



Na data de 19 de abril de 1828, o jornal ouropretano
O Universal publicou entusiasmada carta remetida por Guido Thomaz Marlieri,
dando conta da chegada da máquina a vapor para a Fábrica de Ferro de Jean de
Monlevade, a qual transcrevo a seguir, em português da época, exatamente, como
na original:
RIO DOCE.
CORRESPONDENCIAS.
Sr. Editor do Universal.
Ouropreto
18 de abril de 1828.
Queira
vm. em ocasião opportuna inserir no seu prestante Periodico a noticia não pouco
interessante para esta Provincia, que acabo de receber, de haverem
chegado a salvamento á 8 do corrente no Porto da Onça Pequena abaixo d‘Antonio
Dias humas máquinas cilindricas, para a Fabrica de Ferro de Mr. de Monlevade
(*) no sitio do seu nome na Freguezia de S. Miguel, do pezo de perto de 500
arrobas (7.500 Kg )
vindas d’Inglaterra por Êscala ao Rio de Janeiro, donde sahirão á 18 de
Setembro do anno p. p. em
huma Sumaca (pequeno barco de dois mastros) para a costa do
Espírito Santo em que tiverão demora talvez por temor dos corsários, e falta de
Embarcações pequenas para transportar tão pesadas maquinas á Barra do Rio Doce,
pelo qual subirão até o Sitio do Pau Gigante, muito abaixo das escadinhas, e
forão recebidas as Cargas em Canoas militares da 6ª Divisão guarnecidas de bons
Canoeiros, todos soldados habilmente dirigidos pelo Sargento da mesma
Manuel Antonio, auxiliados nos Varadouros por outros Soldados e Índios
Botocudos, e que independentemente do auxilio ordenado prestassem ás
outras divisões estacionadas no Rio Doce, quizerão conduzir pessoalmente as
Cargas ao sobredito Porto da Onça Pequena, no Piracicaba. O auxilio que por
ordem deste Governo dei a Mr. de Monlevade (que bem lho merece) foi prestado
galantemente.
Nota de
quem nos remetteo a Carta (*) Sr. de Monlevade, que he quase nosso Compatriota,
por ter-se cazado com huma ilustre Brasileira, e residir á muitos anos no
Brasil; He aquele mesmo que gratuita , e espontaneamente foi ás Minas do
Abaithé, apurou e remetteu mais de 600 (9.000 Kg ) arrobas de
chumbo, e dellas extrahido nesta Cidade huma porção de finíssima prata que se
apresentara no Rio de Janeiro pelo Ex.mo Sr. Visconde de Caethé. Tudo isto fez
o Sr. De Monlevade com módica prestação pecuniária da Fazenda Pública, e entregou
o restante logo que aqui chegou. Bem haja este sábio Francez que tão relevante
serviço fez ao Brasil; outro tanto não fizera algum dos que gritam contra a
admissão dos Estrangeiros. Os profundos conhecimentos metalúrgicos que possue,
coadjuvados com a grande Maquina, que recebera da Inglaterra, nos darão em
pouco tempo uma Soberba Fábrica de ferro, tão necessária á exploração das
Minas, e aos trabalhos rurais
Sem
custo da Nação, pelos intrépidos Canoeiros da 6ª. Divisão e o seu benemérito
Alferes Commandante Joaquim Rodrigues de Vasconcellos, que pela sua actividade,
zelo do bem publico, e da Civilização dos Índios, merece os agradecimentos da
sua Pátria, e recompensa de S. M. O IMPERADOR, que mais de huma vez tem
premiado as virtudes de vários Soldados da 6.ª Divisão do Rio Doce, por
salvarem de naufrágios á muitos Brasileiros naquelle Soberbo Rio, cuja
navegação, cultura, e commercio dezejamos ver animados pelo Corpo Legislativo,
e o mesmo AUGUSTO SENHOR.
Sou com
muita estima –Sr. Editor-
De vm.
Attento Venerador.
O
Coronel Commandante das divisões Militares do Rio Doce, e Director Geral dos
índios.
Marlieri
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