terça-feira, 9 de abril de 2019

João Monlevade, o Barão de Eschwege e a difundida tecnologia romana de mineração do ouro

    

  







Ainda não encontrei documento que pudesse associar ou vincular, diretamente, o Barão de Eschwege e ao minerálogo e metalurgista francês João Antônio de Monlevade. Contudo, o legado de um está diretamente ligado à obra do outro. E como ambos são egressos da grande leva de naturalistas e de estudiosos que se seguiram à transferência da corte portuguesa para o Rio de Janeiro em 1808, é muito provável que tenham mantido certa interação técnica. 
O Barão de Eschwege era alemão e de mesma formação técnica de Monlevade. Chegou ao Brasil em 1810, encarregado por Dom João VI de “reanimar a decadente mineração do ouro e a trabalhar na nascente indústria siderúrgica”. Eschwege realizou muitos estudos mineralógicos em Minas Gerais e fundou, em Ouro Preto, uma fábrica de ferro, denominada Patriótica e considerada a primeira do país. Entretanto, para Monlevade, mais importante do que os estudos e o pioneirismo de Eschwege, foi a tecnologia introduzida por ele em Minas Gerais. Tratava-se uma grande roda d’água, acoplada a um eixo giratório que transmitia a força necessária para erguer uma série de pilões de madeira, cujas as bases eram pesados blocos de ferro . O eixo girava, erguendo os pilões que , com meia volta, perdiam o apoio e, por gravidade, caiam sobre a rocha, triturando-a , num movimento de sobe e desce contínuo. Também chamado de Engenho de Eschwege, tal tecnologia se difundiu muito pelo território mineiro, sendo adotada principalmente pelas companhias de mineração inglesas que se fundaram às dezenas em Minas a partir de 1825, o que demandou pela produção de muito ferro. E é neste ponto, que entra Monlevade. Durante os mais de 50 anos que sua fábrica de ferro funcionou sob seu comando, Monlevade foi o fornecedor preferencial de uma série de artefatos de ferros para as companhias inglesas de mineração do ouro e, principalmente, o fornecedor exclusivo das cabeças de ferro dos trituradores do Engenho de Eschwege. 
Para se ter uma ideia do aprimoramento tecnológico que representaram os moinhos de pilões de Eschwege, apenas a Mina do Gongo Soco, depois de julgada esgotada diante das técnicas rudimentares de mineração do ouro até então utilizadas, foi vendida em 1826 para os ingleses que nela passaram a empregar intensivamente a tecnologia do Engenho de Eschwege, fazendo com que apenas nos 12 anos seguintes, o Congo Soco produzisse nada menos do que 15 mil quilos de ouro puro, ou seja, 5 quilos de ouro por dia. 
Todavia, a tecnologia então introduzida por Eschwege em Minas, apesar de encarada como uma novidade pelos os mineiros, não era tão nova assim. O Moinho hidráulico de pilões já havia sido amplamente utilizado no norte de Portugal , na região das Tresminas, há mais de 2.000 anos, quando o território português se encontrava sob o domínio do Império Romano. 
Durante a antiguidade, as Tresminas foram um dos mais importantes complexos de mineração aurífera de todo o Império Romano, produzindo ouro para a cunhagem de moedas. E naquele tempo, Roma já empregava com sucesso o Engenho de Pilões, movido por roda hidráulica para também triturar o quartzito retirado das galerias subterrâneas, antes da lavagem do metal precioso, o que aumentava muito o rendimento das minas. A diferença estava apenas no tamanho dos maquinismos e no material empregado nas cabeças dos pilões. Enquanto os engenhos das Tresminas eram menores e utilizavam blocos de granito nas cabeças dos trituradores para esmagar a rocha aurífera, os engenhos de Eschwege eram muito maiores, muito mais pesados e utilizavam blocos de ferro de 80 quilos produzidos por Monlevade para o mesmo fim. 
No Museu do Ouro em Sabará existe exemplar do Engenho de Eschewege (fotos) que, apesar do mau estado de conservação, permite um vislumbre desta tecnologia romana de processamento do ouro que tanto se difundiu por Minas Gerais, a partir do primeiro quartel do sec. XIX. Este exemplar operou por 50 anos na região de Santa Bárbara. Nas fotos, é possível verificar que um dos blocos de 80 quilos de ferro forjados na Fábrica de Ferro de Monlevade se soltou do corpo de madeira do pilão, o que permite observar que o mesmo possui um cabo de encaixe. Vê-se também muito desgaste dos blocos, o que demonstra o quanto o trabalho de trituração era duro, demandando substituição contínua dos mesmos para felicidade de Monlevade que as produziu em escala industrial por mais de meio século.


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