O incêndio ocorrido no Caraça em 28 de maio de 1968, há
exatos 46, anos é um fato que intriga por dois motivos. Primeiro, por ter
ocorrido em 1968, o ano de chumbo e o mais conturbado da Ditadura Militar
instalada no Brasil a partir do Golpe de 64. Foi também em 68 que houve a Marcha
dos Cem Mil, a edição do AI-5, fechamento do Congresso, etc. Segundo, porque depois do sinistro o Colégio
encerrou suas atividade. Junto da Escola de Minas de Ouro Preto, do Seminário
de Mariana, o Colégio do Caraça é uma das mais fundamentais instituições na
formação da identidade, essencialmente, mineira. Minas da mineração do ouro, do
diamante e que também deveria ser Minas na mineração do ferro. Da chamada Minas
Geratriz que fundiu de maneira sem igual os três elementos étnicos
fundamentais: o índio, o africano e o europeu, gerando as bases antropológicas
para o Brasil que conhecemos hoje.
E certo que o Caraça não se envolvia, diretamente, na
política. O que não se pode dizer de seus alunos. Do humanismo e da filosofia
do Caraça formaram-se o presidente Afonso Pena , o governado Artur Bernardes e
tantos outros ex-alunos que se tornaram senadores, deputados e autoridades
eclesiásticas. Gente que conhecia e defendia Minas.
Recentemente, estive no Caraça para colher mais informações
sobre o incêndio de 68 que atingiu em cheio a famosa biblioteca, uma das mais
importantes da América Latina, consumindo-lhe cerca da metade de seu rico
acervo de 30 mil livros, repleto de preciosidades. O primeiro documento que
busquei foi o Laudo, determinando a causa do incêndio, que a equipe do Corpo de Bombeiros que promoveu o
rescaldo do sinistro, deveria ter confeccionado e a bibliotecária me informou
que não tinha conhecimento da existência de tal documento, o que me parece
muito estranho e se alinha à tese de incêndio criminoso.
A tese, atualmente, admitida para a causa o incêndio do
Caraça é a baseada no relato de um ex-aluno que vivenciou os acontecimentos
daquela madrugada de 28 de maio de 1968 e que não podia ser de outra cidade,
senão João Monlevade. Seu nome é Sylvio de Menezes Filho e segundo seus
registros o incêndio teria se iniciado de um fogareiro elétrico, usado para
derreter cola de encadernação, que teria sido esquecido ligado por determinado
aluno.
O fogareiro da marca Faeme é este das fotos e se encontra
exposto no museu do Caraça. Estranho também é que o tal fogareiro não ostenta sinais
visíveis de que tenha atuado como a causa de tão violento incêndio. Como se vê
pelas fotos, o fogareiro não apresenta nem uma chamuscada sequer! Muito pelo
contrário: está com uma cara de inocente! Aliás, tudo isso está a cara da Ditadura
Militar.
Acho que o próximo passo é requerer junto à Biblioteca do Caraça
cópia de outro relato existente sobre incêndio que é do disciplinador dos
alunos, que também testemunhou e escreveu sobre o ocorrido. Vou tentar também
contato com o aluno que teria esquecido o fogareiro ligado e que atualmente
vive na vizinha Itabira. Para compreender o contexto do possível incêndio criminoso
do Caraça, leia o texto: Os Royalties da Mineração na Contra-Conjuração Mineira Contemporânea.
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