sábado, 28 de novembro de 2009

História das Minas de Ouro e Diamante: Guido Tomás Marlière, O Imperador do Rio Doce


Guido Tomás Marlière, nascido na França em 3 de dezembro de 1767, foi o mais importante colonizador das regiões do Vale do Rio Doce, Mucurí, Jequitinhonha e da zona da mata de Minas. De uma família monarquista, após estudar humanidade e filosofia, entrou para o exército francês, aos 18 anos. Vivenciou a Revolução Francesa e a era Napoleônica. Lutou contra as forças revolucionárias e, vencido, fugiu, com militares, para a Alemanha, integrando-se à legião anti-napoleônica do Visconde Mirabeau. Derrotado por Napoleão, seguiu para a Inglaterra, sendo enviado pelos ingleses a Portugal, em 1797, para defender as terras lusitanas de possível invasão napoleônica. Em 1802, foi criada em Lisboa a Guarda Real de Polícia Montada, para qual ingressou Guido Marlière, como Porta Estandarte. Começou aí, sua vida no Exército Português. Promovido a Alferes em 1807, acompanhou a Família Real portuguesa em sua intrépita fuga para o Brasil, em 1808.No Brasil, especificamente, na Província de Minas Gerais, foi promovido a Tenente, Capitão e Diretor Geral dos Índios em 1816; Major em 1821, Tenente-Coronel em 1823; Comandante de todas as Divisões do Rio Doce, e, finalmente, Coronel de Cavalaria em 1827. Iniciou seu trabalho em Minas, solicitando sua designação para um lugar afastado da civilização onde pudesse trabalhar entre os índios. O pedido de Marlière foi atendido e, em 1813, chegou à região compreendida hoje pelo município de Rio Pomba. Ali deu início a um grande trabalho de adequação de índios de diferentes nações, sobretudo a dos Botocudos, índios guerreiros atropófagos que viviam na região do Rio Doce e alfuentes. Guido Tomás Marlière foi o primeiro indigenista em terras tupiniquins.

Botocudos em Marcha de Guerra: Debret

Sua primeira missão foi a de fazer um levantamento sobre usurpação de terras, abusos fundiários e, ao mesmo tempo, promover a restituição das terras indígenas ocupadas pelos brancos.Pelo sucesso da missão Marlière obteve a nomeação para o cargo de Diretor Geral dos Índios em Minas Gerais. Propôs a substituição de administradores inadequados ao trato com o indígena; a criação de escola primária; a assistência hospitalar, além de verificar a possibilidade de ocorrência de ouro na região. A educação proposta por Marliere baseava-se no princípio da aproximação do indígena com o branco.Seu trabalho no vale do Rio Doce junto aos botocudos o tornou célebre. Fundou numerosas povoações e colaborou para a formação de muitos municípios, todos resultantes de aldeamentos indígenas, destacando-se: Guidoval, Visconde do Rio Branco, Guiricema, Cataguases, São Geraldo, Muriaé, Miraí, Astolfo Dutra, Conselheiro Pena, Governador Valadares, Pocrane Tarumirim, Resplendor, São Domingos do Prata, Mesquita, Marlièria, Jaguaraçu, Jequitinhonha, Argirita e São João Nepomuceno. Como diretor-geral dos Índios em Minas Gerais, construiu o Quartel de Guidoval em um lugar chamado Serra da Onça, de onde comandava toda região. Foi neste quartel em que veio a falecer em 15 de junho de 1836, onde estão sepultados seus restos mortais no Monumento do Guido.
Para nós, monlevadenses, talvez o fato histórico mais relevante envolvendo o francês Guido Tomas Marlière seja aquele relacionado com o transporte do maquinário da fábrica de ferro de outro ilustre francês, Jean Antoine Felix Dissandes de Monlevade. Foi Guido Marlière quem se encarregou de transportar, em canoas, através do Rio Doce e do Rio Piracicaba, as 12 toneladas de equipamentos adquiridos na Inglaterra, destinados à fabrica de ferro de Jean de Monlevade, conforme demonstram os extratos de ofícios emitidos por Marlière à autoridades de Minas e à comandados, os quais passo a transcrever:

...Não devo deixar de manifestar a vossa mercê os devidos louvores, pela breve prontificação de Embarcações seguras para o transporte eficaz das maquinas destinadas para a Fábrica de Ferro de Mr. de Monlevade, pelo Rio Doce acima, como o Ordenou o Excelentíssimo Governo desta Província, o que vossa mercê porá em execução logo que se lhe apresentar o Condutor delas Achiles Le Nois, ou pessoa da sua parte, não havendo perigo, ou cheias, que o prognostiquem: neste caso deverão tais maquinas esperar tempo favorável. Deus guarde vossa mercê.

...Em lugar das cinco Canoas que Vossa Mercê me pediu pela sua de 18 de setembro de 1827, mandei doze para prestar-lhe o auxilio que Excelentíssimo Governo desta Província me Ordenou prestasse e fizesse prestar pelas Divisões de Meu Comando para a subida das importantes Maquinas de Mr. de Monlevade, guarnecidas as Canoas com os respectivos Canoeiros e víveres e até para vossa mercê mandei o que me pediu...

...Voltando destes negócios aos do Rio Doce, tenho de Participar à Vossa excelência que em execução de hum despacho do excelentíssimo ex-presidente desta província , Visconde de Caethé, datado de 13 de marco deste ano, à requerimento do Capitão Felix de Monlevade, em que me é ordenado auxiliar e fizesse auxiliar pelas Divisões de meu comando a entrada pela Barra daquele Rio de suas maquinas, que pelo seu peso não tinham outro método de introduzir em Minas, mandei construir pelos soldados 12 canoas para esse fim e as fiz descer no meado do passado para o seu transporte aos Porto de Canoas, sobre o aviso que tive pelo Correio da saída daquelas Maquinas, a 18 de setembro do Porto do Rio de Janeiro em sua Sumaca comboiada por duas pequenas Embarcações de Guerra; mas duas canoas do Comércio chegadas proximamente a Antonio Dias-abaixo, do beira mar não dão noticias daquela Expedição, o que me dá inquietações, pois sobrara tempo para haverem ali chegado...

...As Maquinas para a Fábrica de Mr. Monlevade mencionadas no meu ofício de 16 de dezembro do ano expirado e que julgava perdidas vem em fim subindo pelo Rio Doce e foram encontradas pelo acima referido Comerciante no Sítio da Madeira Gigante entre Linhares e as Escadinhas...

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