segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Compreenda o Tamanho Colossal das Jazidas de Ferro de Minas Gerais



O mineiro não tem a noção exata da imensa riqueza ferrífera do Estado de Minas Gerais. Infelizmente, as informações relevantes a respeito da mineração em Minas, seja de qual mineral for, não circulam, não são divulgadas e não são democratizadas. Para se ter uma ideia, o município vizinho de Itabira somente teve conhecimento de que a Vale pretende, no curto prazo, encerrar as atividades da mineração do ferro no município por meio da vigilância do excepcional O Trem, o mais eficiente “ombudsman” da chamada cidade do ferro, entre outras qualidades. De fato, tudo que diz respeito a mineração em Minas se encontra envolto numa densa cortina de fumaça, inclusive a informação não pouco importante sobre o tamanho das jazidas de ferro. Contudo, apesar da completa falta de transparência em relação aos dados da mineração na Minas contemporânea, felizmente, podemos contar com os registros históricos daqueles pioneiros que aqui viveram e trabalharam nos primórdios da mineração e da indústria de transformação do ferro.
O relatório emitido por João Antônio de Monlevade em 1853 a pedido do governador, Francisco Diogo de Vasconcelos, é considerado o primeiro registro sobre a riqueza mineral do ferro em Minas Gerais. Quase 166 anos após ter sido redigido, a primeira parte do documento (imagem), a que trata da ocorrência do ferro em Minas, impressiona pela magnitude colossal das extensões das jazidas. Segundo Monlevade, além inúmeros outros pontos de ocorrência do mineral, Minas Gerais tem nada menos do que 5 imensas Cordilheiras de Ferro (em azul no mapa) e somente uma dela tem mais ferro do que todas as da Europa reunidas. A partir das descrições de Monlevade, é, realmente, impressionante como muitas minas de ferro, apesar de distantes a dezenas de quilômetros uma das outras, pertencem à mesma super-jazida.Monlevade não utiliza o termo “jazida”, mas sim “cordilheiras de ferro” já que os depósitos do metal compreendem montanhas inteiras que se alinham e se sucedem pelo complexo da Serra do Espinhaço até se perderem de vista. Segundo Monlevade, minas de ferro de Congo Soco, Brucutu, Cauê e Conceição pertencem a um único super-veio ferrífero, designado como a 4ª Cordilheira de ferro de Minas, a maior delas, com 20 léguas (130 km) de extensão. Bem como as de Itabirito, Nova Lima, Belo Horizonte, Sabará e Caeté pertencem a outro super-veio, a 5ª Cordilheira. Ou como a Mina do Andrade e do Morro Agudo também estão dispostas sobre um mesmo super-veio de ferro, a Segunda Cordilheira. E existem mais outras duas cordilheiras de ferro.
Igualmente, impressionante é que, ao se traçar um quadro no Mapa de Minas em torno das Cordilheiras de Ferro descritas por Monlevade, tem-se, precisamente, formado o Quadrilátero Ferrífero (imagem), cuja perpendicular Monlevade calculou em “termo médio de 18 léguas”(120 km).
Também chama a atenção a pureza do mineral ferrífero de Minas Gerais, que, segundo Monlevade, tem 76% de seu peso em ferro, “o mais rico que se conhece”.
Monlevade também traz a importante informação de que é dentro da região ferrífera das Gerais que ocorre a maioria das minas de o ouro e as mais ricas delas aparecem, justamente, entre as camadas de ferro, o que demonstra que ouro e ferro são indissociáveis em Minas Gerais, onde se acha um se encontra o outro, tornando plausível a afirmativa comum de que muitos países lavam o minério de ferro exportado por Minas e tiram dele o ouro, de brinde. Note que os nomes das localidades citadas por Monlevade, como Congo Soco, Brucutu, Morro Agudo, Cauê, Conceição, Itabirito, etc, iniciaram suas atividades mineradoras, extraindo o ouro e que somente muito tempo depois passariam a minerar também o ferro.
Transcrevo a seguir a 1ª parte do Relatório de João Antônio de Monlevade, datado de 12/12/1853, no qual o pioneiro mineralogista e metalurgista francês revela e descreve, com suas próprias palavras, a imensa riqueza ferrífera de Minas Gerais:
A primeira cordilheira a Leste principia perto de Sacramento, município de Santa Bárbara, Freguesia da Prata, passa em S. Domingos, Jequitibá, atravessa o Rio Piracicaba, um dos maiores confluentes do Rio Doce, e vai continuando nas matas, ainda não descortinadas acima do Ribeirão de Cocais Grande (Antônio Dias), onde apresenta-se poderosa. Comprimento total conhecido doze léguas. Em toda sua extensão de um lado a outro mata geral, terreno fertilíssimo e águas altas.
“Na Província de Minas, além de inúmeras camadas de mineral de ferro, mais ou menos extensas, existem cinco principais cordilheiras; e pode-se afirmar que uma só delas encerra mais ferro do que todas as da Europa reunidas, atendendo não somente a sua extensão a sua extensão e poder, como a riqueza do mineral, o mais rico que se conhece; pois que analisado quimicamente contem 76 % de seu peso em ferro.
Elas quase sempre são acompanhadas de outras camadas de ferro denominadas - Jacutinga, as quais são compostas do mesmo ferro oxidulado, ou protóxido de ferro, de manganês d’óxido de titânio, etc, etc, em estado arenoso. Também em superposição, ou nos encostos delas , existem as camadas de canga, ou hidrato de ferro mineral, muito empregado na Europa para produção, nos fornos altos, de ferro líquido. A canga pela análise dá somente de 25 a 35% de ferro. É das duas primeiras camadas somente, que se extrai o ferro destes contornos. O último mais pobre, pelo sistema de fundição usado nesta Província, daria muito pouco ferro . A direção geral das camadas é de N.N.E a S.S.O . Elas são deitadas ao nascente. A sua grossura varia de 1/8 a ¼ de légua. A profundidade delas é desconhecida.
A segunda aponta perto do Piracicaba a 3 ½ léguas acima do arraial de S, Miguel, na fazenda do professor Abreu, e forma esta serra elevada que acompanha a margem esquerda do rio; o pico saliente denominado – Morro Agudo- prolonga-se adiante da fábrica de J. A. Monlevade, que ela atravessa em comprimento de uma légua. Extensão total dez léguas.
[...]
A terceira aparece no Capão, ao sul d’Ouro Preto, onde ela forma uma parte importante ao Oeste da Cidade; segue para Santa Anna, Antônio Pereira; forma no Morro da Água Quente o encosto da Serra da Mãe dos Homens (Caraça) e a diante da lavra de G. Mor Innocencio desaparece. Extensão de 12 léguas.
A 4ª surge na ponta Sul da Serra Mãe dos Homens a 1 ½ légua da povoação de Capanema; vai se dirigindo ao N., passando perto da Cachoeira, Morro Vermelho, Roça Grande: segue para o Gongo (Soco), Cocais, Burucutu, Serra da Conceição e de Itabira, formando o Pico elevado da Cidade. Extensão vinte léguas.
A 5ª, e última ao Oeste, tem sua origem no sul do pico elevado de Itabira do Campo (Itabirito), o qual é inteiramente formado de ferro oxidulado. Ela acompanha esta imensa cordilheira saliente até ao Curral d’El-Rei, atravessa o Rio das Velhas em Sabará, prolonga-se até a muito elevada Serra da Piedade perto de Caeté, aonde ela forma uma grande parte da mesma. Extensão total 18 léguas. É muito provável que estas grandes camadas vão aparecer ao norte em Gaspar Soares, Candonga, na Serra Negra, no Grão Mogor, etc, etc; lugares todos riquíssimos de ferro. A distância destas cinco camadas da 1ª a Leste até a última 5ª ao Oeste, tomada perpendicularmente à direção delas é termo médio de 18 léguas. Nos terrenos interpolados , as duas camadas extremas incluídas, é que existem a maioria das minas de ouro, e as mais ricas tem aparecido nas camadas de ferro, assim como no Ouro Preto, Sabará, Gongo, Itabira, etc, etc.”

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