terça-feira, 29 de abril de 2014

Monlevade 50 Anos: a Ironia em se Valer do Arcaico para Avançar pelo Moderno

 Como a cidade pujante, dinâmica e complexa que é, Monlevade completa 50 anos, demandando uma série de indagações que poderiam nortear os fóruns de discussões, caso realmente houvesse de fato algum interesse em se debater os próximos 50 anos do Município.    
Como preparar o ambiente urbano para as sevaras conseqüências das mudanças climáticas? Como administrar os resíduos sólidos gerados na cidade? Como gerir as águas municipais? Como voltar a abastecer 100% da cidade de água tratada, ininterruptamente?  Como produzir cidadãos conscientes de seus deveres e direitos?  Como crescer com mobilidade e ordenamento urbanos e qualidade de vida? Como direcionar a atividade acadêmica das faculdades locais às necessidades e aspirações da sociedade monlevadense? Como aprimorar e fortalecer a democracia monlevadense? Como progredir de um modelo de saúde pública voltado apenas para a instalação de infra-estrutura para um em que também haja atendimento? Como prestar um serviço de transporte público, a preços módicos e que encoraje o monlevadense a abrir mão de seu carro? Como harmonizar a atividade siderúrgica e de mineração às responsabilidades sociais e ambientais que lhe são próprias? Como garantir a viabilidade da siderurgia local, em longo prazo, diante da probabilidade de esgotamento que o atual modelo exploratório do indiano Mittal impõe à Mina do Andrade?
Como se vê, as questões são muitas e, certamente, não serão resolvidas, retrocedendo-se a roda da história monlevadense, como tem ocorrido há décadas. Monlevade precisa utilizar a incrível vocação que tem para a modernidade a fim se modernizar por inteiro, deixando, definitivamente para trás os ranços retrógrados que se alojaram no Município nos últimos 15 ou 20 anos, principalmente, no meio político em que o coronelismo tem prevalecido. Monlevade deve honrar a modernidade que se instalou aqui, a partir de 1825, com o pioneiro francês, cuja forja de ferro, ao contrário de outras como a Fábrica de Ferro Patriótica (Ouro Preto, 1811) e a Fábrica de Ferro Ipanema (Sorocaba/SP, 1810), já naquela época contava com maquinário moderno tocado a vapor, coisa até então inédita no Brasil. Deve honrar também a saga de Louis Ensch em instalar aqui a Vila Operária e a Moderna Siderúrgica para mergulhar, definitivamente, na modernidade de corpo e alma, reinaugurando relações modernas entre tudo e todos. Monlevade tem sofrido em demasia nestes últimos anos porque não nasceu para o arcaico, para o retrocesso. Sua tônica deve ser a modernidade ampla, geral e irrestrita, mesmo que isso desagrade o coronel da vez, sua prole e seus lacaios. Chegou o momento de deixarmos o coronelismo para trás, sob pena de perdermos as condições para  "avançar", como foi prometido, o que, ironicamente, se coloca como mais uma questão a ser respondida neste cinquentenário de João Monlevade: como avançar rumo à modernidade, valendo-se de práticas políticas tão arcaicas e retrogradas? Como?

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