sábado, 18 de abril de 2020

A Maior Descoberta Histórica de João Monlevade nos Últimos Tempos: O Edifício da Companhia Nacional de Forjas e Estaleiros


Você que é leitor do Blog Monlewood tem tido a exclusiva oportunidade de acompanhar a maior descoberta histórica de João Monlevade nos últimos tempos. Trata-se do edifício construído pela Companhia Nacional de Forjas e Estaleiros (foto acima), fundada por Irineu Evangelista de Sousa, o Barão de Mauá, onde, a partir de 1891, funcionou a Fábrica de Ferro de Francisco de Monlevade, neto do patrono do Município. Foi também aqui no Blog Monlewood que você pôde tomar ciência de que, muito distante daquele discurso oficioso circulante, que classifica a Fábrica de Ferro Monlevade como “uma pequena forja catalã, fabriqueta de enxadas”, existiram na verdade três fábricas de ferro dos Monlevade - uma “pequena forja catalã” jamais produziria, em pleno sec. XIX, peças de ferro de mais de 900 quilos de peso e as enviaria para a Mina de Ouro do Morro Velho, a mais de 80 milhas de distância.


A primeira, a Fábrica Velha, que funcionou de 1828 a 1853 e se encontrava instalada onde hoje é a Rua dos Contratados. A segunda, a Fábrica Nova, que funcionou a partir de 1853, tendo o ano de seu encerramento ainda indefinido entre 1872 e 1888 e se encontrava instalada num local mais amplo abaixo da primeira. E a terceira, a Fábrica de Ferro de Francisco de Monlevade (foto), que funcionou de 1891 até a falência da Companhia Nacional de Forjas e Estaleiros e se encontrava instalada, na margem esquerda do Rio Piracicaba, no Bairro Jacuí.  E o mais interessante é que, ao contrário das duas primeiras, cujas ruínas nem mesmo são conhecidas, devido à massiva terraplanagem realizada naqueles entornos para as instalações da Ferrovia Vitória-Minas e da moderna siderúrgica a partir de 1935, o magnífico prédio que albergou a equipadíssima oficina da Fábrica de Ferro Francisco Monlevade ainda se encontra de pé, a funcionar, apesar de alterada a sua destinação. É verdade que aquele prédio em si não é desconhecido do monlevadense, pois muitos trabalharam nele, etc. Contudo, quase ninguém sabe que aquele edifício no Bairro Jacuí foi construído mediante capital da Companhia Nacional de Forjas e Estaleiros, originalmente, para abrigar a Fábrica de Ferro de Francisco de Monlevade, descoberta histórica esta que você apenas pôde acompanhar aqui, no Blog Monlewood. Aliás, a grande maioria do acervo que hoje compõe o Museu Monlevade do Ferro e do Aço, mantido pela Arcelormittal, é proveniente da fábrica de Francisco de Monlevade. 


A extinta Belgo-Mineira aproveitou o prédio da Fábrica de Ferro de Francisco de Monlevade para instalar nele a casa de máquinas da hidrelétrica do Jacuí, que assim funciona ainda hoje.Tal fato jamais foi divulgado pela empresa. Apesar de sua grande importância histórica para o Município, o prédio da Fábrica de Ferro de Francisco Monlevade (imagem de satélite) não é aberto à visitação pela Arcelormittal. Na edição nº 7, de 15 de abril de 1894, da Revista Industrial de Minas Gerais, disponível para consulta no Arquivo Público Mineiro, existe uma completa descrição da Fábrica de Ferro de Francisco de Monlevade, elaborada pelo engenheiro e professor da Escola de Minas de Ouro Preto, Paul Ferrand, que transcrevo a seguir:

"USINA MONLEVADE

Esta usina está colocada à margem esquerda do Rio Piracicaba a 14 km ao N. do Arraial de São Miguel de Piracicaba. Ela pertence à Companhia Nacional de Forjas e Estaleiros desde 1891; sendo anteriormente de propriedade do Sr. João Monlevade. Neste tempo se fabricava o ferro pelo processo direto italiano com dois fornos baixos produzindo diariamente 500 quilogramas de ferro em barras. Hoje ela acaba de passar por uma transformação completa sob direção do Sr. Francisco Monlevade, neto do presidente e engenheiro da Companhia. Foi completamente abandonado o local da antiga forja, estabelecendo-se a nova oficina num lugar mais apropriado aos maquinismos modernos.
A nova fábrica compreende 5 fornos catalães americanos “Bloomary Process”, dispostos em duas fiadas, um martelo a vapor com uma caldeira de vapor horizontal, um laminador para ferros de pequenos perfis, um forno de reverbero a gás para caldeamento das lupas e 4 tendas.
Atualmente trabalham só dois fornos; dois outros estão já montados , e o último se acha em construção. Cada forno faz uma operação em 3 horas ou 8 operações em 24 horas, dando 1 tonelada de ferro em barras; isto é, 125 quilogramas por operação, repartidos em 5 barras quadradas de 6 centímetros de lado, pesando em média 25 quilogramas cada uma. A produção diária total é por conseguinte de 2 toneladas.
Os fornos são munidos de aparelhos de aquecimento do sistema Calder e os gases ainda quentes passam a redor da caldeira que fornece o vapor necessário ao martelo-vapor para se escaparem depois pela chaminé . O aparelho de um dos fornos que não trabalha serve por enquanto para aquecer o vento soprado no gasógeno do forno de caldeamento. Este gasógeno de cuba utiliza como combustível os resíduos em pó e miúdos de carvão de madeira impróprios para o forno. O martelo-vapor é de duplo efeito; seu peso é de 1,5 tonelada e seu levantamento é de um metro; serve para esbravejar (forjar) as bolas e lupas. O laminador serve para espichar as barras quadradas depois de caldeadas no forno de reverbero para obter o ferro em barras de diversos perfis.
As águas passam com uma altura de queda de 16 metros numa turbina horizontal de força de 600 cavalos-vapor. Esta turbina serve por enquanto para mover o laminador e o ventilador Roth que sopra o vento nos diversos fornos, além disso ela servirá para mover diversos outros maquinismos ainda não montados , como um laminador para fabricação de enxadas , máquinas de fazer machados, ferraduras, pregos etc. A oficina, que ocupa uma superfície de 75 metros de comprimento sobre 31 metros de largura, estará completamente acabada no fim de maio próximo , segundo espera o Dr. Francisco Monlevade, encarregado da construção e da direção deste novo e interessante estabelecimento".

   
      




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Ofensas e denúncias infundadas serão riscadas ou excluídas a critério do autor do Blog. Obrigado pelo comentário.