Imagem/divulgação: https://globoplay.globo.com/role-nas-gerais/t/wLvCcPHZhh/detalhes/
Para se fazer uma análise sobre o programa “Rolê Nas Gerais”, exibido aos sábados na Globo Minas é preciso voltar aos protestos
de 2013. Como todos podem se lembrar, a Rede Globo também foi alvo
dos protestos de 2013. "Fora
Globo, o povo não é bobo”, é o que também se gritava nas ruas. Naquela ocasião, o povo foi às ruas para protestar
contra o sistema, o que incluiu a Rede Globo, porque, apesar de deter o monopólio
da grande mídia nacional, ela, visivelmente, não divulga para o Brasil suas diversas realidades,
sejam elas, sociais, políticas, históricas, econômicas, geográficas,
antropológicas, etc.
Então, para se enquadrar aos anseios manifestados pelo povo
brasileiro nos protestos de 2013, a Globo Minas incluiu em sua grade de
exibição o programa “Rolê nas Gerais”, que hoje é aquele que se propôs a pautar a maior e mais grave questão social brasileira: os guetos
de exclusão a que se chamam favelas. Quando vi, não acreditei. A
Globo pautando favela!!? Achei muito estranho porque a Globo tem um histórico
conservador e será somente quando as muitas realidades das favelas passarem a
ser pautadas pela grande mídia que as coisas poderão mudar no Brasil. A Rede Globo
foi fundada em função do Golpe de 64, que como todos, foi um golpe conservador,
destinado a conservar os status quo e, portanto, a impedir que um governo progressista promovesse as várias reformas institucionais, anunciadas
naquela ocasião. A Globo também não tem um programa
sério para discutir política, o que reafirma o quão conservadora ela
é. Aliás, o Brasil, hoje, só é o país do futebol porque o futebol é
um dos temas mais pautados pela Globo. Se o Brasil pudesse contar com um programa na grande mídia para discutir política, certamente, já poderia estar muito
mais adiantado em todas as áreas. Mas, há atrasados 57 anos, isso não
ocorre.
Então, diante de um inédito programa na Globo que se propunha a
pautar as favelas de Minas Gerais, eu não podia fazer outra coisa, senão assistir. Assisti e, como suspeitado, o
resultado não foi um tremendo engodo. Infelizmente, programa “Rolé nas
Gerais” não pauta as diversas realidades das favelas mineiras, mas apenas o
aspecto cultural das mesmas. Tudo que distingue o Brasil e estabelece a identidade
nacional é em grande medida afro-brasileiro. Há cultura na favela. Isso é
inegável e uma amostra da imensa capacidade desdobramento do povo brasileiro,
porque produzir cultura naquele ambiente de exclusão social por si só já é um
ato de heroísmo. Contudo, não é pautando, dissimuladamente, apenas a cultura das
favelas que tal realidade será superada. É preciso, mais do que
isso, pautar a situação de exclusão completa que define as favelas brasileiras.
E isso, o programa “Rolé nas Gerais” não faz. A favela vai muito além da
pobreza! É preciso pautar as favelas como os guetos de exclusão que
elas são. É preciso pautar a ausência de acesso aos serviços públicos
essenciais que vigora e define as favelas, como o arruamento, o ordenamento
urbano, as condições das moradias, o abastecimento de água, a coleta de lixo, o fornecimento de eletricidade e serviços de comunicação, a
coleta do esgoto, a saúde, a educação, a segurança, o direito de ir e vir, etc,
etc. É preciso mostrar como a ausência de acesso, sobretudo, ao serviço de
educação faz com que as pessoas excluídas nas favelas ocupem postos de
trabalho, nos quais trabalharão toda uma vida sem jamais aferirem o suficiente
para adquirem dignidade e terem acesso aos bens e serviços do Brasil. É preciso
pautar a infância nas favelas e mostrar como é difícil para as crianças o
acesso a uma educação de qualidade, pois por definição não há escolas nas
favelas, salvo raras exceções. É preciso mostrar a dificuldade de estudar, a
falta de estrutura para tal e como as crianças ficam, completamente,
desassistidas naquele ambiente de exclusão social. É isso que queremos ver no
programa “Rolé nas Gerais”, a realidade nua e crua das favelas. Para quem se
deixa influenciar pela Rede Globo é muito difícil pensar, mas o Brasil apenas
se tornará um país desenvolvido e rico quando as massas forem integradas à
sociedade brasileira e, portanto, quando não existirem mais favelas, como
os guetos de exclusão que são. E de engodo, já basta a ditadura monocromática
do futebol. Na próxima, vou escrever sobre o "Globo Esporte", que deveria se chamar "Globo Futebol".