terça-feira, 31 de agosto de 2021

Fábrica de Ferro de Francisco Monlevade não é Aberta à Visitação

 

Sim, é verdade, existe uma Fábrica de Ferro Monlevade de pé. O conhecimento da história é essencial para determinar a forma como o cidadão lida com seu país. No Brasil, quando a história não é escondida, ela é deturpada. A alienação e a deturpação da histórica brasileira são instrumentos de dominação.   

No município de João Monlevade a situação da história local não é diferente. Durante décadas a história de João Monlevade foi, convenientemente, deturpada sob o estigma inventado de “uma pequena forja catalã”. E o que não foi deturpado, foi escondido.   Segundo os documentos históricos, o pioneiro estabelecimento metalúrgico de Monlevade foi a maior e mais importante Fábrica de Ferro a funcionar durante o Império Brasileiro e além, sendo o fornecedor preferencial de artefatos de ferro para as companhias inglesas mineradoras do ouro, como O Gongo Soco e o Morro Velho. “Uma pequena forja catalã” jamais existiu. Na verdade, sob o ponto de vista da estrutura do estabelecimento, as fábricas de ferro Monlevade foram três. A Fábrica Velha, que funcionou de 1828 à 1853, a Fábrica Nova, que Funcionou de 1853 a 1888 e a Fábrica de Ferro de Francisco Monlevade que funcionou a partir de 1891. Nenhuma delas poder-se-ia considerar como pequena, pois foram as primeira a produzir artefatos de ferro e carvão em escala industrial. “Uma pequena forja catalã” jamais seria capaz de prover com artefatos de ferro a operação do Gongo Soco, que foi a mina que mais produziu ouro na história da humanidade.  Também não era uma forja catalã. Catalão era apena o método de obtenção do ferro, que produzia um metal de extrema qualidade, pouco quebradiço e, portanto, ideal para o emprego na mineração do ouro. Os equipamentos de forja das primeiras fábricas de ferro Monlevade eram ingleses e da Fábrica de Ferro de Francisco Monlevade eram franceses e estadunidenses.    E o mais importante é que, ao contrário do que ficou escondido durante décadas, a terceira Fábrica de Ferro Monlevade ainda se encontra de pé.

Trata-se do belo e curioso edifício (fotos) localizado no Bairro Jacuí, onde a Arcelormittal instalou os geradores da Hidrelétrica do Jacuí. Apesar de toda deturpação que paira sobre a história de João Monlevade, algo acaba fugindo ao processo de alienação histórica e escapa à luz. É o caso da interessante fase estabelecimento metalúrgico, quando o meso passou a pertencer à Companhia Nacional de Forjas e Estaleiros do Barão de Mauá. Não é fato histórico desconhecido que a Fábrica de Ferro Monlevade pertenceu à Companhia Nacional de Forjas e Estaleiros. A grande maioria do acervo do Museu Monlevade, por exemplo, é constituída por equipamentos da fase da Companhia Nacional de Forjas e Estaleiros e identificada como tal. Contudo, ate recentemente, não se sabia o que de fato havia ocorrido com o estabelecimento naquela fase. Mas felizmente, a partir do resultado de pesquisa postado aqui no Blog Monlewood, agora se pode saber que na fase da Companhia Nacional de Forjas e Estaleiros foi completamente abandonado o local de funcionamento das primeiras duas fábricas que se situava onde hoje é a Rua dos Contratados, logo abaixo do Solar Monlevade, e construído em alvenaria de pedra, a partir de 1891, na margem esquerda do Rio Piracicaba, no Bairro Jacuí, o sólido, interessante e moderno edifício das fotos. Trata-se de uma construção tão sólida e apta a receber equipamentos industriais que, a partir de 1935 a Arcelormittal instalou nele a casa de máquinas da Hidrelétrica do Jacuí, jamais revelando que ali funcionara a Fábrica de Ferro de Francisco Monlevade. Durante mais de 80 anos a Arcelormittal manteve escondido dos munícipes que o edifício que hoje alberga os geradores da Hidrelétrica do Jacuí foi construído com capital da Companhia Nacional de Forjas e Estaleiros para abrigar a terceira Fábrica de Ferro Monlevade, alienando assim do monlevadense o conhecimento de parte importante de sua história e de sua identidade.

Muito embora hoje funcione como uma usina geradora de força, o edifício da Fábrica de Ferro de Francisco Monlevade deve e pode ser aberto à visitação, pois é o que ocorre com a maioria das hidrelétricas. Trata-se de evidente atração turística, já que, além de carregado de história, o edifício do Jacuí é uma construção como nenhuma outra. Ele se encontra localizado, literalmente, sobre a margem do Rio Piracicaba, apoiado por uma série de colunas arqueadas, por entre as quais a água retorna para o leito do mesmo, depois de passar pelas turbinas.  Seu telhado tem um formato muito curioso e parece uma manta asfáltica. Sobre o teto existem dois grandes exaustores de gazes espiralados que parecem coisa do desenho Os Jetsons. Ele possui ainda vitrais imensos, é super iluminado. Imagina-se como deve ser ainda mais interessante por dentro.  O edifício da Fábrica de Ferro de Francisco Monlevade no Jacuí. Trata-se de monumento histórico  tão importante quanto o Solar Monlevade que foi a morada e a sede administrativa da Fazenda Carvoeira, Mina e Fábrica de Ferro homônima  e que era o único dos tempos dos Monlevade que ainda se julgava de pé no Município. Coisa que também não era verdade. Dos tempos dos Monlevade, ainda está de pé não somente o Solar, como também a última Fábrica de Ferro deles. Esta aí, a Fábrica de Ferro que faltava e que, depois de descoberta, precisa ser aberta à visitação para bem da formação da identidade e até o turismo local.              

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