O Brasil tem pouco menos de 210 milhões de habitantes. Destes,
menos de 1% é de ricos; cerca de 20% são de classe-média e mais de 70% da
população são de pobres e de uma categoria, especificamente, muito brasileira
em termos quantitativos que é aquela representada pela imensa massa de
excluídos que vivem nos guetos invisíveis chamados de favelas, trapiches ou
palafitas, onde ninguém tem acesso aos bens e serviços do Brasil. Das 10
maiores economias do mundo o Brasil é a única que, deliberadamente, exclui mais
da metade de sua população. É também o Brasil o que possui a menor
classe-média. Então, é óbvio que a inversão da pirâmide social brasileira é
condição indispensável para que o Brasil possa explorar todo o seu potencial
econômico e social a fim de assumir o seu destino de figurar, em todos os
sentidos, como a maior potência do globo, dado o tamanho imensurável de suas
riquezas culturais e naturais, além da vastidão fertilíssima de seu território
. Mas, não é o que pensa a classe-média brasileira, se é que ela pensa alguma
coisa.
Recendente, quando o Brasil alcançou o posto de 6º economia do mundo, sua
classe média apresentou um salto expressivíssimo, passando a mais de 50% da
população, o que transformou o país no 4º mercado de automóveis do mundo e um
dos maiores de celulares, computadores, televisores, etc, etc. E o que fez a
classe-média Brasileira? Recentiu-se e foi para as ruas derrubar o governo.
Sabe-se que, como tudo no Brasil, a classe-média também não é homogenia. Ela
também tem seus setores progressistas. Contudo, não se pode negar que o
bolsonarismo vigente é majoritariamente instruído pelo ressentimento de uma
classe-média que se sentiu ameaçada de seus privilégios ao ver a ascensão de
pobres e excluídos, porque, no Brasil, o que deveria ser direitos de todos, na
verdade, é privilégio de uma diminuta classe-média.
E ela merece mesmo muito estudo, pois a classe-média brasileira não é de fácil
compreensão. Apesar de, historicamente, deter o monopólio de acesso às melhores
universidades do país, que são as públicas, ela tem feito muito mal uso de
privilégio, pois não domina os conceitos básicos do que venha a ser comunismo,
não tem a menor formação humanista e não se reconhece como fascista. E ainda
arroga para si um sentimento meritocracia. Existe meritocracia apenas quando a
classe-média concorre consigo mesma por uma vaga na universidade. Quando ela
concorre com o estudante excluído, que vive num dos inúmeros guetos
brasileiros, não há meritocracia porque a disputa não é em pé de igualdade. É
preciso ter acesso aos bens e aos serviços do Brasil para se preparar o
suficiente a fim de conquistar uma vaga nas universidades, daí a necessidade
das cotas, o grande pesadelo recente da classe-média brasileira. E neste
particular, costumo dizer que a hipocrisia da classe-média termina na
quarta-feira de cinzas. Durante os quatro dias de carnaval, que é a maior festa
do país, a classe-média compõe blocos na rua para dançar o samba, fantasia-se
de baiana, de índio, come o acarajé, toca tambor a noite toda, flerta com
Iemanjá, se diverte, celebra o país, festejando e abraçando tudo que nos faz
brasileiros e também tem sua origem na África, etc, apenas até chegar a
quarta-feira de cinzas. A partir daí, de um dia para o outro, a classe-média já
acha estranho ver o negro na universidade, no hotel, no aeroporto, no
restaurante, no carrão, etc, etc. É muita hipocrisia! E olha que a classe-média
brasileira é bem mestiça. Tem muito sangue de índio e, como tudo no Brasil, não
pode fugir da mãe África. Aqui em Minas Gerais, por exemplo, todos temos uma
bisavó que é negra do Congo ou de Angola, além das de outras nações. A outra
bisavó é índia. Um bisavô é português e os demais são uma mistura do índio com
o branco, com o negro e vice e versa. Mas, é óbvio que a classe-média não tem
esta consciência genética, como também não pratica o conceito científico de que
não há supremacia entre raças. Como nas novelas, tudo é conduzido pelo ódio,
pela raiva, pelo ciúme e pela inveja. A ciência já era, a Terra voltou a ser
plana. Também não comungam dos tratados políticos que estabelecem a igualdade
entre as pessoas. Estes racistas devem passar a vida, contrariados neste
Brasil, já que tudo que nos faz brasileiros veio da África e aqui se misturou
ao que era do índio e ao que foi trazido por Portugal, criando algo novo no
mundo. Por exemplo, o samba é de indiscutível matriz africana. Mas, não há
samba na África. A capoeira também é de origem africana. Mas, não há capoeira
na África. O quiabo veio da África. Mas, não existe o prato de Frango com
Quiabo, servido com angu e pimenta malagueta na África. E é assim com quase
tudo. Não se pode definir uma raça para o Brasileiro. Se me chamam de mulato,
que é o híbrido do negro com o branco, deixam de considerar meu sangue
indígena, o que eu não aceito. Se me chamam de cafuzo, que é o híbrido entre o
negro e o índio, deixam de considerar meu sangue lusitano, o que eu não
permito. E se me chamam mameluco, que é o hibrido ente o índio e o branco,
deixam de considerar meu sangue negro, o que também eu não admito. Então, exijo
que me chamem apenas de brasileiro que é o que representa, justamente, o que
sou: a mistura destas três matrizes identitárias. O racista, na verdade, é um
grande preguiçoso, pois inventa essa babaquice de supremacia branca para explorar
o trabalho do semelhante, seja escravizando ou pagando salários de fome. É
também um grande entrave à implantação da Democracia já que se acha melhor do
que os outros, o que fere de morte o princípio basilar democrático de que todos
nascem livres e iguais. A verdade é que pela Democracia a classe-média não
nutre apreço algum. Está sempre pedindo o fechamento do Parlamento, do Supremo
Tribunal Federal e pedindo intervenção das forças armadas e ainda estufa o
peito para proclamar que odeia a política. Em grande medida, esta classe-média
é, fortemente, influenciada pela Rede Globo, toma os enredos das novelas
globais como parâmetro de vida e, portanto, também é muito oportunista, vivendo
de tirar vantagem do Brasil, ao sinal da menor oportunidade. O parâmetro ético
da classe-média é, exatamente, o mesmo da novela das 9 da Rede Globo, ou seja,
nenhum, E como não poderia deixar de ser, é aficionada por futebol e,
extremamente, corrupta, já que é ela quem também ocupa os cargos públicos
governamentais providos por concurso, onde a corrupção roda solta.
É tão alienada que ainda se considera rica. É por isso que ela se recente. É
que a classe-média só pode se sentir rica diante da miséria absoluta da
exclusão. Ela só é rica diante de quem vive nas favelas, excluído,sem
ordenamento, sem arruamento, morando em barracos de tapumes, sem acesso regular
aos serviços de abastecimento de água, de energia, de recolhimento do lixo, de
esgoto sanitário, saúde, educação de qualidade, cultura, etc, etc. A
classe-média não compreende que no Brasil a gente não topa com rico na rua.
Eles vivem no exterior, em lugares como Mônaco, torrando o resultado do
rentismo e só vem ao Brasil no fim de ano, ficando até o carnaval. Depois
somem, para seguir parasitando a pátria. Somente em 2014, o Brasil pagou 900
bilhões de reais para cerca de 10 mil credores de uma dívida, cujo memorial de
cálculo é desconhecido. Deu uma média de 90 milhões para cada um, sem que
nenhum deles produzisse sequer um parafuso para a nação. Estes são os ricos do
Brasil. Não conheço nem nunca vi nenhum deles. Os demais são no máximo
classe-média alta. Também não compreende que o processo de interrupção de
transferência de renda ocorrido em 2014 foi péssimo para a classe-média. Ela se
empobreceu. Experiência das ultimas 4 décadas na Coréia do Sul revela que
quando há uma alargamento da classe-média, ela se enriquece como um todo e quem
era classe-média tende a se tornar classe-média alta. Mas, não quiseram assim.
A classe-média brasileira dá esmola, mas não aceita a ascensão social.
A verdade é que estamos muito ruins de classe-média. A depender dela, o Brasil
jamais explorará todo o seu potencial econômico e social enquanto país. Aliás,
o que se pode dizer é que a classe-média brasileira não tem projeto algum de
nação para o Brasil. Precisamos pensar em uma nova classe-média para o Brasil,
muito mais humana e racional. É preciso retirar os privilégios da classe-média,
sobretudo, o de acesso as universidades públicas, pois ela não tem aplicado no
dia-a-dia o que nelas é lecionado . É dinheiro público jogado fora, sem o
retorno esperado para a sociedade. Abaixo o fascismo classe-média brasileiro!