quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O Novo de Novo

Uso a mesma marca de shampoo, há pelo menos cinco anos. E, durante todo esse tempo, não houve, sequer uma embalagem que eu comprasse que não viesse carimbada com a expressão: NOVO. Ligo a televisão e só ouço: novo Gol, nova margarina, novo Toyota e mais um mote de coisas novas. Hoje, o NOVO é, automaticamente, recebido como desejável, independentemente, de ser bom ou não. O mercado, por meio das mais diversas ferramentas publicitárias, conseguiu, de forma incontroversa, consolidar no imaginário das pessoas que o NOVO, pelo simples fato de ser novo, é bom. Ninguém mais se pergunta se determinada situação ou objeto é melhor ou pior do que aquele outro. Basta que ele seja NOVO para ser considerado bom. Em se tratando apenas de relações de consumo, a ditadura do NOVO pode ser vista como um uma estratégia para induzir o consumo em massa, pois o que é NOVO hoje se torna velho amanhã e, assim, deve ser, rapidamente, substituído por algo mais NOVO ainda. Até aí, é de se entender. O capitalismo vive da produção em escala e, consequentemente, do consumo em massa. A questão se torna grave, quando o NOVO, por falta de limites, ultrapassa a barreira das relações de consumo e vem atingir valores sócio-culturais que, apesar de antigos, estão diretamente ligados à condição da pessoa humana. E numa sociedade, em que a mídia, sob a bandeira do NOVO, dita que o indivíduo não mais é o que pensa ou o que faz, mas sim o que tem, isso vai ocorrer com ainda mais facilidade. Assim, está criada a máquina de desconstruir tudo aquilo que não é novo e vai girando o rolo compressor, indiscriminadamente, sobre qualquer coisa ou situação que seja vista como antiga ou como, simplesmente, não nova. Aí, tudo vem abaixo: pode ser um casarão setecentista da Estrada Real ou os valores milenares da família, por exemplo. Basta não ser novo para ser destruído.O problema é que os valores humanos não podem ser renovados, o tempo todo. Eles são, na verdade, fruto de uma longa e penosa evolução que vem ocorrendo há milênios, um passo firme atrás do outro. E em qualquer caminhada, para que um dos pés avance é necessário que o outro sustente o peso do corpo no passo anterior, ou seja, na experiência passada.

Um comentário:

  1. Parabéns. Excelente texto. A ditadura do novo é uma invenção do marketing americano que submete o planeta inteiro. Consumir é o verbo da contemporaneidade.

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