sexta-feira, 2 de julho de 2021

Fábrica de Ferro de Francisco Monlevade somou-se à vocação siderúrgica local para fundar a Belgo-Mineira

 

   

Quando o engenheiro luxemburguês Gastão Barbanson decidiu por estabelecer a grande siderurgia na localidade que viria a se tornar o Município de João Monlevade, ele o fizera, sobretudo, em razão da sólida vocação siderúrgica já consolidada no local desde os tempos da Fábrica de Ferro Monlevade. Aqui, Barbanson encontrou o puríssimo minério de ferro da Mina do Andrade, vastas matas para o fabrico do carvão, grande suprimento de água do Rio Piracicaba e o ramal ferroviário da Central do Brasil, então, recém instalado. Contudo, faltava outro elemento crucial para a instalação de uma grande siderúrgica, verdadeiramente, moderna, típica do período entre guerras: a energia elétrica.  É preciso relembrar que corria o ano de 1935 e a Cemig só viria a ser fundada em 1952. Ainda não existia rede de geração e de transmissão de energia elétrica como hoje. Seria necessário, então, produzir a eletricidade em Monlevade.  E foi neste ponto que outra importante vocação industrial local se manifestou para a instalação da Companhia Siderúrgica Belo-Mineira, o Edifício da Companhia Nacional de Forjas e Estaleiros que abrigara a Fábrica de Ferro de Francisco Monlevade.   

Ao aqui chegar para instalar a planta da Belo-Mineira, Gastão Barbanson encontrou de pé não apenas o Solar Monlevade, que havia sido morada e sede administrativa da Fábrica de Ferro homônima (1828), como também o edifício que mais tarde abrigara a Fábrica de Francisco Monlevade, construído pela Companhia Nacional de Forjas e Estaleiros, a partir de 1891. Como já se tratava de edifício, imensamente, sólido, moderno e, especialmente, construído para aproveitar, industrialmente, o potencial hidráulico do Rio Piracicaba, a Belgo-Mineira viu a oportunidade ideal para nele instalar a casa de máquinas da tão necessária hidrelétrica, cuja represa foi levantada pouco mais acima, no Jacuí. O edifício da Companhia Nacional de Forjas e Estaleiros representou meio caminho andado para a Belo-Mineira instalar sua tão indispensável usina de força elétrica e ao lado das demais vocações siderúrgicas locais, certamente, teve seu peso na decisão da escolha de Monlevade como a localidade onde se deveria estabelecer a grande siderúrgica a partir de 1935.

O minerálogo e metalúrgico frances João Antonio de Monlevade casou-se em 1817 na Matriz de Caeté com Clara Sophia de Souza Coutinho, sobrinha do Barão de Catas Altas, e teve com ela dois filhos, João Pascoal e Mariana Sophia.  Mariana viajou para França depois de casar-se e faleceu na Europa pouco depois. João Pascoal jamais herdou a veia metalúrgica do pai. Registros históricos revelam que João Pascoal dedicou-se a atividades voltadas para o setor da saúde, apesar de nunca ter se formado médico. João Pascoal casou-se com Mariana Perpétua Paes Lemes, com quem teve dois filhos, João e Francisco Monlevade.               

Francisco Monlevade, este sim, herdou a veia metalúrgica do avô e formou-se engenheiro, dando continuidade à atividade metalúrgica. Décadas depois da morte do avô, Francisco Monlevade reestruturou todo o empreendimento metalúrgico da família, associando-se à famosa Companhia Nacional de Forjas e Estaleiros do Barão de Mauá, que investiu fabulosa soma na construção do novo edifício e na aquisição de equipamentos industriais importados como o martelo-vapor estadunidense e a turbina hidráulica francesa de 600 cavalos, etc, que se encontram hoje no Museu.

O edifício da Hidrelétrica do Jacuí agrega imensurável valor histórico-cultural para o gentílico monlevadense porque foi construído a partir de 1891 pela Companhia Nacional de Forjas e Estaleiros, sendo o único do gênero em Minas Gerais; porque foi nele que funcionou a terceira Fábrica de Ferro da Família Monlevade, sendo a última ainda de pé e porque foi através dele que se gerou a primeira energia elétrica que iluminou a Vila Operária de Louis Ensch e movimentou todo tipo de equipamento elétrico-industrial, inclusive locomotivas, para o funcionamento da primeira siderúrgica integrada da América Latina, a Belgo-Mineira. 

Na verdade, o Edifício da Companhia Nacional de Forjas e Estaleiros de João Monlevade, localizado no Bairro Jacuí (fotos), segue a gerar energia elétrica para a atividade da siderúrgica local. Certamente, é um dos prédios industriais mais antigos em funcionamento no Brasil. Apesar de sua importância histórica, não se encontra aberto à visitação.             


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