segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Mittal Compromete Futuro da Siderurgia Monlevadense

Lakshmi Niwas MittaL, presidente (CEO) da indiana  Arcelormittal, Foto: divulgação. 

Em 1937, quando da inauguração daquilo que se transformaria numa unidade da  Belgo-Mineira, a primeira denominação da siderúrgica local  foi Usina Barbanson Monlevade, numa conjugação de nomes que tanto homenageava o pioneiro francês, Jean de Monlevade, quanto outra importante e, muita das vezes, esquecida figura da história de João Monlevade,  o belga Gaston Barbanson, a quem coube a decisão de enviar para o Brasil uma missão técnica a fim de encontrar um local viável para a instalação de uma grande siderúrgica capaz de abastecer o crescente mercado domestico de aço e de também dirigir parte de sua produção para esforço de guerra aliado de uma Europa que se preparava para a  II Grande Guerra.
E naqueles idos, para a escolha do local de instalação da nova siderúrgica concorreram, decisivamente, 4 fatores:  a ocorrência de mata densa para a produção do carvão vegetal; a proximidade de um rio que pudesse suprir a nova planta industrial da grande quantidade d’água demandada pela atividade, além de potencial para geração de energia elétrica; a instalação de um ferrovia para escoamento tanto da produção destinada ao mercado interno quanto ao europeu e a existência próxima de ricas jazidas de minério de ferro.
Assim, a Mata Atlântica típica de nossa região, a abundância de água e o potencial hidrelétrico do Rio Piracicaba (Represa do Jacuí) e o compromisso de Vargas em instalar o ramal ferroviário da Central do Brasil, entre Santa Bárbara e Nova Era, somados à ocorrência das riquíssimas jazidas de ferro da Mina do Andrade, deram à circunscrição territorial que abrange o atual município de João Monlevade o posto de local escolhido para sediar o novo empreendimento.
Mais de 70 anos depois, verifica-se que as já quase, totalmente, devastadas matas da região não contam mais na composição da vocação siderúrgica local, vez que, há algum tempo, o carvão vegetal, originalmente, usado na redução do gusa foi substituído pelo equivalente mineral, importado da China. A Represa do Jacuí também já não é mais tão determinante assim, já que o país, atualmente, conta com uma vasta rede de geração e de transmissão de energia elétrica. O ramal ferroviário, que foi substituído pela ferrovia Vitória/Minas, continua indispensável para o escoamento da produção da Usina, apesar do emprego massivo do transporte rodoviário.
Visivelmente, do final da década de 30 até os dias atuais, muita coisa mudou na composição da vocação siderúrgica de João Monlevade. No entanto, nestes anos todos, dentre as várias alterações que se procederam dentro do processo produtivo da Usina,  pode-se dizer que apenas um elemento crucial para a vocação siderúrgica monlevadense permanecia, até então, inalterado: a rica jazida da Mina do Andrade.
Desde sempre, o Andrade produziu minério de ferro de extrema qualidade, exclusivamente, para atender a produção local de aço.
Agora, na era Mittal, isso não acontece mais. Além de atender a demanda local, a Mina do Andrade tem sido explorada à exaustão para atender outros mercados. São dezenas de milhares de toneladas de minério de ferro que, extraídos, dia a dia, vão esvaindo a jazida do Andrade, trazendo incertezas e dúvidas para o futuro da siderurgia do Município, que se desdobram como se segue:
Qual é o tamanho da jazida da Mina do Andrade? Neste ritmo de superexploração, em quanto tempo a Mina se exaurirá? E quando isso acontecer, o que será feito da Usina? Ela fechará ou se suprirá de ferro de outra mina? Qual mina seria essa? Seu minério também seria de extrema qualidade como o do Andrade, apresentando 68% de ferro de ferro?  Em quanto uma percentagem menor do teor de ferro no minério afetaria a qualidade do produto da Usina?  A Usina de Monlevade é, economicamente, viável sem a Mina do Andrade?
Tratam-se de indagações que já deveriam ter sido esclarecidas pela Arcelormittal logo do início da superexploração da Mina do Andrade e cujo silêncio em fazê-lo apenas sugere respostas nada auspiciosas para o futuro da siderurgia monlevadense.  

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