quarta-feira, 28 de maio de 2014

28 de Maio de 1968: Não Existe Laudo do Corpo de Bombeiros para o Incêndio do Caraça



O incêndio ocorrido no Caraça em 28 de maio de 1968, há exatos 46, anos é um fato que intriga por dois motivos. Primeiro, por ter ocorrido em 1968, o ano de chumbo e o mais conturbado da Ditadura Militar instalada no Brasil a partir do Golpe de 64. Foi também em 68 que houve a Marcha dos Cem Mil, a edição do AI-5, fechamento do Congresso, etc.  Segundo, porque depois do sinistro o Colégio encerrou suas atividade. Junto da Escola de Minas de Ouro Preto, do Seminário de Mariana, o Colégio do Caraça é uma das mais fundamentais instituições na formação da identidade, essencialmente, mineira. Minas da mineração do ouro, do diamante e que também deveria ser Minas na mineração do ferro. Da chamada Minas Geratriz que fundiu de maneira sem igual os três elementos étnicos fundamentais: o índio, o africano e o europeu, gerando as bases antropológicas para o Brasil que conhecemos hoje.
E certo que o Caraça não se envolvia, diretamente, na política. O que não se pode dizer de seus alunos. Do humanismo e da filosofia do Caraça formaram-se o presidente Afonso Pena , o governado Artur Bernardes e tantos outros ex-alunos que se tornaram senadores, deputados e autoridades eclesiásticas. Gente que conhecia e defendia Minas.
Recentemente, estive no Caraça para colher mais informações sobre o incêndio de 68 que atingiu em cheio a famosa biblioteca, uma das mais importantes da América Latina, consumindo-lhe cerca da metade de seu rico acervo de 30 mil livros, repleto de preciosidades. O primeiro documento que busquei foi o Laudo, determinando a causa do incêndio, que  a equipe do Corpo de Bombeiros que promoveu o rescaldo do sinistro, deveria ter confeccionado e a bibliotecária me informou que não tinha conhecimento da existência de tal documento, o que me parece muito estranho e se alinha à tese de incêndio criminoso.
A tese, atualmente, admitida para a causa o incêndio do Caraça é a baseada no relato de um ex-aluno que vivenciou os acontecimentos daquela madrugada de 28 de maio de 1968 e que não podia ser de outra cidade, senão João Monlevade. Seu nome é Sylvio de Menezes Filho e segundo seus registros o incêndio teria se iniciado de um fogareiro elétrico, usado para derreter cola de encadernação, que teria sido esquecido ligado por determinado aluno.
O fogareiro da marca Faeme é este das fotos e se encontra exposto no museu do Caraça. Estranho também é que o tal fogareiro não ostenta sinais visíveis de que tenha atuado como a causa de tão violento incêndio. Como se vê pelas fotos, o fogareiro não apresenta nem uma chamuscada sequer! Muito pelo contrário: está com uma cara de inocente! Aliás, tudo isso está a cara da Ditadura Militar.
Acho que o próximo passo é requerer junto à Biblioteca do Caraça cópia de outro relato existente sobre incêndio que é do disciplinador dos alunos, que também testemunhou e escreveu sobre o ocorrido. Vou tentar também contato com o aluno que teria esquecido o fogareiro ligado e que atualmente vive na vizinha Itabira. Para compreender o contexto do possível incêndio criminoso do Caraça, leia o texto: Os Royalties da Mineração na Contra-Conjuração Mineira Contemporânea

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