quinta-feira, 24 de junho de 2010

A História se Repete: Foi-se o Ouro e Agora, vai-se o Minério

Nós, mineiros, parecemos fadados à lamentar, eternamente, pela voraz espoliação de nossa imensa riqueza aurífera. Historiadores calculam que, desconsiderando o intenso contrabando e a criatividade dos extravios, dos terrenos aluviais e das galerias subterrâneas e de Minas foram extraídos não menos que 800 toneladas de ouro puro. Metade desta enorme riqueza foi dividida entre Portugal, o Vaticano e a corte dos Habsburgos da Áustria, a dinastia absolutista mais influente da Europa, na época, da qual, não por acaso, descende a arquiduquesa e primeira esposa de Dom Pedro I, a Imperatriz Leopoldina. A outra metade do ouro mineiro foi parar nas mãos dos ingleses que, em 1703, pouco depois do descobrimento das ricas jazidas em solo brasileiro, impuseram à Portugal a celebração do Tratado de Methuen, também conhecido como o Tratado dos Panos e Vinhos, no qual, entre outras coisas, se estabeleceu que 50 por cento de todo o ouro encontrado na colônia portuguesa caberia à Inglaterra. Enquanto em Portugal, o ouro mineiro foi devorado pelo insaciável fausto da corte de Dom João V, na Inglaterra ele foi poupado, gerando o acúmulo de capital necessário para que o país se tornasse o pioneiro na Revolução Industrial. De uma forma ou de outra, o ouro subtraído das entranhas de Minas multiplicou por três a circulação monetária na Europa, já que era e ainda é usado como lastro para emissão de moeda, permitindo o enriquecimento daquele continente. E aqui, nas Minas Gerais, além das Igrejas Barrocas e do casario colonial, após a corrida do ouro, restaram apenas a subsistência e a decadência. Hoje, um novo ciclo de mineração ocorre em nossas terras. Tão importante como foi o ouro mineiro para a Revolução Industrial, agora é o minério de ferro, um dos principais insumos do Mundo Capitalista. Uma comparação simples pode nos dar uma idéia da colossal riqueza que representa o minério de ferro, muito maior que a do ouro que nos foi subtraído. Considerando a cotação do ouro, hoje, em 70 reais o grama, 800 toneladas do metal, corresponderiam a 56 bilhões de reais. Somente nos primeiros 5 meses deste ano, as exportações mineiras de minério de ferro alcançaram a incrível soma de 17 bilhões de reais. Ou seja, se as coisas continuarem como estão, em 15 meses, Minas terá perdido, em valores monetários nominais, o correspondente a todo o ouro levado pelos portugueses. A conta é meio grosseira, mas nos permite fazer um juízo de valor do que estamos vivendo em Minas. Ao contrário do ouro, que, apesar pilhado, moldou nossa cultura e nosso jeito de ser, o minério de ferro vai se esvaindo, deixando para traz nada mais que solos degradados, rios contaminados, destruição e pobreza. A política nacional de Royalties destinada ao setor da mineração é uma verdadeira afronta ao povo de Minas. Enquanto petroleiras pagam compensações vultosas pela exploração do petróleo, os municípios mineiros são ultrajados com contrapartidas aviltantes das mineradoras. Cruzar os braços e ver uma triste história se repedir não pode ser considerada uma opção. Afinal, errar uma vez é humano, errar duas é estupidez. Reforma nos Royalties da mineração, já!

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