quinta-feira, 7 de julho de 2022

Fabrício e a Política do Mexido e Circo

Foto/Divulgação
 


O homem não é um ser racional. O homem é um ser cultural. E há culturas que conseguem inserir o homem num ambiente de racionalidade. Quando isso acontece, o desenvolvimento deslancha. João Monlevade já foi, sem dúvida, uma cidade muito mais rica, culturalmente. Isso ocorreu quando a Belgo-Mineira era a locomotiva cultural do município que fomentava toda uma sistemática cultural local que ia desde a implantação de uma arquitetura identitária, passando pela instituição de um calendário de festas, eventos e indo muito além, até uma criação de uma cultura de planejamento e ordenamento urbano, por exemplo.   Afinal, a cultura é muito mais do que festas, aulas de pintura e de dança. Para se ter uma ideia, naqueles tempos havia até cinema, coisa que não existe mais há muito tempo. Mas, infelizmente, com o fechamento do viaduto do Morro do Geo e a demolição da arquitetura da Praça Ayres Quaresma ocorrido em 1987, a Belgo-Mineira acabou e com ela se foi a grande locomotiva cultural do município. Desde então, Monlevade nunca mais viveu aquela pujança cultural dos áureos tempos da Belgo-Mineira. Ao contrário, sob o ponto de vista cultural, a cidade se mostrou muito pouco conservadora, deixando se perder boa parte de sua arquitetura, o cinema, muitas tradições, a urbanidade, a cordialidade, o padrão educacional, os grandes carnavais, os festivais, os eventos esportistas, etc, etc.    

Recentemente, tem se visto a Casa de Cultura de João Monlevade realizando muitas festas no Município. Mas, nenhuma delas é, autenticamente, monlevadense. A Casa de Cultura, infelizmente, não tem conseguido realizar o resgate da cultura local. Foi o caso, por exemplo, do Festival Gastronômico Mistura, realizado no último fim de semana na Praça do Povo, com a co-participação luxemburguesa, a mesma nacionalidade que fundou a Belgo-Mineira a partir de 1935.  Quando o evento foi anunciado com o nome de “Mistura”, ficou a impressão de que o carro chefe do festival gastronômico seria o mexido. Afinal, um bom mexido de arroz, feijão, sobras do almoço e pimenta malagueta pode ser bem gastronômico e bastante monlevadense, sobretudo, no jantar. Contudo, não foi o que aconteceu. Não se viu nenhum prato tipicamente monlevadense no festival. Nada de vaca atolada, feijão tropeiro, galo-pé, joelho de porco, frango com quiabo, etc, etc, no festival. Também não se viu nenhum prato original daqueles que eram servidos, por exemplo, no Cassino Monlevade, nem nada de bata-doce que era o principal produto agrícola consumido na Fazenda Carvoeira e Fábrica de Ferro Monlevade, fundada a partir de 1828. Um feijão tropeiro feito com farinha de batata-doce teria sido muito gastronômico e, autenticamente, monlevadense.  Em outras palavras, foi um festival gastronômico nada autêntico diante da cultura monlevadense. Nem mesmo os ingredientes dos pratos premiados no festival foram divulgados.  Nova Era, por exemplo, realizará um Festival Gastronômico nos próximos dias na Fazenda da Vargem, cujo ingrediente principal será um produto local, a mandioca. Já em Monlevade, ninguém sabe do que eram feitos os pratos que venceram o festival.

O festival gastronômico “Mistura” foi mais uma mostra da dificuldade existente em João Monlevade de se resgatar a cultura local e, de outro lado, da aptidão da Prefeitura do PT em realizar festas, enquanto a cidade se encontra imunda, mal cuidada, com recorrentes cortes no abastecimento de água, falta de atendimento adequado no Hospital Margarida, etc. Infelizmente, não destoou da política de pão e circo vigente com vistas a eleger Fabrício prefeito em 2024. Tivesse sido mexido e circo, teria sido mais autêntico.