terça-feira, 13 de outubro de 2020

Estrada do Forninho até Itabira foi aberta por Monlevade, há quase 170 anos


 

Não é por menos que o metalurgista, poeta e minerálogo, João Antônio de Monlevade, é reconhecido pelos historiadores como um dos maiores construtores de estradas do século XIX em Minas Gerais, quase sempre carroçáveis, e dotadas de pontes para a travessia dos rios.  Monlevade compreendia que o desafio não era apenas o de produzir, em escala, as maiores peças de ferro já forjadas no Brasil, mas também transportá-las até os mercados consumidores ou a seus clientes preferenciais. Muito antes das estradas de ferro, o transporte disponível para escoamento da produção da Fábrica de Ferro eram as tropas e os famosos carretões de quatro rodas, puxados por muitas juntas de bois, também fabricados em Monlevade.  

A estrada de carro mais longa aberta por João Monlevade que se tem registro é a que ligava sua Fábrica de Ferro à Mina do Morro Velho, em Nova Lima, contando com 130 quilômetros de extensão. As viagens de carretões de quatro rodas puxados por muitas juntas de bois e carregados de peças de ferro mais freqüentes eram pela estrada até a Mina do Gongo Soco, que era o principal cliente da Fábrica de Ferro. Mas, outras localidades também representavam mercados importantes para os artefatos de ferro produzidos em João Monlevade, como a cidade de Itabira.      

Foi em Itabira que pela primeira vez em Minas Gerais se empregou na mineração do ouro a tecnologia do Engenho Mineiro de Pilões, cuja ferragem completa, inclusive as cabeças dos trituradores, era fabricada em Monlevade. As elevadas somas de ouro apuradas nas minas do Pico do Cauê demandavam cada vez mais ferramentas e peças de ferro para explorá-las. Assim, até pela pouca distância, a Fábrica de Ferro Monlevade  não poderia ficar sem comunicação direta com a cidade de Itabira. 

No Relatório de 12 de dezembro de 1853, Monlevade comunica ao Governador da Província de Minas Gerais, Diogo de Vasconcelos, o andamento da construção da estrada até Itabira, que, àquela altura, dependia da conclusão da ponte sobre o Rio Santa Bárbara para prosseguir rumo ao destino pretendido. Ele escreveu, “ Ela (a fábrica de ferro) é aqui distante ... a seis léguas da cidade de Itabira , mas ficando acabada a ponte agora em construção sobre o Rio Santa Bárbara, assim como a estrada da dita para a cidade, ficará a distancia reduzida a 4 ¼ léguas”.          

A partida pela Estrada do Forninho rumo a Itabira inicia-se no nível do Córrego Carneirinhos, no entorno do Solar Monlevade e originalmente, seu trajeto inicial seguia pela rua de acesso ao Bairro Pedreira, até alcançar o leito atual da estrada no trevo à frete, para subir a Serra do Andrade e descê-la pelo outro lado até o nível do Rio Santa Bárbara, atravessando a ponte e voltando a subir, serpenteando pelas cristas das serras, vindo a descê-las apenas quando já se avista a cidade de Itabira. O percurso é, muitas vezes, íngreme e, sempre, sinuoso. É incrível saber que aquele trajeto foi, originalmente, aberto em meados dos anos de 1800, a golpes de machados, enxadas, picaretas, etc, e que por aquelas alturas trafegaram numerosas tropas e pesados carros de bois, carregados de peças de ferro.

Mas como se pode afirmar que o trajeto original da Estrada do Forninho foi aberto por Monlevade? Ora, pelas informações prestadas por João Antônio de Monlevade ao Governador de Minas, em 1853. Não há outra estrada que liga, diretamente, o município de João Monlevade à cidade de Itabira, passando uma ponte sobre o Rio Santa Bárbara e medindo exatas 4 ¼ léguas, ou seja, 28 quilômetros de distância. A estrada anterior, de 6 léguas de extensão a que Monlevade se referiu  é aquela que passa por São Gonçalo do Rio Abaixo.  Claro que nestes últimos quase 170 anos, a Estrada do Forninho, passou de estrada carroçável à uma estrada de rodagem bastante sinuosa, recebendo alargamento, pavimentação asfáltica, sinalização, rede de drenagem, etc (foto). Mas, o seu traçado original, sem dúvida, é aquele, cuja construção foi mencionada por João Antônio de Monlevade no Relatório de 1853.             

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