Imagine que o traçado da Avenida Getúlio Vargas, em João Monlevade, corresponde a um antigo e
muito particular ramo da Estrada Real, por onde circulavam numerosas tropas e
havia intenso trânsito de carretões de quatro rodas, puxados por muitas juntas
de bois, que escoavam a produção da Fábrica de Ferro de João Antonio de
Monlevade, principalmente, as cabeças de ferro dos trituradores que eram
enviados com freqüência para as várias
Minas de Ouro que as utilizavam para processar o quartzito aurífero. Há registro de carretão de Monlevade que
transportou peça de ferro de mais de 900 quilos de peso para a Mina do Morro
Velho, em Nova Lima, a mais de 150 quilômetros de distância. Nos séculos passados, pelo traçado da Avenida
Getúlio Vargas também circulavam muitas topas que mantinham negócios com a
Fábrica de Ferro de Monlevade e outras
tantas que eram atraídas pelas pontes erguidas e mantidas por Monlevade para a
travessia dos rios Santa Bárbara e Piracicaba. Como também produzia cravos,
ferraduras e ferramentas de ferrar, de qualidade excepcional, a Fábrica de
Ferros de Monlevade era uma verdadeira Meca para os tropeiros, atraindo tropas
de toda a região. Muitos tropeiros viviam exclusivamente da revenda dos
artefatos de ferro de Monlevade por toda a província de Minas Gerais. O Solar Monlevade se encontrava, então, no
centro de uma vasta rede de estradas carroçáveis, dotada de pousos específicos
e pontes, que era indispensável para o escoamento da pesada produção da Fábrica
de Ferro, o que muitas das vezes se fazia por meio dos carretões de quatro
rodas, movidos a tração animal. Podia-se dizer que, em determinado raio de
distância, todos os caminhos levavam ao Solar Monlevade. Não é por menos que é
chamado de Solar. Solar é aquilo que é posto no centro, tal qual o Sol.
Para oeste do Solar,
esboçando o que hoje corresponde ao atual traçado da Avenida Getúlio Vargas,
tinha início a estrada carroçável que passava
por onde hoje são os bairros Areia Preta, Baú, Belmonte, Carneirinhos e
Santa Bárbara, descendo até o fim do Bairro Cachoeirinha, de onde seguia para
Itabira, pela ponte erguida por Monlevade sobre o Rio Santa Bárbara ou, pela
esquerda, para a região de Santa Bárbara, Gongo Soco ( Barão de Cocais) e de
Sabará através do entroncamento hoje existente na Ponte Coronel, na BR 381.
Para sul do Solar havia a estrada que dava acesso a São Miguel do Piracicaba,
Catas Altas, etc. Pelo sul, ainda dentro da propriedade de Monlevade, tinha-se
acesso a uma ponte lançada sobre o Rio Piracicaba que possibilitava acesso a
São José (Nova Era) , S. D. do Prata, Antônio Dias, etc.
Não é por menos que o SESC instalou marco da Estrada Real
entre confluência das avenidas Getúlio Vargas e Armando Fajardo (fotos). O problema é que ninguém sabe o porquê daquele marco se encontrar ali. O ramo
monlevadense da Estrada Real nunca foi divulgado ou promovido em João
Monlevade. Aliás, ele é totalmente
desconhecido do público monlevadense, o que demonstra o preocupante grau de
alienação histórico-cultural do gentílico local. Logo
Monlevade que, produzindo artefatos de
ferro e, principalmente, as cabeças dos trituradores do quartzito aurífero, viabilizou a última fase do Ciclo do Ouro em
Minas Gerais, que se distinguiu pelo emprego da mecanização no processo de
mineração aurífera, o que coloca Monlevade como peça-chave na economia
mineradora durante o Brasil - Império.
Assim, como forma de chamar atenção para este muito
específico e outrora tão importante e movimentado trecho da Estrada Real que proponho
o Circuito Gastronômico da Estrada Real de João Monlevade, apontando alguns
pratos e produtos típicos da culinária mineira que podem ser saboreados em
estabelecimentos localizados ao longo da Avenida Getúlio Vargas. E começo subindo pelo Bairro Nova Cachoeirinha,
com o queijo frescal do Aloísio. Muito adiante, já no Bairro Santa Bárbara, indico
o pé de porco do bar homônimo. Já no centro, a empada de frango da lanchonete
Bocata. Na esquina, os miúdos, a moela e
até o chouriço do Bar Sinal Verde, coisa de mineiro valente. Mais adiante, a
maçã de peito do Bar do Nirto. Mais além,
o Restaurante Búfalo Bill, o único que conserva casarão típico, onde se podem
degustar variados pratos da culinária mineira. Mais a frente, o pastel JK do
Comercial Monlevade, etc. E,por
ora, termino aqui sem a pretensão de esgotar os produtos e pratos gastronômicos
mineiros que podem ser encontrados ao longo da Avenida Getúlio Vargas. Mas,
apenas como forma de se fazer conhecer o antigo ramo da Estrada Real que,
literalmente, corta o Município e que tem como grande atração temática o Solar
Monlevade, amplo sobrado do século XIX, onde viveu nosso ilustre fundador, e o
muito interessante Museu Monlevade, recentemente, reaberto à visitação e
constituído pelas formidáveis máquinas que equiparam a Fábrica de Ferro de
Monlevade, ao longo de eras, além do potencial gastronômico de seu entorno.
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