No que
diz respeito à sua implantação e ao seu funcionamento, nada foi obra do acaso
na Fazenda Carvoeira e Fábrica de Ferro de João Antônio de Monlevade. Desde a
disposição dos edifícios, passando pela a abertura de estradas carroçáveis,
pela instalação de pontes, pela escolha dos locais de aproveitamento dos
recursos naturais, como a utilização do potencial hidráulico dos cursos d’água,
a extração do minério de ferro e da madeira, da produção do carvão, até a
administração do estabelecimento, tudo se deu em obediência a um conceito muito
próprio de solar, no sentido de que era necessário estabelecer um ponto
geográfico central, por meio do qual fosse possível a inspeção pessoal de todos
os principais serviços envolvidos na cadeia produtiva do empreendimento. E é
neste ponto específico que foi erguido o Solar Monlevade.
Assim
como o Sol se encontra no centro de nosso sistema planetário que, não por menos
é chamado de Sistema Solar, o Solar Monlevade (foto) foi planejado e
posicionado na paisagem de maneira a possibilitar o monitoramento contínuo de
todos os serviços que orbitavam a produção e a entrega da variada gama de
artefatos de ferros forjados pela Fábrica Monlevade. É o que registrou o
próprio Monlevade em seu famoso Relatório de 1853:
[...]
“Da
morada principal avista-se ele (o rio) ao longe. Ela (o Solar Monlevade) é de
sobrado com varandas nas quatro faces, tanto embaixo como em cima, segura com
dobrada fileira de esteios; e está colocada no centro de quatro grandes corpos
de construções ocupadas pelos escravos, etc. Esta situação facilita
singularmente a administração e inspeção do estabelecimento”.
[...]
Assim,
das varandas de seu Solar, Monlevade podia avistar e inspecionar, pessoalmente,
em todas as direções, o funcionamento dos vários serviços essenciais a seu
empreendimento, até mesmo no período das chuvas, o que dificultava muitos
deles, como o corte da madeira, a produção do carvão, a mineração e o
transporte das peças de ferro, etc. Não se pode deixar de reconhecer que João
Antônio de Monlevade foi também um grande maestro que conseguiu como nenhum
outro, antes ou depois dele, a regência simultânea, organizada e planejada de
todos aqueles serviços. Pode-se dizer, então, que o Solar Monlevade se
encontrava disposto em relação aos demais serviços da Fazenda Carvoeira e
Fábrica de Ferro, do mesmo modo com que o maestro se posiciona diante de uma
orquestra.
Mas, o
conceito de Solar Monlevade, enquanto ponto central do estabelecimento, não se
encerra aqui. É preciso ter em mente ainda que Monlevade também é considerado
pela historiografia como um dos maiores construtores de estradas da Minas
Gerais oitocentista. E não eram quaisquer estradas. As estradas abertas e
estabelecidas por Monlevade, muitas das vezes, contavam com pontes para
travessia dos rios, coisa rara na época, e permitiam o trânsito de grandes
carretões de quatro rodas, puxados por muitas juntas de bois, capazes de
transportar peças de ferro de mais de uma tonelada de peso para seus clientes
preferenciais, que eram as Minas de Ouro administradas pelos ingleses como o
Gongo Soco, o Morro Velho, etc. Assim, o Solar Monlevade também era o início
central de uma extensa rede de estradas carroçáveis, por meio da qual a
produção daquela fabulosa indústria era escoada. Em cada janela do andar térreo
do Solar Monlevade encontram-se talhados na madeira dois emblemáticos sois de seis raios
cada um (foto), numa clara alusão ao conceito de solar e à rede de estradas que
dele se iniciava.
Veja
por meio da imagem anexa que o sol de seis raios representa, justamente, os
seis ramos de estradas que se originam das imediações do Solar Monlevade,
rumando para todas as direções, as quais ainda são utilizadas ainda hoje. Duas
delas correspondem, atualmente, ao traçado de duas das mais importantes vias do
Município, as avenidas Getúlio Vargas e Armando Farjado.
E foi
assim, como um distinto maestro, regente de uma grande orquestra organizada,
que João Monlevade conseguiu a inédita façanha de, a partir de 1828, produzir
em escala industrial, ininterruptamente, por mais de 50 anos, uma variada gama
de ferramentas e artefatos de ferro para a mineração do ouro, fazendo dele a
maior autoridade brasileira de sua época no ramo da metalurgia e da
mineralogia, além de detentor da mais importante Fábrica de Ferro do
Brasil-Império.
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