quinta-feira, 7 de abril de 2011

Crucifixo, Fé, Cultura, História e Legitimidade do Poder

Sinceramente, sem abordar nesta oportunidade o atrapalhado elemento político prandinista que tocou o caso, não vejo toda essa polêmica envolvendo o crucifixo da Câmara como uma questão de fé. Mas, sim como uma questão histórico-cultural. Nosso país e nosso estado foram fundados sobre as bases institucionais do catolicismo. Ou seja, a Igreja não era apenas uma autoridade moral ou “religiosa”, mas, principalmente, o instrumento através do qual o poder temporal do rei se legitimava. Hoje, na democracia, o poder do Estado é legitimado pelo voto. Aceitamos ser governados por aqueles que são eleitos pelo povo para tal. Antes da proclamação da república, em 1889, as coisas não funcionavam assim. No Brasil Colonial e Imperial, o poder era legitimado pela vontade de Deus, através de toda uma sistemática institucional que tinha origem no Vaticano. Naquela época, dificilmente, um rei português ou um imperador brasileiro governaria sem o apoio do Papa. Daí, a origem histórica da conjunção entre Estado e religião que explica a presença de objetos de significado religioso católico em órgãos públicos, hoje. Ao retirar o crucifixo do plenário Câmara, sob o meu entender, Pastor Carlinhos tocou muito mais numa questão de tradição, de história e de cultura, do que de fé, propriamente dita. E acredito que tenha sido apreciando este aspecto da questão que a Justiça determinou a volta da imagem para o plenário do Legislativo. Assim, a afirmativa que se tem ouvido pela cidade de que as demais religiões também deveriam ingressar com pedido para participarem do plenário da Câmara com suas imagens, não faz o menor sentido, a não ser que demonstrem que também já se caracterizaram, sob o ponto de vista histórico-institucional, como instrumento de legitimação do poder do Estado em algum período da história brasileira. O país é laico, o que significa que não deva haver antagonismo entre o Estado e a religião, mas sim espaço para toda a pluralidade de fé e de culto. No entanto, como já dito, a questão aqui não apenas de fé, mas muito mais de história, tradição, costumes e cultura.

2 comentários:

  1. Bom cmentário, Fernando. A questão é histórico/cultural.

    Um abraço.

    Teotino.

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