segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Por que o Brasileiro é tão desonesto?


Atualmente, salvo raras e valiosas exceções, o brasileiro se tornou alguém que se indigna com toda a escandalosa corrupção que se vê em Brasília, mas que no seu dia a dia não acredita na ética, não a pratica e age conduzido pela Lei de Gerson, tentando tirar vantagem de qualquer situação que se apresente. Mas, por que isso acontece? Afinal, como já disse Leandro Karnal, “não existe governo corrupto em país de gente honesta”.

Diante desta questão, o primeiro entendimento que se deve ter é que a assombrosa corrupção que afeta o país se trata de fenômeno contemporâneo, nem sempre fomos assim. Se analisarmos, por exemplo, o período da história brasileira que vai da proclamação da República à ascensão de Vargas, quando o Brasil viveu a chamada “ La Belle Epoque”, encontraremos uma sociedade influenciada por fortes conceitos éticos em que havia respeito, responsabilidade e o agir ético era considerado uma virtude. As fotos da época revelam que naqueles idos a grande maioria dos homens usava bigode e era por uma razão ética. Garantia-se a palavra assumida entregando ao credor um fio do próprio bigode. Daí a origem do termo fiança. 
Hoje, vigora a desonestidade geral. Não se iluda. A corrupção generalizada que se vê em Brasília é reflexo direto da desonestidade comum que afeta o cotidiano do brasileiro. Então, por que somos um povo tão desonesto, atualmente? A resposta é simples. Ninguém nasce ético. Ética é questão de formação, de um modo ou de outro. Aquele modelo de família rígido e patriarcal que vigorou, plenamente, até o final da “La Belle Epoque”, chamado de “berço”, que fazia sua formação ética na Igreja e detinha a responsabilidade de transferi-la aos filhos não existe mais em função da adoção de novos costumes introduzidos pela modernidade e da fissão entre Estado e Igreja. Nota-se, então, que, durante seu processo de modernização, o Brasil perdeu as duas instituições que, historicamente, se atribuía a formação ética de seu povo. E sem meios de formação ética não há como se esperar por um contexto, minimamente, ético. 
Na era moderna, duas instituições são fundamentais na formação ética e na circulação dos conceitos éticos do Estado Moderno: a escola e a mídia. 
Ocorre que, na escola pública brasileira contemporânea, ética não é disciplina obrigatória. O Brasil forma professores, jornalistas, engenheiros, etc, que nunca tiveram uma lição de ética na vida, não conhecem a ética como disciplina. Aliás, o modelo de escola pública nacional se encontra, totalmente, falido e não tem conseguido, sequer, alfabetizar o aluno. Atualmente, o Brasil tem 50 milhões de analfabetos funcionais, que são aqueles que lêem, mas não compreendem a que foi lido. E se não alfabetiza, também não pode ser efetivo na formação ética ou em qualquer outra.
Concomitantemente, o Brasil contemporâneo tem ainda um modelo de grande mídia, que são as novelas da Rede Globo, que não faz circular os conceitos éticos, muito pelo contrário, circula todos os maus exemplos de comportamento desonesto que se pode imaginar. É preciso ter em mente que todo comportamento que é veiculado pela grande mídia, invariavelmente, será replicado em massa na sociedade. O brasileiro que interpreta o Brasil a partir das novelas da Rede Globo chega à conclusão de que a sociedade brasileira é, inevitavelmente, desonesta e que, se ele não seguir o mesmo caminho, não conseguirá nada da vida.
Assim, se de um lado no Brasil contemporâneo, não há formação ética e, de outro, a grande mídia, intencionalmente, só faz circular os conceitos de desonestidade, não há como se instituir um país honesto. Então se você está indignado com a desonestidade que afeta o país, o primeiro passo é não repetir os comportamentos exibidos pelas novelas globais. Saiba que a Rede Globo foi fundada em 1965 no contexto do Golpe Militar com apoio decisivo do poderoso grupo de mídia estadunidense Time Life. Uma das doutrinas de formação da Rede Globo é que o Brasil jamais encontre condições de sobrepujar a hegemonia estadunidense no continente. Por isso o parâmetro de comportamento apresentado ao Brasil pela Globo é a desonestidade. A disseminação da corrupção generalizada é o meio mais eficaz de se sabotar um imenso país. Sentimos isto na pele, atualmente. O segundo passo é cobrar e lutar por um modelo de escola pública que seja, realmente, eficiente, que prepare para a vida e que adote a ética como disciplina. O terceiro é cobrar e lutar pela reforma dos meios de comunicação para que o Brasil possa adotar um modelo de grande mídia capaz de se alinhar aos interesses nacionais. 

Ética não dá em árvores! Ética se forma e se foi possível formar a ética do povo brasileiro no passado, também podemos fazer o mesmo para o futuro.

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