quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Última Roda D'água de Monlevade Desaba em Museu Fechado e Destelhado


Como também era engenheiro, João Monlevade era fascinado por máquinas. Não é por menos que foi ele o primeiro a colocar em funcionamento (1828) uma máquina a vapor, empregada em método industrial no Brasil e submetida a uma escala regular de produção. 
Monlevade também tinha especial interesse pelo aproveitamento do potencial hidráulico local. Monlevade desviou um ribeirão que descia por onde hoje é o Bairro Vila Tanque, fez uma cascata de 55 metros de altura no sopé da montanha ao fundo do Solar Monlevade e aproveitou a água para mover uma série de engenhos e maquinários. Em 1853, ele escreveu:

“Das montanhas vizinhas desce um córrego, o qual, por meio de um rego, forma a pequena distância, e a vista da casa, uma cascata de 180 pés de altura a qual parece obra da natureza ... Esta água repartida por todas as necessidades da casa , serve também para irrigações, e refrescando o ar, também deleita a vista.”
Depois que descia pela cascata de 55 metros na montanha, a água era conduzida por um rego pelo quintal do Solar Monlevade, onde era aproveitada para mover diferentes maquinismos. Ele também escreveu:
“Esta água é muito importante dando, mesmo no terreiro, impulso a um engenho de pilões, moinho de fubá à moda européia, ralador de mandioca, ventilador (para os fornos), etc.”
Por fim, a água da cascata era conduzida em canais de alvenaria de pedra para a Fábrica de Ferro de Monlevade onde era utilizada para mover outras duas rodas d’água, conforme também registrado por Monlevade:
“Na fábrica velha (houve 02 fábricas) existem duas rodas hidráulicas poderosas ... A mesma casa contem o engenho de serrar a madeira com rapidez, empregando juntas as folhas que se quiser, assim como possui uma máquina de tornear o ferro e as madeiras de todos os tamanhos.”
Portanto, existiram vários engenhos movidos pela água na Fabrica de Ferro Monlevade. O último deles a ainda se encontrar de pé era o Engenho de Pilões, utilizado “para reduzir em pó a pedra de ferro, quando não se emprega a jacutinga na fundição, assim como para sacar certas borras ricas de partículas de ferro, as quais lavadas e refundidas dão um ferro de superior qualidade”, como também descreveu o próprio Monlevade. Recentemente, a roda d'água do Engenho de Pilões, que integra o acervo do Museu Monlevade, mantido destelhado e fechado pela Arcelormittal, desabou devido aos efeitos da chuva.  

Incoerência Editorial: jornais que comemoram os 200 anos da chegada de Monlevade se calam diante da destruição do patrimônio histórico



Neste ano de 2017, em que são comemorados os 200 anos da chegada de João Monlevade ao Brasil, vi muito jornal local escrevendo sobre a história de Monlevade. Houve até os que comemoram os 200 anos da chega de Monlevade ao lugar que hoje é o município homônimo, o que não é verdade pois se acredita que o pioneiro só tenha se instalado aqui, a partir de 1824 ou 25. Evidência histórica que se tem sobre a instalação de Monlevade em São Miguel remete ao ano de 1828, que também é o ano da chegada do Martelo de Forja a Vapor e demais equipamentos. O que ouvi de bobagem sobre a história de Monlevade neste ano! Os que se saíram melhores foram os que plagiam textos, descaradamente.
Estranho é que, neste mesmo ano de 2017, só não vi os mesmos jornais denunciarem a situação de abandono e de depredação por omissão em que se encontra o Museu Monlevade, destelhado, fechado e com o acervo se perdendo na chuva, como é o caso do Engenho de Pilões de Monlevade, cuja roda d’água desabou, recentemente. 
Donde se conclui que o interesse dos jornais locais pela história de Monlevade não passa de um vergonhoso engodo editorial, pois se de fato apreciassem a história e a identidade locais, não se furtariam ao papel de Imprensa para denunciar a destruição das peças do Museu, como tem ocorrido. Falta coerência ao editorial de jornal que, oportunistamente, comemora os 200 anos da chegada de Monlevade ao Brasil e, ao mesmo tempo, se calam diante da irreparável perda do patrimônio histórico monlevadense.

terça-feira, 28 de novembro de 2017

Parte da Roda D'água do Museu Monlevade Desaba


Lembro-me muito bem de que em março de 2016, quando, pela primeira vez, denunciei que o Museu Monlevade, se encontrava destelhado, com o acervo sujeito à ação nociva das intemperes, imediatamente, apareceu um bajulador do poder econômico para afirmar que “aquela roda d’água de braúna duraria mais 200 anos do jeito que estava”. 
No domingo, pude verificar com tristeza que parte da Roda D’água que integra o precioso acervo do Museu Monlevade não suportou a falta de zelo com o patrimônio histórico nem as chuvas dos últimos dias e desabou, como se vê pela foto anexa. 
No Relatório de 1853, o próprio Monlevade cita, expressamente, a aludida Roda D’água, explicando a sua função, conforme se transcreve:

“Um bicame, ou tanque d’água, colocado a 30 palmos acima do fundo do quintal e no meio da casa está recebendo a água toda do ribeirão, dando a força motriz para as duas rodas, e o vento necessário por meio de quatro trompas, repartido em canais de braúna por todas as partes. Há também duas mãos de pilões movidas por uma das rodas , as quais servem para reduzir em pó a pedra de ferro, quando não se emprega a jacutinga na fundição, assim como para sacar certas borras ricas de partículas de ferro, as quais lavadas e refundidas dão um ferro de superior qualidade.”
Pelo visto, o bajulador errou sua previsão em mais 198 anos, já que depois de denunciada a falta de telhado no Museu Monlevade, a respectiva Roda D’água não se suportou de pé nem dois anos. O bicame de madeira localizado acima da roda também já dá sinais de grande deterioração, como os demais itens de madeira do destelhado Museu Monlevade, mantido pela Arcelormittal. É assim que se destrói um país!

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Outro Ano sem Bingo no Hospital Margarida


Como se vê, pois o mês de dezembro já dá sinais de alvorecer, mais uma vez o Hospital Margarida não poderá contar com uma importante fonte de receita que foi o tradicional Bingo do HM. No final do ano passado, o atual provedor, José Roberto Fernandes, descredenciou a Associação dos Amigos do HM, entidade sem fins lucrativos, a fim contratar uma empresa de Viçosa, reduto eleitoral de Rodrigo de Castro, para organizar o evento. É a chamada "filantropia", quando troca-se uma entidade sem fins lucrativos por outra comercial para realizar um evento beneficente. Entendeu? Nem eu, muito menos o Judiciário. 
O bingo abusivo, então, foi suspenso pela Justiça, a pedido do Ministério Público que fundamentou: 

...“Percebe-se, portanto, que a referida empresa pode estar fazendo muito dinheiro às custas de consumidores desavisados, que, estimulados pelo caráter “beneficente” do bingo, pagam pelas cartelas sem ter noção de que parte do valor que está pagando não reverterá às entidades que emprestam seus nomes aos bingos, mas sim ao organizador do evento, o que denota que tais bingos não são totalmente beneficentes, como no presente caso”...

 Ocorre que a tal empresa de Viçosa faturou alto com a venda das cartelas, sumiu e ninguém viu a cor do dinheiro. O provedor, apesar de figurar como contratante na avença e de ocupar o cargo que ocupa, alega que não tem nada com isso.
 Em 2017, a novela continua: nada de Bingo, até porque a credibilidade de um dos mais importantes eventos do calendário monlevadense foi, completamente, destruída pelo atual provedor Jose Roberto Fernandes. Ninguém tem mais coragem de comprar uma cartela do Bingo do Hospital Margarida.

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Dorinha X Conceição Winter: Moreira se Movimenta nas Vésperas do Julgamento de Cassação de Simone



Na semana passada circulou a notícia de que a ex-vereadora, Dorinha Machado, deixou o cargo de secretária de trabalho social do governo Simone/Carlos Moreira. Segundo o noticiado, a partir de janeiro próximo, a pasta seria ocupada por Conceição Winter, terceira colocada na disputa pela Prefeitura de João Monlevade nas últimas eleições. 
Trata-se, claramente, de um movimento preparatório de ampliação de base política para a disputa do próximo pleito eleitoral no Município, já que Dona Conceição obteve 9 mil votos nas últimas eleições, a de resultado mais apertado na história de Município, em que se apurou a diferença de apenas 126 votos entre os primeiros e os segundos colocados. 
O que estranha é o momento de sua ocorrência, já que as alianças políticas com vistas às eleições municipais, geralmente, ocorrem após as eleições gerais para presidente, governadores, deputados e senadores, que somente ocorrerão em outubro do próximo ano. 
A notícia da substituição de Dorinha por Conceição, não coincidentemente, chega no momento em que os processos de cassação dos mandatos de Simone e de Fabrício aguardam pauta para inclusão de julgamento no TRE/MG. 
Assim, a análise que se faz diante da substituição, neste momento, na Secretaria de Trabalho Social é que o grupo político de Carlos Moreira considera como grande a probabilidade de cassação dos mandatos de Simone e Fabrício e já busca aliança com Conceição Winter para disputar as eleições suplementares que, logo após, serão designadas pelo TRE/MG

Asfalto sobre o Calçamento Histórico de Monlevade



Na semana passada, puxa-sacos do governo Simone/Carlos Moreira comemoram com estardalhaço o asfaltamento de ruas do Centro Histórico de Monlevade, da chamada Cidade Industrial de Monlevade, a primeira vila operária planejada da América - Latina.
Trata-se de mais um ato inconsequente que demonstra como João Monlevade insiste no erro de não preservar sua memória, sua história, sua identidade e seus sítios com potencial turístico. Monlevade mostra que não aprendeu nada com a demolição da Praça Ayres Quaresma e, pior, segue cometendo os mesmos erros do passado diante de seu patrimônio histórico e cultural.
É triste testemunhar o asfaltamento do pavimento em pé-de-moleque de uma via que, muitas das vezes, corresponde a trecho da Estrada Real por onde passavam as numerosas tropas que mantinham negócios com a Fábrica de Ferro de Monlevade ou por onde trafegavam os carretões de Monlevade, levando o carvão para abastecer os fornos das forjas ou para a caldeira da máquina a vapor. É triste ver sumir debaixo da camada de asfalto o pavimento original da Vila Operária de Louis Ensch e de Gaston Barbanson. Isso sem falar que o asfaltamento favorece o aquecimento do ambiente urbano e impede a absorvição da água da chuva, dificultando o abastecimento do lençol freático, das nascentes e favorecendo a ocorrência de enxurradas e inundações. 
Com suas medidas populistas, motivadas apenas pela busca do voto certeiro, Moreira já destruiu uma Rodoviária, a viabilidade econômica do DAE (taxa mínima), a isenção política da Rádio Cultura, o PA, está arrebentando com o Hospital Margarida e, agora, não escapa nem a memória de João Monlevade.

Cruz Invertida no Túmulo de Monlevade



Monlevade e sua esposa, Clara Sophia, encontram-se sepultados no Cemitério Histórico, localizado nas proximidades da sede de sua Fábrica de Ferro, o único sítio histórico, de muitos que se encontram sob a administração da Arcelormittal, que é aberto à visitação, pelo menos uma vez por ano, no dia de finados.
Seu túmulo é todo em alvenaria de pedra e encerrado por uma imensa laje retangular, sobreposta por uma pesada cruz, também de pedra, cujo cabo se encontra seccionado em três partes. Como se vê pela foto, o segmento superior da cruz, compreendido pelos braços e topo da mesma, se encontra invertido em relação ao restante do conjunto, está de ponta-cabeça. A situação não é nova e deve vir se estendendo desde o fim da década de 90 quando o túmulo de Monlevade foi violado pela última vez. 
Se é intencional ou não, a inversão da cruz do túmulo de Monlevade, além de demonstrar certa inaptidão para a conservação do patrimônio histórico em suas características originais, não deve ser bem vista pelos supersticiosos. Sabe-se que a cruz invertida pode ser associada ao anticristo, situação, no mínimo, embaraçosa para a memória de Monlevade. Como existe muito mais entre o céu e a terra do que possa julgar nossa vã filosofia, a cruz invertida no túmulo de Monlevade talvez explique a tenebrosa era de atraso e retrocessos por que tem passado o Município nas últimas décadas, principalmente, no campo político.