O Martelo-Vapor de Monlevade, peça histórica de valor
inestimável, desconhecida de quase a totalidade dos munícipes, encontra-se hoje
exposto no Museu do Aço e do Ferro mantido pela Arcelormittal.
Ele foi fabricado na Filadélfia, EUA, provavelmente em 1890 e
é resultado de um grande investimento realizado pela Companhia Nacional de Forjas
e Estaleiros na metalurgia local a partir de 1891, quando a Fábrica de Ferro
Monlevade passou por uma completa transformação estrutural, a cargo do
engenheiro Francisco Monlevade, neto do patrono do Município. Abandonou-se o
local onde funcionaram as duas primeiras Fábricas de Ferro, que utilizavam a
água do Córrego Carneirinhos, etc, para mover os primeiros martelos de forja,
laminadores, etc e se localizavam onde hoje é a Rua dos Contratados, logo
abaixo do Solar Monlevade, e foi construída uma imponente e, incrivelmente,
moderna oficina, onde hoje é o Bairro Jacuí, na margem esquerda do Rio
Piracicaba, cujas águas passaram a ser empregadas no processo produtivo da
metalurgia local, não apenas para abastecimento da caldeira das máquinas a
vapor, como também para gerar a força motriz de uma série de outros
maquinismos. O Martelo-Vapor de Monlevade é de duplo efeito, isto é, seu
poderoso pistão a vapor tanto impulsiona o levantamento do malho como o impele
para baixo, aumentando consideravelmente seu golpeamento de forja. O peso de
seu malho é de 1,5 tonelada. O curso de malho é de um metro. Além de esbravejar
e bufar, o Martelo-Vapor ainda apitava como uma locomotiva. Há registros de que
as duas primeiras Fábricas de Ferro Monlevade produziam e entregavam peças de
ferro de mais de 900 quilos de peso para as Minas de Ouro do Gongo Soco e do
Morro Velho. Um Martelo-Vapor equipado
com malho de uma tonelada e meia atesta que a Fábrica de Ferro de Francisco
Monlevade se encontrava apta a produzir peças de ferro ainda maiores, também
para atender ao setor da mineração do ouro.
Outro fato muito relevante sobre o Martelo-Vapor de Monlevade
é que o equipamento, tecnicamente, estabeleceu o fim da escravidão na
metalurgia local. Durante 60 anos, as duas primeiras Fábricas de Ferro
Monlevade funcionaram mediante o emprego de mão de obra escrava. Em 1853,
quando se preparava para desativar a Fábrica Velha, que já havia funcionado por
25 anos, e se organizava para iniciar o funcionamento da Fábrica Nova,
Monlevade registrou que seu estabelecimento industrial contava com 150 escravos,
treinados por ele próprio, entre eles, ótimos mineiros, forneiros, ferreiros,
carvoeiros, carreiros, pedreiros, marceneiros, telheiros, arrieiros, etc. Durante
toda a história antiga da humanidade houve escravidão. Trabalho remunerado é coisa
da modernidade, que se inaugura, justamente, com o advento da máquina a vapor. É
um absurdo, mas significa dizer que foi o advento tecnológico da máquina a
vapor que, tecnicamente, viabilizou o fim da escravidão. E é o que também
representa, localmente, o Martelo-Vapor de Monlevade: o fim da escravidão. Veja
que em 1891, ou seja, apenas 03 anos após a Abolição da Escravatura, a Companhia
Nacional de Forjas e Estaleiros já inicia os investimentos para a modernização
da metalurgia local, o que engloba a aquisição, o transporte e a instalação do
Martelo-Vapor, etc, na Fábrica de Ferro de Francisco Monlevade, que, ao
contrário das duas primeiras fábricas da Família Monlevade, passa a empregar
mão de obra assalariada, ao invés de escravizada.
Como se vê, apesar de quase totalmente desconhecido dos
munícipes, o Martelo-Vapor de Monlevade, atualmente, exposto no Museu do Aço e
do Ferro possui imensa relevância histórica para o processo tecnológico que
colocou, tecnicamente, um fim na escravidão local, tratando-se ainda, de único
do gênero em Minas Gerais, possivelmente a primeira máquina a vapor a forjar peças a partir do ferro brasileiro, aparato de desenho arrojado e funcionamento curioso,
que, caso venha ser restaurado e reabilitado para demonstrações de
funcionamento no Museu, pode atrair muitos turistas para o Município, com suas
bufadas de vapor, os golpes de estremecer o chão e seu apito rouco-estridente,
que outrora ecoou pelo Vale do Rio Piracicaba. Ou simplesmente, pode inspirar as
novas gerações, como mais um símbolo do Município a representar o advento
tecnológico, suas transformações e a evolução do pensamento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Ofensas e denúncias infundadas serão riscadas ou excluídas a critério do autor do Blog. Obrigado pelo comentário.