terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Monlevade: a Meca dos Tropeiros

 

Não houve outro estabelecimento tão bem quisto, afamado e útil para as tropas de toda a região quanto a Fábrica de Ferro de João Monlevade. Ela foi a Meca dos Tropeiros!  Será preciso cunhar a expressão “tão feliz quanto um tropeiro em Monlevade”.

A Fábrica de Ferro Monlevade instalada a partir de 1828 foi por mais de 50 anos a felicidade geral dos tropeiros . Poucos estabelecimentos atraiam tantas tropas quanto ela e os motivos eram os mais variados.  Na fábrica, os tropeiros podiam adquirir os melhores  cravos e as mais duráveis ferraduras, além das ferramentas de ferrar (catálogo anexo). Nela, os tropeiros também podiam ferrar toda uma tropa em pouco tempo. Muitos tropeiros, vindos das mais diversas regiões de Minas Gerais, viviam de revender ferraduras, cravos e vários outros artefatos produzidos na fábrica. Neste sentido, é preciso recordar que do Solar Monlevade partiam para todas as direções seis ramos de estradas carroçáveis.  Praticamente, toda a produção de artefatos menores de ferro forjado, tais como pregos, cravos, enxadas, foices, machados, fechaduras, dobradiças, etc, etc,  era escoada través das tropas.  As tropas também eram atraídas pelas pontes mantidas por Monlevade sobre os rios Santa Bárbara e Piracicaba.  A Fazenda Carvoeira e a Fábrica de Ferro Monlevade ainda possuíam suas próprias tropas. No Relatório de 1853, Monlevade registrou que entre seus escravos existiam “ótimos arrieiros”, que eram aqueles que lidavam com as tropas. Sobre as tropas, Monlevade ainda registrou, expressamente:

“Em fim este lugar outrora inteiramente deserto, está muito freqüentado pelas numerosas tropas carregadas de mantimentos que vão para a mata e saem dela, assim como por outras que tem negócios com a casa, todas se aproveitando das estradas, e no tempo de seca de uma das pontes que franqueei ao público”.


 Certamente, a Fábrica de Ferro Monlevade também deveria exercer especial fascínio sobre os tropeiros que por ela passavam, pois ali, naquele estabelecimento, além de uma integração muito íntima com o tropeirismo regional, os tropeiros ainda podiam observar a curiosa arte do ferro como em nenhum outro lugar. Deveria ser, realmente, fascinante para aqueles homens xucros testemunhar o imenso esforço dos mestres-ferreiros de Monlevade em, por exemplo, forjar um aguilhão incandescente de uma tonelada de peso no martelo hidráulico ou mesmo fazer brotar uma tesoura de uma pequena porção de ferro em brasa, recém tirado do forno. Era o mais perto que se tinha de brincar de Deus, no sentido respeitoso de se criar algo a partir de uma substância intocável que é o ferro em brasa.   Sem dúvida, os tropeiros foram os maiores colaboradores e as maiores testemunhas da obra do metalurgista e minerálogo João Antônio de Monlevade.        


segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Tragédia foi dentro da Sesmaria de João Monlevade


 

O trágico acidente que vitimou 19 pessoas, depois que um ônibus despencou da Ponte Torta, na rodovia 381, ocorreu dentro da Sesmaria de João Monlevade.

Ao lado da Fábrica de Ferro fundada a partir de 1828, funcionou a Fazenda Carvoeira de João Monlevade, composta por quatro sesmarias de terra cobertas de mata fechada. Ela produzia pelo menos cinco toneladas diárias de carvão vegetal que eram consumidas pelos diversos fornos da Fábrica de Ferro. Eram duas as carvoarias, uma de cada lado do Rio Piracicaba, cujos acessos se davam por meio de duas pontes lançadas sobre o mesmo. O ônibus, ocupado por quarenta e oito passageiros, oriundo de Mata Grande, nas Alagoas, e com destino a São Paulo capital, despencou, tragicamente, dentro da histórica sesmaria de mata de João Monlevade, na margem esquerda do Rio Piracicaba, ao lado da rota dos tropeiros, e, praticamente, sobre o leito da ferrovia Vitória-Minas. Apesar do número absurdo de vítimas fatais, a tragédia poderia ter sido ainda maior se o ônibus tivesse caído dentro do Rio Piracicaba (lago da Hidrelétrica do Jacuí) ou sobre os vagões de alguma composição da ferrovia Vitória-Minas em movimento ou até mesmo sofrendo uma colisão frontal com o trem.    

Em João Monlevade os sobreviventes puderam contar com uma grande estrutura de resgate e assistência, representada pelo SEVOR (Serviço Voluntário de Resgate), pelo pronto-socorro médico do Hospital Margarida, pelo acolhimento no Albergue Municipal, além da mobilização de doações. Quarenta minutos após o momento do acidente todos os sobreviventes já haviam sido resgatados e encaminhados para o Pronto Socorro do Hospital Margarida.   

Agora, se o Brasil fosse um país sério onde a vida humana, realmente, tivesse algum valor, as autoridades providenciariam, com urgência, a mudança da amureta da Ponte Torta para uma mais moderna como aquelas que podem ser vistas no traçado já duplicado da rodovia 381 e são capazes de conter o veículo, mesmo os grandes, no leito da pista, impedindo a sua queda, de modo a que nunca mais uma tragédia como aquela pudesse ocorrer novamente na Ponte Torta .  É o que acontece nos países sérios, depois de uma tragédia.  A lição que fica é a de respeito às regras de segurança e a necessidade de  se agir com perícia e responsabilidade no trânsito sempre e ainda mais ao se transportar 48 almas. É a pior tragédia da história do Município. 

Em 2020, as tragédias são em âmbito global, nacional, regional e municipal.