quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

300 Anos de Minas Gerais


No presente ano de 2020, Minas Gerais completará 300 anos de constituição política.
Já no ato de descoberta do Brasil, os portugueses sugerem o que viria a ser uma fixação por metais preciosos, como narra a Carta de Pero Vaz de Caminha. Depois da descoberta pelos espanhóis da montanha de prata do Potosi na Bolívia ainda no sec. XVI, os portugueses passam a nutrir uma verdadeira convicção de que também encontrariam metais preciosos na mesma longitude em terras brasileiras. E, incrivelmente, estavam corretos. No entanto, não seriam eles a encontrar a maior quantidade de ouro já descoberta na superfície do planeta.
Antes da descoberta das Minas de Ouro, muitas expedições portuguesas foram organizadas e enviadas ao interior do Brasil a procura de ouro e prata. As que não foram, completamente, devoradas pelos índios, voltaram em frangalhos, sem encontrar nada, numa desanimadora proporção de dois sobreviventes para cada dez expedicionários enviados ao sertão.
Apesar das inúmeras tentativas, não foram os portugueses os descobridores das Minas de Ouro, mas sim os bandeirantes paulistas, ou seja, as primeiras gerações de brasileiros, um híbrido genético-cultural entre o português e o índio. Um tipo de gente bravia, indômita, que falava o tupi, muito mais do que o português, se alimentava do feijão, do milho, da farinha de mandioca, dormia sobre redes, e, muito embora andassem descalços, jamais pisavam nas jararacas. Retrato muito diferente daquele visto nos livros de história. Nota-se, portanto, que o sucesso na descoberta do ouro só foi verificado depois que o português passou a assimilar a cultura do índio.
Os bandeirantes paulistas descobriram o primeiro ouro em 1695, em Mariana, dentro de seu próprio território. Até 1720, o território que hoje compreende o estado de Minas Gerais era uma extensão da Capitania de São Paulo. É verdade, este chão que hoje pisamos já foi São Paulo um dia.
Assim que circulou a notícia da descoberta de tão ricas jazidas, houve imenso afluxo de pessoas para a região, entre as quais muitos portugueses, pernambucanos, baianos, fluminenses, etc e mais paulistas. Contudo, os bandeirantes paulistas se revelaram avarentos por demais diante de toda aquela fortuna e resolveram monopolizar as Minas de Ouro para si. Recusaram-se a dividir o ouro. Então, os ânimos se polarizaram entre descobridores e os não-descobridores, seguindo-se a uma intensa tensão entre eles. Até que um dia, em Caeté, veio a gota d’água. Um bandeirante paulista desaforou um português, chamando-o de emboaba, que na língua tupi se refere a uma ave pernalta nativa meio desengonçada, em deboche às botas de couro de caneleira longa utilizadas pelos não-descobridores do ouro para proteção contra o ataque das numerosas cobras venenosas do sertão. Houve intenso tiroteio. Assim, eclodiu a Guerra dos Emboabas, que se desdobraria em muitas batalhas e em eventos de emboscadas, revanches e grande morticínio, notadamente, na sugestiva Comarca do Rio das Mortes, atual São João del Rey. O conflito terminou em 1709 com a derrota vexatória dos bandeirantes paulistas, que acabaram expulsos das Minas de Ouro. Com a perda da influência paulista foi, então, fundada em 1711 a Capitania de São Paulo e Minas de Ouro, com capital em Mariana, a Primaz de Minas.
Até que, em 1720, Portugal anuncia a instalação das Casas de Fundição para a quintagem do ouro. Foi o suficiente para convulsionar os mineiros, novamente. O episódio teve grande repercussão e ficou conhecido como a Sedição de Vila Rica ou Revolta de Felipe dos Santos. Felipe foi preso, condenado, enforcado e esquartejado. O Arraial do Ouro Podre, em Vila Rica, reduto da revolta, foi incendiado e arrasado. Diante da tamanha insurreição que se verificou, a Coroa Portuguesa, então, decidiu separar de vez as Minas de Ouro da Capitania de São Paulo, fundando a Capitania das Minas de Ouro e dos Campos Gerais dos Cataguases, transferindo a capital de Mariana para Vila Rica, a fim de exercer maior controle sobre a segunda, devido a sua especial vocação para revoltas.
Curioso notar que quando os termos “minas” e “gerais” foram utilizados juntos pela primeira vez, as minas eram de ouro e gerais eram os campos dos Cataguases, muito embora já se utilizasse em Vila Rica a denominação Minas Gerais do Ouro Preto. O topônimo Minas Gerais somente se oficializaria a partir de 1732 quando o termo passou a ser utilizado nas Cartas Régias.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Ofensas e denúncias infundadas serão riscadas ou excluídas a critério do autor do Blog. Obrigado pelo comentário.