sexta-feira, 13 de julho de 2018

Circuito Gastronômico da Estrada Real de João Monlevade




Imagine que o traçado da Avenida Getúlio Vargas,  em João Monlevade, corresponde a um antigo e muito particular ramo da Estrada Real, por onde circulavam numerosas tropas e havia intenso trânsito de carretões de quatro rodas, puxados por muitas juntas de bois, que escoavam a produção da Fábrica de Ferro de João Antonio de Monlevade, principalmente, as cabeças de ferro dos trituradores que eram enviados com freqüência  para as várias Minas de Ouro que as utilizavam para processar o quartzito aurífero.  Há registro de carretão de Monlevade que transportou peça de ferro de mais de 900 quilos de peso para a Mina do Morro Velho, em Nova Lima, a mais de 150 quilômetros de distância.   Nos séculos passados, pelo traçado da Avenida Getúlio Vargas também circulavam muitas topas que mantinham negócios com a Fábrica de Ferro de Monlevade  e outras tantas que eram atraídas pelas pontes erguidas e mantidas por Monlevade para a travessia dos rios Santa Bárbara e Piracicaba. Como também produzia cravos, ferraduras e ferramentas de ferrar, de qualidade excepcional, a Fábrica de Ferros de Monlevade era uma verdadeira Meca para os tropeiros, atraindo tropas de toda a região. Muitos tropeiros viviam exclusivamente da revenda dos artefatos de ferro de Monlevade por toda a província de Minas Gerais.  O Solar Monlevade se encontrava, então, no centro de uma vasta rede de estradas carroçáveis, dotada de pousos específicos e pontes, que era indispensável para o escoamento da pesada produção da Fábrica de Ferro, o que muitas das vezes se fazia por meio dos carretões de quatro rodas, movidos a tração animal. Podia-se dizer que, em determinado raio de distância, todos os caminhos levavam ao Solar Monlevade. Não é por menos que é chamado de Solar. Solar é aquilo que é posto no centro, tal qual o Sol.  
 Para oeste do Solar, esboçando o que hoje corresponde ao atual traçado da Avenida Getúlio Vargas, tinha início a estrada carroçável que passava  por onde hoje são os bairros Areia Preta, Baú, Belmonte, Carneirinhos e Santa Bárbara, descendo até o fim do Bairro Cachoeirinha, de onde seguia para Itabira, pela ponte erguida por Monlevade sobre o Rio Santa Bárbara ou, pela esquerda, para a região de Santa Bárbara, Gongo Soco ( Barão de Cocais) e de Sabará através do entroncamento hoje existente na Ponte Coronel, na BR 381. Para sul do Solar havia a estrada que dava acesso a São Miguel do Piracicaba, Catas Altas, etc. Pelo sul, ainda dentro da propriedade de Monlevade, tinha-se acesso a uma ponte lançada sobre o Rio Piracicaba que possibilitava acesso a São José (Nova Era) , S. D. do Prata, Antônio Dias, etc.   
Não é por menos que o SESC instalou marco da Estrada Real entre confluência das avenidas Getúlio Vargas e Armando Fajardo (fotos).  O problema é que ninguém sabe o porquê  daquele marco se encontrar ali. O ramo monlevadense da Estrada Real nunca foi divulgado ou promovido em João Monlevade.  Aliás, ele é totalmente desconhecido do público monlevadense, o que demonstra o preocupante grau de alienação histórico-cultural do gentílico local.   Logo Monlevade que,  produzindo artefatos de ferro e, principalmente, as cabeças dos trituradores do quartzito aurífero,  viabilizou a última fase do Ciclo do Ouro em Minas Gerais, que se distinguiu pelo emprego da mecanização no processo de mineração aurífera, o que coloca Monlevade como peça-chave na economia mineradora durante o Brasil - Império.
Assim, como forma de chamar atenção para este muito específico e outrora tão importante e movimentado trecho da Estrada Real que proponho o Circuito Gastronômico da Estrada Real de João Monlevade, apontando alguns pratos e produtos típicos da culinária mineira que podem ser saboreados em estabelecimentos localizados ao longo da Avenida Getúlio Vargas.  E começo subindo pelo Bairro Nova Cachoeirinha, com o queijo frescal do Aloísio. Muito adiante, já no Bairro Santa Bárbara, indico o pé de porco do bar homônimo. Já no centro, a empada de frango da lanchonete Bocata. Na esquina,  os miúdos, a moela e até o chouriço do Bar Sinal Verde, coisa de mineiro valente. Mais adiante, a maçã de peito do Bar do Nirto.  Mais além, o Restaurante Búfalo Bill, o único que conserva casarão típico, onde se podem degustar variados pratos da culinária mineira. Mais a frente, o pastel JK do Comercial Monlevade, etc.    E,por ora, termino aqui sem a pretensão de esgotar os produtos e pratos gastronômicos mineiros que podem ser encontrados ao longo da Avenida Getúlio Vargas. Mas, apenas como forma de se fazer conhecer o antigo ramo da Estrada Real que, literalmente, corta o Município e que tem como grande atração temática o Solar Monlevade, amplo sobrado do século XIX, onde viveu nosso ilustre fundador, e o muito interessante Museu Monlevade, recentemente, reaberto à visitação e constituído pelas formidáveis máquinas que equiparam a Fábrica de Ferro de Monlevade, ao longo de eras, além do potencial gastronômico de seu entorno.      

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