Monlevade tem cerca de 20 pediatras. Destes, apenas 2 ou 3
se dispõem a dar plantão no Hospital Margarida.
O fato é que a medicina nacional a cada dia se reveste mais
e mais de forte caráter mercantil.
A histórica e já conhecida crise na saúde pública brasileira,
agora, atinge toda a medicina brasileira.
A falta de investimentos públicos dos últimos 25 anos em
novas vagas em cursos de medicina, somada ao forte e, neste caso, míope
corporativismo da classe são a receita da atual crise que acomete toda a
medicina brasileira. Aliás, os últimos a investirem na abertura equacionada
(demanda x oferta) de novas vagas nas universidades de medicina foram os
militares.
É verdade que o país conta com numerosas faculdades de
medicina. Mas, também é verdade que elas não formam médicos em número
suficiente para atender a demanda nacional. Assim, uma demanda crescente por
médicos, conjugada a 25 anos de uma quase estagnação no aumento de novas vagas
nas universidades resulta, inexoravelmente, em escassez de profissionais no
mercado de trabalho e, consequentemente,
em altíssimos salários. O Brasil tem a metade de médicos per capta se
comparado a países como Argentina, Chile e Uruguai (não vou nem citar país de
1° mundo).
Aí, o médico (não são todos, apesar de ser uma realidade
crescente) se esquece do Juramento de Hipócrates, afasta-se da função social da
medicina e só quer pegar o filé. Financeiramente, ele não precisa dar plantão
no Margarida, acompanhar parto às duas da madrugada, porque a falta de
profissionais frente a demanda é tão grande que apenas atuando em seu
consultório sua renda mensal chega a 20 ou 30 mil reais. É o efeito da irrevogável Lei da Demanda e da Oferta que
também atua sob os salários.
Para o bolso do médico essa lógica, evidentemente, é
excelente. Mas, para o cidadão e para a própria medicina brasileira ela é
péssima e desumana.
O lobby dos Conselhos de Medicina em se posicionar contra a
abertura de novas vagas em cursos de medicina e de também atuar,
contrariamente, ao ingresso emergencial de médicos estrangeiros no país tem se
configurado como uma inconsequente reserva de mercado que só faze esvaziar de
profissionais o setor da saúde pública brasileira ao mesmo tempo em que mergulha a medicina
nacional numa profunda crise abastecida por
múltiplos cifrões.
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