que ficou conhecida como União Ibérica, a partir da qual o rei espanhol passou a governar Portugal e seus territórios ultramarinhos, inclusive o Brasil, por figurar como o parente mais próximo na linha sucessória de Dom Sebastião. Assim, durante a unificação de Portugal e Espanha, a Linha de Tordesilhas perdeu muito de seu sentido e o rei da Espanha permitiu que os colonos luso-brasileiros avançassem para oeste, o que expandiu muito o território brasileiro. Posteriormente, acordou-se que as fronteiras sul-americanas a oeste da Linha de Tordesilhas passariam a respeitar a nacionalidade de ocupação do território, o que acabou de vez por delimitar o imenso tamanho da América Portuguesa. Ainda hoje em determinadas regiões do Brasil, o imaginário popular nutre a esperança pelo regresso de Dom Sebastião para salvar o país de sua dificuldade em desenvolver todo o potencial socioeconômico que tem.
E por fim, a terceira, última e não menos importante razão portuguesa determinante para o estabelecimento da imensidão territorial brasileira, muito pelo contrário, é o fato mais extraordinário da história das Américas: a transferência da Corte Portuguesa de Dom João VI para o Brasil. Imagine que diante do implacável expansionismo napoleônico sobre a Europa, depois de já destronado o rei da Espanha, o intrépido Rei Dom João VI reuniu sua corte de 15 mil pessoas no Porto de Lisboa e cruzou o Atlântico para reinstalá-la no Rio de Janeiro, fato marcante e sem paralelo no mundo que não apenas produziu transformações profundas no Brasil, como também foi fundamental para a consolidação da unidade do imenso território brasileiro. Mais tarde, em suas anotações, Napoleão registraria sobre o rei português: “foi o único que me enganou!” Veja que os EUA só conseguiram estabelecer sua unificação territorial mediante um traumático conflito fratricida que ficou conhecido como Guerra de Secessão e a anexação de territórios do México. A América Espanhola, por sua vez, se fragmentou em numerosos países, apesar dos esforços de unificação de Simon Bolívar. A centralização do poder no Rio de Janeiro a partir da instalação da Corte de Dom João VI e seus desdobramentos como o I e o II Império Brasileiro manteve a unidade territorial brasileira, sem a necessidade de guerra de secessão, fazendo com que a América Portuguesa se aglutinasse num único e enorme país. Quando Dom João VI decidiu transferir a Corte para o Rio de Janeiro a América Portuguesa era, na verdade, constituída por dois Estados, o do Brasil e o do Grão-Pará e Maranhão. E foi o próprio Dom João VI quem, formalmente, unificou os estados do Brasil, ao sul, e do Grão-Pará e Maranhão, ao norte, no Estado do Brasil, hoje existente, quando fez do Rio de Janeiro a capital do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, o primeiro da história. A verdade é que se não fosse o poder centralizado pela Corte Joanina no Rio de Janeiro, dificilmente, a América Portuguesa teria se congregado num único e gigantesco país. Certo é que nas melhores das hipóteses, a América Portuguesa, sem a transferência da corte, teria se fragmentado em pelos menos dois estados, o do Brasil e o do Grão Pará e Maranhão. E em casos mais extremos, a América Portuguesa poderia ter se fragmentado tantas vezes quanto são os números dos estados hoje existentes no Brasil. Desse modo, cada estado brasileiro poderia ter originado um país diferente e, assim, não existiria o Brasil.
Os fatos históricos falam por si só, não tivesse sido a colônia portuguesa, o Brasil muito dificilmente teria se aglutinado no imenso país que é hoje.

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Fabricismo de Laércio no Abandono da Escola Santana: o desenvolvimento está muito além do asfalto e do mutirão da catarata


Foto Diló
 
O resultado das últimas eleições municipais, com derrota acachapante da ex-prefeita Simone, deixou claro o desejo das urnas pela mudança. Mas, não foi qualquer por mudança. Depois do fracos resultados administrativos dos últimos três prefeitos, todos eles relativamente jovens e supostamente promissores, o eleitor monlevadense não quis mais apostar em algo novo e, portanto, incerto, então elegeu Laércio com a esperança de mudança para algo que já havia ocorrido, isto é, o primeiro mandato do atual prefeito, exercido a partir de 1996, que foi de fato um bom governo se comparado com aqueles que o sucederam. Mas, infelizmente, depois de eleito prefeito em 2020, é visível que Laércio optou por não reestruturar atual administração nos moldes básicos de seu governo de 1996. Ao contrário, toda a maneira estrutura por Laércio em relação ao governo, mantendo velhos esqueletos de poder da direita, uma maioria de moreiristas em cargos estratégicos, etc, revela que a atual Prefeitura foi montada com apenas um objetivo: o de eleger o vice Fabrício Lopes prefeito do Município em 2024. O grande problema é que Fabrício é “político” de centro-direita, afeto ao fisiologismo típico do Centrão, ou seja, um conservador, detentor de perfil bolsonarista e originado da cozinha de ninguém menos do que Carlos Moreira. No próximo ano, por exemplo, 20% dos petistas do governo estarão a pedir votos para Lula, enquanto 80% dos fabricistas pedirão voto para Bolsonaro, ou seja, um fratricídio geral

E este conservadorismo fisiologista voltado para a candidatura de Fabrício em 2024 já pode ser notado nas poucas ações concretas de governo ou em suas muitas inações. Em sentido genérico, todas as estruturas fisiologistas de poder dos setores conservadores da política local seguem de pé no atual governo do PT. Não houve, por exemplo, mudança significativa no modelo terceirizado de limpeza pública da cidade que fatura milhões e não entrega o serviço; no Rotativo que também segue inalterado, faturando outros milhões; no Hospital Margarida que segue administrado pela entidade que deu o golpe do Bingo, perseguiu médicos, etc; a Encon, concessionária do serviço do transporte coletivo, foi autorizada a pedido do prefeito a receber milhões em subsídio do Município, sem revelar sua contabilidade, seguindo-se imune à fiscalização dos órgãos competentes, já que posar para foto na garagem da empresa para divulgação no órgão de comunicação do governo, sem apresentar autuação, não é fiscalização, é lorota de marketing interno provocado pelo desgaste do caso Enscon. As inações estruturais foram muitas. De outro lado, em sentido estrito, apesar das numerosas divulgações abstratas da secretaria de comunicação, o que se tem de concreto é aquilo de eleitoreiro que se viu no governo passado, como o anúncio da realização de cirurgia de catarata em regime de mutirão, e o asfaltamento de ruas com calçamento de pedra ou bloquete, tudo sempre levado à cabo com indispensável presença eleitoreira de Fabrício. 

Como visto, muitos podem ser os exemplos de que nada mudou no governo municipal do PT em João Monlevade, mas entre eles o que mais me chamou a atenção foi o recente asfaltamento de parte do acesso à abandonada Escola Santana, que é marco histórico e arquitetônico do modernismo local, tombado pelo artigo 150 da Lei Orgânica para fins de preservação e sua restauração foi promessa de campanha de Laércio. Primeiro, porque é preciso se pensar várias vezes antes de se asfaltar o entorno de um sítio histórico. Segundo, porque o asfaltamento se deu a poucos metros do leito do Rio Piracicaba, o que, sob a ótica ambiental, deve ser evitado. Ainda sob o ponto de vista ambiental, é cediço que a vias secundárias devem preferir o calçamento com bloquetes ou paralelepípedos, que permitem a infiltração da água da chuva e esquentam muito menos o ambiente. Monlevade é, geograficamente, constituída por vários vales, o que significa que o asfaltamento sem critério será sempre fator favorecedor de enchentes e de inundações, muito comuns, justamente, perto dali. E não é correto o cidadão ser vítima de inundação dentro de casa, apenas porque Fabrício que ser prefeito em 2024. Terceiro, porque o acesso recentemente asfaltado da Escola Santana só foi aberto ao trânsito local, depois de uma forte chuva que comprometeu o talude da Avenida Santa Cruz, logo abaixo, o que impediu o trânsito em mão dupla naquele ponto da via. Assim, caso não se tratasse de obra meramente eleitoreira, o que a administração deveria ter feito era reparar o talude da Avenida Santa Cruz, reabilitando o trânsito em mão dupla no local. Jogar asfalto sobre barranco cedente, Moreira também fez muito. Não é a mudança. E quarto, porque a foto do prefeito e do vice, no momento daquele asfaltamento, rapidamente, circulou as redes sociais, mas ninguém viu foto de pose de Laércio, mais Fabrício no Colégio Santana, a poucos passos dali, que se encontra em estado de completo abandono, degradação e cuja restauração foi promessa de campanha do PT. Volto a repetir, fosse para Laércio entregar o governo para Fabrício, como é evidente, ele deveria ter sido o vice de Raílton. Os setores políticos desenvolvimentistas do Município estariam muito mais bem representados e teríamos de fato um prefeito eleito a governar o Município, com resultados mais satisfatórios para o verdadeiro desenvolvimento. A preservação dos monumentos arquitetônicos e o domínio da história são fundamentais para a formação da identidade local e para determinar a forma como o cidadão lidará com o Município. Apesar de desconhecida, fustigada e abandonada, Monlevade tem uma história grandiosa, sem paralelo no Brasil, tendo vivenciado todos os ciclos da siderurgia industrial, desde os Marteletes Hidráulicos e o Carretões puxados por muitas juntas de bois de João Monlevade, passando pelo Martelo-Vapor de Francisco Monlevade, até a instalação da Companhia Siderúrgica Belgo Mineira, da Vila Operária de Louis Ensch e além. O desenvolvimento somente será retomado quando a história do Município for desestigmatizada, recontada e quando todos tiverem confidencia dela. Não há como mudar pensando sempre da mesma forma ou agindo sempre do mesmo modo.   

quinta-feira, 7 de outubro de 2021

Moradores do Areia Preta à beira do protesto contra poluição da Arcelormittal


 Moradores do Bairro Areia Preta estão à beira da sublevação contra a poluição gerada pelas atividades mineradora e siderúrgica da Arcelormittal no Município. Conhecidos por fecharem o trânsito local em ocasiões passadas, os moradores do Areia Preta afixaram, recentemente, duas faixas na Avenida Getúlio Vargas, principal artéria econômica da cidade, com os seguintes dizeres: “A poluição da Arcelor destrói a dignidade, a saúde das pessoas e o meio ambiente” e “Arcelor, ouça nosso grito de socorro, tantas reuniões e nenhuma solução, merecemos respeito”. 
A poluição emitida pelas atividades da Arcelormittal, que atinge o bairro tem fontes diferentes: o particulado carreado junto do trafego pesado de carretas no local, o particulado da Sinterização e o particulado gerado na pátio de metálicos, localizado não muito longe dali. É de conhecimento geral que a mineração e a siderurgia são atividades altamente poluidoras. Contudo, a Arcelormittal precisa entender que ela tem a obrigação de limpar o que suja e de implementar os manejos que reduzam a geração de poluição, seja na Mina do Andrade ou na Usina. 
O entorno da Usina, então, encontra-se extremamente sujo e acinzentado. Em alguns pontos é possível ver o breu tomando conta do exterior dos equipamentos como é o caso da estação de tratamento de efluente ao lado do Zebrão. As sarjetas das ruas estão cobertas por meio palmo de poeira siderúrgica. Os telhados, calhas e terreiros das casas estão sempre cobertos do pó da Sinterização, que só pode ser removido com o emprego de água e muito trabalho pesado. O piso do pátio rodoviário do depósito de carvão, por exemplo, localizado ao lado do leito do Rio Piracicaba, tem um palmo de pó de carvão e pilhas e mais pilhas do combustível. Moradores do Centro Industrial sentem falta da imensa labareda que era utilizada para queimar o monóxido de carbono, que é um gás venenoso, que pode matar e é expelido do Ato-forno. E em relação à Sinterização, gostaria de discorrer um pouco mais. O sinter é a mistura que vai para o Alto-forno e é constituído, basicamente, de minério de ferro, carvão mineral e calcário, tudo muito fino. Para produzir o sinter, emiti-se muito particulado. Daí a necessidade da instalação de um filtro eletrostático, que consome muita energia elétrica. Já vi, nas redes sociais, engenheiro da Arcelormittal defendendo o filtro da Sinterização, como sendo um equipamento atualizado e eficaz. Mas e quanto a sua operação? Ele funciona 24 horas por dia? Por que durante a penumbra da noite é possível ver uma coluna de pó de sinter subindo para a atmosfera partindo da Sinterização? É normal emitir coluna de sinter durante a noite ou o filtro é desligado para reduzir o custo com a conta de energia elétrica? 
Como se vê, a Arcelormittal tem muito o que esclarecer, limpar e fazer.