O a grande herança maldita do Golpe Militar de 64 não foram
os censurados, os perseguidos, os exilados, os desaparecidos ou os
assassinados. Também não foi a produção de uma geração inteira de políticos,
despreocupada e desacostumada com a condução da governança nacional, eis que
durante os 21 anos de ditadura, tal papel coube, exclusivamente aos militares.
Tampouco foi a petrificação e o retardo evolutivo das instituições e do senso cívico
do povo brasileiro.
A pior conseqüência do 1º de Abril de 1964 foi ter
traumatizado este país a ponto de, a partir da re-democratização, o Brasil
chegar ao extremo de confundir a conquista da liberdade com o domínio
generalizado de uma libertinagem desumana, em que tudo parece ser permitido e,
absolutamente, nada é respeitado.
Nem tanto ao céu, nem tanto à terra: se antes éramos oprimidos
por um regime ditatorial formal e tangível,
hoje, vivemos numa ditadura ainda mais grave, informal e intangível, gerada
pela dominação do império da libertinagem que, igualmente, fabrica mortos, aos
milhares (rodovias, violência urbana etc),
exilados de sua própria consciência, aos milhões (17 milhões de
analfabetos e 40 milhões de analfabetos “funcionais”) e toda uma sorte de
desaparecidos, como aqueles que, metaforicamente, somem na fila do SUS, nos
bancos da Escola de Ensino Integral, no acesso à informação, no acesso ao meio
ambiente equilibrado, na qualidade de vida, no desenvolvimento humano, etc.
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