Não é por
menos que o metalurgista, poeta e minerálogo, João Antônio de Monlevade, é
reconhecido pelos historiadores como um dos maiores construtores de estradas do
século XIX em Minas Gerais, quase sempre carroçáveis, e dotadas de pontes para
a travessia dos rios. Monlevade
compreendia que o desafio não era apenas o de produzir, em escala, as maiores
peças de ferro já forjadas no Brasil, mas também transportá-las até os mercados
consumidores ou a seus clientes preferenciais. Muito antes das estradas de
ferro, o transporte disponível para escoamento da produção da Fábrica de Ferro
eram as tropas e os famosos carretões de quatro rodas, puxados por muitas
juntas de bois, também fabricados em Monlevade.
A estrada de
carro mais longa aberta por João Monlevade que se tem registro é a que ligava
sua Fábrica de Ferro à Mina do Morro Velho, em Nova Lima, contando com 130
quilômetros de extensão. As viagens de carretões de quatro rodas puxados por
muitas juntas de bois e carregados de peças de ferro mais freqüentes eram pela
estrada até a Mina do Gongo Soco, que era o principal cliente da Fábrica de
Ferro. Mas, outras localidades também representavam mercados importantes para
os artefatos de ferro produzidos em João Monlevade, como a cidade de Itabira.
Foi em
Itabira que pela primeira vez em Minas Gerais se empregou na mineração do ouro
a tecnologia do Engenho Mineiro de Pilões, cuja ferragem completa, inclusive as
cabeças dos trituradores, era fabricada em Monlevade. As elevadas somas de ouro
apuradas nas minas do Pico do Cauê demandavam cada vez mais ferramentas e peças
de ferro para explorá-las. Assim, até pela pouca distância, a Fábrica de Ferro
Monlevade não poderia ficar sem
comunicação direta com a cidade de Itabira.
No Relatório
de 12 de dezembro de 1853, Monlevade comunica ao Governador da Província de
Minas Gerais, Diogo de Vasconcelos, o andamento da construção da estrada até
Itabira, que, àquela altura, dependia da conclusão da ponte sobre o Rio Santa
Bárbara para prosseguir rumo ao destino pretendido. Ele escreveu, “ Ela (a
fábrica de ferro) é aqui distante ... a seis léguas da cidade de Itabira , mas
ficando acabada a ponte agora em construção sobre o Rio Santa Bárbara, assim
como a estrada da dita para a cidade, ficará a distancia reduzida a 4 ¼
léguas”.
A partida
pela Estrada do Forninho rumo a Itabira inicia-se no nível do Córrego
Carneirinhos, no entorno do Solar Monlevade e originalmente, seu trajeto
inicial seguia pela rua de acesso ao Bairro Pedreira, até alcançar o leito
atual da estrada no trevo à frete, para subir a Serra do Andrade e descê-la
pelo outro lado até o nível do Rio Santa Bárbara, atravessando a ponte e voltando
a subir, serpenteando pelas cristas das serras, vindo a descê-las apenas quando
já se avista a cidade de Itabira. O percurso é, muitas vezes, íngreme e,
sempre, sinuoso. É incrível saber que aquele trajeto foi, originalmente, aberto
em meados dos anos de 1800, a golpes de machados, enxadas, picaretas, etc, e
que por aquelas alturas trafegaram numerosas tropas e pesados carros de bois,
carregados de peças de ferro.
Mas como se
pode afirmar que o trajeto original da Estrada do Forninho foi aberto por
Monlevade? Ora, pelas informações prestadas por João Antônio de Monlevade ao
Governador de Minas, em 1853. Não há outra estrada que liga, diretamente, o
município de João Monlevade à cidade de Itabira, passando uma ponte sobre o Rio
Santa Bárbara e medindo exatas 4 ¼ léguas, ou seja, 28 quilômetros de distância.
A estrada anterior, de 6 léguas de extensão a que Monlevade se referiu é aquela que passa por São Gonçalo do Rio
Abaixo. Claro que nestes últimos quase
170 anos, a Estrada do Forninho, passou de estrada carroçável à uma estrada de
rodagem bastante sinuosa, recebendo alargamento, pavimentação asfáltica, sinalização, rede
de drenagem, etc (foto). Mas, o seu traçado original, sem dúvida, é aquele, cuja construção foi mencionada por
João Antônio de Monlevade no Relatório de 1853.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Ofensas e denúncias infundadas serão riscadas ou excluídas a critério do autor do Blog. Obrigado pelo comentário.