2017 marca os duzentos anos da chegada do Frances Jean
Antoine Felix Dissandes de Monlevade ao Brasil. João Antônio de Monlevade, como
passou a assinar o nome, chegou ao porto do Rio de Janeiro em agosto de 1817,
ingressando, logo após, para Minas Gerais a fim de estudar suas reservas
minerais, por incumbência da Escola Politécnica de Paris.
Monlevade foi autor de importantíssimos feitos na história
de Minas Gerais. É dele, por exemplo, o primeiro estudo da mineralogia mineira
(1853), com o qual delineou o Quadrilátero Ferrífero. Foi ele também o primeiro
a implantar uma máquina a vapor em Minas Gerais (1828), a primeira da Indústria
Brasileira. Sua formidável Fábrica de Ferro foi, de longe, a mais importante do
Império Brasileiro e se distinguiu das demais pela variedade de equipamentos
com que contava e pelos artefatos que produzia, alguns com mais 900 quilos de
peso.
Foi também Monlevade o responsável por viabilizar, decisivamente,
uma importante fase da mineração do ouro em Minas Gerais, inaugurada a partir do primeiro quartel do
sec. XIX pelas Companhias Inglesas que passaram a empregar método industrial na
extração do metal precioso. Era a Fábrica de Ferro de Monlevade que produzia as ferramentas de ferro e os
pesados equipamentos destinados a processar o minério aurífero nas Minas de
Ouro de Gongo Soco, Morro Velho, Pari, além de tantas outras mantidas pelos
ingleses naquele período.
Foi essa 3ª fase da mineração do ouro tão expressiva para a
história e para a formação do povo mineiro que ainda nos dias atuais encontramos
suas reminiscências no modo de falar do mineiro. Foi convivendo com os ingleses dessas
companhias que o mineiro passou a empregar termos como “Sô”, “Uai” e “Trem”. “Sô”
tem sua origem na palavra inglesa “Sir” com a qual os ingleses eram tratados.
“Uai” também vem do inglês: “Why?”. E
“Trem” tem sua origem em “Train”, que ainda não era o trem de ferro, mas sim o
sistema de vagonetes utilizado para
extrair o minério aurífero das galerias subterrâneas das minas operadas pelas
Companhias Inglesas.
A biografia de Monlevade desafia a tese difundida nos bancos
de escola de que o subdesenvolvimento do Brasil também se deve ao fato de o
país, durante os séculos passados, jamais ter apresentado vocação para a
Indústria. Também desmente a afirmativa
histórica de que o ouro extraído em Minas jamais fora utilizado na aquisição de
bens de capital, pois foi com o vultoso dote em ouro que recebera pelo
casamento com Clara Sophia, sobrinha do Barão de Catas Altas, o mais rico
minerador da época, que Monlevade importou pesado maquinário para equipar sua
extraordinária Fábrica de Ferro.
Apesar de tanta importância, a história de
Monlevade segue omitida dos livros escolares e o município de leva seu nome
comemorará os 200 anos de sua chegada ao Brasil com o Museu instituído em sua
residência e sede administrativa de sua Fábrica de Ferro - o Solar Monlevade
- fechado à visitação, com parte do
telhado suprimido pela Arcelormittal e várias peças do acervo expostas à intempéries, perdendo-se.
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