quinta-feira, 26 de agosto de 2021

O Relatório de 1853 de João Monlevade

Infelizmente, quando a Companhia Nacional de Forjas e Estaleiros encerrou suas atividades no Rio de Janeiro, a Biblioteca e os inúmeros arquivos e registros gerados por quase um século de funcionamento da Fazenda Carvoeira, Mina e Fábrica de Ferro Monlevade foram extraviados para a capital fluminense, encontrando-se ainda hoje em local incerto e desconhecido. É imensamente frustrante não poder contar com tais documentos para se aprofundar mais sobre a tão negligenciada história da maior e mais importante Fábrica de Ferro a funcionar no Brasil Império. 
Contudo, como Monlevade foi a principal autoridade metalúrgica do Brasil, durante o sec. XIX, é possível encontrar muitos registros a seu respeito em coleções de outras personalidades históricas que lhes foram contemporâneas. É o caso do Relatório de 1853, redigido pelo próprio Monlevade a pedido do governador de Minas, Diogo de Vasconcelos, e disponível para consulta no Arquivo Público Mineiro na respectiva coleção. No referido relatório, Monlevade responde, como a maior autoridade metalúrgica que era, a cinco quesitos formulados pelo governador de Minas. 
Trata-se do principal documento hoje disponível sobre a Fábrica de Ferro Monlevade, instalada a partir de 1828. Também é considerado o primeiro registro histórico sobre a imensa riqueza ferrífera de Minas Gerais já que nele Monlevade deixou registrado que “na Província de Minas, além de inúmeras camadas de mineral de ferro, mais ou menos extensas, existem cinco principais cordilheiras; e pode-se afirmar que uma só delas encerra mais ferro do que todas as da Europa reunidas, atendendo não somente a sua extensão e poder, como a riqueza do mineral, o mais rico que se conhece; pois que analisado quimicamente contem 76 % de seu peso em ferro”. O documento ainda traz uma pormenorizada descrição sobre a primeira e a segunda Fábrica de Ferro Monlevade, revelando os principais serviços do estabelecimento, os mercados consumidores, a construção de pontes e estradas, a utilização dos carretões de quatro rodas, puxados por muitas juntas de bois, o transporte de peças de ferro forjado de mais de 900 quilos de peso para o Gongo Soco e o Morro Velho, o trânsito de numerosas tropas, o principal produto da fábrica, aspectos importantes da força de trabalho escrava, a utilização da água do Ribeirão Carneirinhos para a movimentação dos martelos, ventiladores dos fornos, laminadores, engenhos de serra, moinhos e muito mais. 
É um documento que vale a leitura pelo português impecável com que fora redigido, apesar da ortografia arcaica, e, sobretudo, por se tratar da voz do próprio Monlevade. O Relatório é datado de 12/12/1853. O mês de dezembro é especialmente chuvoso. Acredito que naquele dia Monlevade deve ter se levantado bem cedo, como de costume e, fazendo sua rotineira inspeção matinal a partir das quatro faces avarandadas do Solar homônimo, viu a dificuldade que aquele aguaceiro todo impunha aos principais serviços do estabelecimento e deve ter pensado “para não perder o dia, vou redigir as respostas encaminhadas pelo governador”. Publico a seguir, com exclusividade, o Relatório de Monlevade de 1853, o mais importante documento histórico hoje disponível sobre parte da grandiosa obra do patrono do Município (clique sobre a imagens para dimensioná-las à leitura):




 

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