Lakshmi Niwas MittaL, presidente (CEO) da indiana Arcelormittal, Foto: divulgação.
Em 1937, quando da inauguração daquilo que se transformaria
numa unidade da Belgo-Mineira, a
primeira denominação da siderúrgica local foi Usina Barbanson Monlevade, numa conjugação
de nomes que tanto homenageava o pioneiro francês, Jean de Monlevade, quanto
outra importante e, muita das vezes, esquecida figura da história de João
Monlevade, o belga Gaston Barbanson, a quem
coube a decisão de enviar para o Brasil uma missão técnica a fim de encontrar
um local viável para a instalação de uma grande siderúrgica capaz de abastecer
o crescente mercado domestico de aço e de também dirigir parte de sua produção
para esforço de guerra aliado de uma Europa que se preparava para a II Grande Guerra.
E naqueles idos, para a escolha do local de instalação da
nova siderúrgica concorreram, decisivamente, 4 fatores: a ocorrência de mata densa para a produção do
carvão vegetal; a proximidade de um rio que pudesse suprir a nova planta industrial
da grande quantidade d’água demandada pela atividade, além de potencial para
geração de energia elétrica; a instalação de um ferrovia para escoamento tanto
da produção destinada ao mercado interno quanto ao europeu e a existência
próxima de ricas jazidas de minério de ferro.
Assim, a Mata Atlântica típica de nossa região, a abundância
de água e o potencial hidrelétrico do Rio Piracicaba (Represa do Jacuí) e o
compromisso de Vargas em instalar o ramal ferroviário da Central do Brasil,
entre Santa Bárbara e Nova Era, somados à ocorrência das riquíssimas jazidas de
ferro da Mina do Andrade, deram à circunscrição territorial que abrange o atual
município de João Monlevade o posto de local escolhido para sediar o novo
empreendimento.
Mais de 70 anos depois, verifica-se que as já quase,
totalmente, devastadas matas da região não contam mais na composição da vocação
siderúrgica local, vez que, há algum tempo, o carvão vegetal, originalmente,
usado na redução do gusa foi substituído pelo equivalente mineral, importado da
China. A Represa do Jacuí também já não é mais tão determinante assim, já que o
país, atualmente, conta com uma vasta rede de geração e de transmissão de
energia elétrica. O ramal ferroviário, que foi substituído pela ferrovia
Vitória/Minas, continua indispensável para o escoamento da produção da Usina,
apesar do emprego massivo do transporte rodoviário.
Visivelmente, do final da década de 30 até os dias atuais,
muita coisa mudou na composição da vocação siderúrgica de João Monlevade. No
entanto, nestes anos todos, dentre as várias alterações que se procederam
dentro do processo produtivo da Usina, pode-se dizer que apenas um elemento crucial
para a vocação siderúrgica monlevadense permanecia, até então, inalterado: a
rica jazida da Mina do Andrade.
Desde sempre, o Andrade produziu minério de ferro de extrema
qualidade, exclusivamente, para atender a produção local de aço.
Agora, na era Mittal, isso não acontece mais. Além de
atender a demanda local, a Mina do Andrade tem sido explorada à exaustão para
atender outros mercados. São dezenas de milhares de toneladas de minério de
ferro que, extraídos, dia a dia, vão esvaindo a jazida do Andrade, trazendo
incertezas e dúvidas para o futuro da siderurgia do Município, que se desdobram
como se segue:
Qual é o tamanho da jazida da Mina do Andrade? Neste ritmo
de superexploração, em quanto tempo a Mina se exaurirá? E quando isso
acontecer, o que será feito da Usina? Ela fechará ou se suprirá de ferro de
outra mina? Qual mina seria essa? Seu minério também seria de extrema qualidade
como o do Andrade, apresentando 68% de ferro de ferro? Em quanto uma percentagem menor do teor de
ferro no minério afetaria a qualidade do produto da Usina? A Usina de Monlevade é, economicamente, viável
sem a Mina do Andrade?
Tratam-se de indagações que já deveriam ter sido
esclarecidas pela Arcelormittal logo do início da superexploração da Mina do
Andrade e cujo silêncio em fazê-lo apenas sugere respostas nada auspiciosas
para o futuro da siderurgia monlevadense.
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