Recentemente foi inaugurado um busto de bronze na Praça Sete
de Setembro, a mais movimentada do Município. A cerimônia contou com a presença
do prefeito, logo a instalação do busto em plena praça pública foi autorizada
pelo chefe do Executivo.
Não vou citar o nome do homenageado nem da família dele que,
é bom que se esclareça, pagou pela feitura do busto de bronze. Tanto é que
optei por ilustrar esta postagem com uma foto do busto de costas. O objetivo
desta matéria é demonstrar a incapacidade político-científica do gabinete do
prefeito que, ao invés de se mover imbuído por causas públicas o faz com base
em questões pessoais e domésticas.
Logo que vi o busto instalado na praça e soube de que se
tratava, entrei em contato com o chefe de gabinete do prefeito, Gentil Bicalho,
que tem parentesco ascendente direto com o homenageado pelo busto, e perguntei
o que motivava a homenagem na praça pública. Ele então me disse: “pessoas que
tiveram participação efetiva na construção de nossa cidade, deveriam ser
lembrados (sic) para sempre”. Então perguntei: desculpe minha ignorância, mas quais
foram as participações ou realizações efetivas do homenageado na construção de
João Monlevade? Ele não soube me responder, disse que verificaria com outro
parente e não me retornou. Posteriormente, voltei a entrar em contato com ele
que ainda hoje não me respondeu.
Acredito que o homenageado deva ter sido um pai maravilhoso,
um avô excepcional e merecedor do busto. Contudo, relações domésticas de
parentesco não podem autorizar a instalação de um busto na praça pública mais
movimentada do Município. Monlevade foi construída por muitas famílias. A
pergunta que não se cala é a seguinte: o busto foi instalado na praça porque o
homenageado foi uma grande personalidade pública do Município ou ele foi instalado
porque se trata de um parente do chefe de gabinete do prefeito? E agora, diante
deste precedente e considerando que o povo monlevadense é constituído por
muitas outras famílias, será que todas elas também estão autorizadas a instalar
um busto de seu patriarca na praça pública?
Enquanto isso, no ano de 2027, ainda no mandato de Laércio,
completar-se-ão os 200 anos da fixação de engenheiro e metalúrgico francês João
Monlevade na sesmaria que daria origem ao Município; 200 anos do início da Expedição Monlevade
pelos rios Doce e Piracicaba que transportou para cá as máquinas para sua
pioneira Fábrica de Ferro e 200 anos do início da construção do Solar
Monlevade. O João Monlevade foi a maior autoridade metalúrgica de Minas Gerais
durante o século XIX e sua bem sucedida experiência industrial de produção do
ferro a partir do carvão vegetal foi determinante para a instalação da Belgo-Mineria
um século mais tarde. Não é por menos que o Município leva o seu nome. E não há
nenhum busto ou estátua do francês João Monlevade instalada na Praça Sete ou em
qualquer outro ponto da cidade. Quis o destino que Laércio fosse prefeito na
data de comemoração dos 200 anos da fixação de Monlevade no Município. Contudo, a depender do gabinete de Laércio, já
é possível antever que diante deste marco histórico que se aproxima, não haverá
homenagem nenhuma ao patrono do município. Não haverá estátua de Monlevade; o
Museu e o Solar homônimos não serão entregues para o povo monlevadense e
transformados num museu turístico; os ramos da Estrada Real local não serão
reconhecidos; o Cemitério dos Escravos não será objeto de pesquisa; o parque
histórico da Companhia Nacional de Forjas e Estaleiros também não será
reconhecido; a batata-doce, principal produto agrícola da Fazenda Carvoeira e
Fábrica de Ferro Monlevade também não será objeto do festival gastronômico;
etc.
É o que eu sempre digo, o PT local não faz política
científica, apenas política doméstica de compadres e comadres.