quarta-feira, 27 de abril de 2022

Derrota para Fabrício: Heineken vai para Passos


 Foto: divulgação

Recentemente, depois de a Heineken desistir de se instalar em Pedro Leopoldo, a prefeitura de João Monlevade entrou no páreo para o Município sediar a fábrica da cervejaria. O investimento previsto seria de 1,8 bilhão de reais, com a criação de centenas de postos de trabalho diretos e indiretos.

A disputa foi encabeçada, localmente, pelo secretário municipal de planejamento e desenvolvimento econômico e vice-prefeito Fabrício Lopes (Avante). Na ocasião o prefeito Laércio Ribeiro chegou a argumentar que o município possuía recursos hídricos em abundância, o que, segundo ele, era um diferencial em relação às outras cidades que também pleiteavam a fábrica. Contudo, a tentativa não avançou - desculpe o trocadilho. Hoje a imprensa mineira divulgou que a fábrica da cervejaria será instalada no município de Passos, no sul do estado.     

“Recursos hídricos em abundância”, por si só, jamais serão são suficientes para atrair a instalação de uma grande cervejaria, se o Departamento de Água e Esgotos (DAE) não tem a capacidade de fornecê-los a seus consumidores de forma continuada e segura. Certamente, as constantes interrupções no abastecimento de água tratada anunciados pelo DAE, semanalmente, pesaram para a derrota do município na disputa.           


domingo, 24 de abril de 2022

"Rolé nas Gerais" da Rede Globo


Imagem/divulgação: https://globoplay.globo.com/role-nas-gerais/t/wLvCcPHZhh/detalhes/

 Para se fazer uma análise sobre o programa “Rolê Nas Gerais”, exibido aos sábados na Globo Minas é preciso voltar aos protestos de  2013. Como todos podem se lembrar, a Rede Globo também foi alvo dos protestos de 2013. "Fora Globo, o povo não é bobo”, é o que também se gritava nas ruas. Naquela ocasião, o povo foi às ruas para protestar contra o sistema, o que incluiu a Rede Globo, porque, apesar de deter o monopólio da grande mídia nacional, ela, visivelmente, não divulga para o Brasil suas diversas realidades, sejam elas, sociais, políticas, históricas, econômicas, geográficas, antropológicas, etc.

Então, para se enquadrar aos anseios manifestados pelo povo brasileiro nos protestos de 2013, a Globo Minas incluiu em sua grade de exibição o programa “Rolê nas Gerais”, que hoje é aquele que se propôs a pautar a maior e mais grave questão social brasileira: os guetos de exclusão a que se chamam favelas.  Quando vi, não acreditei. A Globo pautando favela!!? Achei muito estranho porque a Globo tem um histórico conservador e será somente quando as muitas realidades das favelas passarem a ser pautadas pela grande mídia que as coisas poderão mudar no Brasil. A Rede Globo foi fundada em função do Golpe de 64, que como todos, foi um golpe conservador, destinado a conservar os status quo e, portanto, a impedir que um governo progressista promovesse as várias reformas institucionais, anunciadas naquela ocasião. A Globo também não tem um programa sério para discutir política, o que reafirma o quão conservadora ela é.  Aliás, o Brasil, hoje, só é o país do futebol porque o futebol é um dos temas mais pautados pela Globo.   Se o Brasil pudesse contar com um programa na grande mídia para discutir política, certamente, já poderia estar muito mais adiantado em todas as áreas.  Mas, há atrasados 57 anos, isso não ocorre.    

Então, diante de um inédito programa na Globo que se propunha a pautar as favelas de Minas Gerais, eu não podia fazer outra coisa, senão assistir. Assisti e, como suspeitado, o resultado não foi um tremendo engodo. Infelizmente, programa “Rolé nas Gerais” não pauta as diversas realidades das favelas mineiras, mas apenas o aspecto cultural das mesmas. Tudo que distingue o Brasil e estabelece a identidade nacional é em grande medida afro-brasileiro. Há cultura na favela. Isso é inegável e uma amostra da imensa capacidade desdobramento do povo brasileiro, porque produzir cultura naquele ambiente de exclusão social por si só já é um ato de heroísmo. Contudo, não é pautando, dissimuladamente, apenas a cultura das favelas que tal realidade será superada. É preciso, mais do que isso, pautar a situação de exclusão completa que define as favelas brasileiras. E isso, o programa “Rolé nas Gerais” não faz. A favela vai muito além da pobreza!  É preciso pautar as favelas como os guetos de exclusão que elas são. É preciso pautar a ausência de acesso aos serviços públicos essenciais que vigora e define as favelas, como o arruamento, o ordenamento urbano, as condições das moradias, o abastecimento de água, a coleta de lixo, o fornecimento de eletricidade e serviços de comunicação,  a coleta do esgoto, a saúde, a educação, a segurança, o direito de ir e vir, etc, etc. É preciso mostrar como a ausência de acesso, sobretudo, ao serviço de educação faz com que as pessoas excluídas nas favelas ocupem postos de trabalho, nos quais trabalharão toda uma vida sem jamais aferirem o suficiente para adquirem dignidade e terem acesso aos bens e serviços do Brasil. É preciso pautar a infância nas favelas e mostrar como é difícil para as crianças o acesso a uma educação de qualidade, pois por definição não há escolas nas favelas, salvo raras exceções. É preciso mostrar a dificuldade de estudar, a falta de estrutura para tal e como as crianças ficam, completamente, desassistidas naquele ambiente de exclusão social. É isso que queremos ver no programa “Rolé nas Gerais”, a realidade nua e crua das favelas. Para quem se deixa influenciar pela Rede Globo é muito difícil pensar, mas o Brasil apenas se tornará um país desenvolvido e rico quando as massas forem integradas à sociedade brasileira e, portanto, quando não existirem mais favelas, como os guetos de exclusão que são. E de engodo, já basta a ditadura monocromática do futebol.  Na próxima, vou escrever sobre o "Globo Esporte", que deveria se chamar "Globo Futebol". 

 

quarta-feira, 20 de abril de 2022

O Programa "Tô Indo" da Globo na Alienação Cultural do Mineiro



O programa “Tô Indo”, exibido nas manhãs de domingo pela Globo Minas, é mais uma tentativa fracassada e intencional da Rede Globo de fazer circular os verdadeiros alicerces identitários e culturais do povo mineiro.
Mas, por que é fracassada? É fracassada porque sempre associa o mineiro ao já batido, cansativo e enganoso estereótipo de caipira. Segundo, o conteúdo veiculado pelo programa televisivo, Minas Gerais é, invariavelmente, uma roça, coisa que o mineiro autêntico e conhecedor de sua identidade não pode admitir calado. O apresentador do programa encarna com muita propriedade aquele estereótipo de caipira e até fala como tal, incorporando um sotaque que não é o mineiro, mas sim aquele das divisas com São Paulo. Na da contra o estado vizinho. Mas, é porque Minas surgiu de um violento processo de separação, justamente, da Capitania de São Paulo, a que se denominou de Guerra dos Emboabas. Apesar de comportar vários sotaques, já que se trata de um estado-nação do tamanho da Franca, a verdadeira mineiridade não pode ser apresentada, senão pelo muito característico e autêntico jeito mineiro de falar que é aquele da Serra do Espinhaço e não os das divisas do estado. O também é muito jocoso, indiscreto, grita muito e muitas das vezes parece fugido de um sanatório. Tudo o que é incompatível com o jeito mineiro de ser. É inegável que Minas tem sim sua cultura agro-pastoril, pois é um estado grande produtor de alimentos, com muito orgulho. Além dos ciclos do Ouro e do Diamante, Minas viveu o ciclo das fazendas de café e, desde sua fundação, também sempre criou gado de corte e leiteiro, etc. Contudo, a fundação de Minas Gerais não está na roça. Na verdade, Minas Gerais foi o primeiro grande processo de urbanização do Brasil. As Minas de Ouro jamais ocorreram na roça. Basta ver Ouro Preto, a capital histórica de Minas. Ouro Preto nasceu de um processo de conurbação, rigorosamente imposto pelo Código de Posturas, isto é, nasceu da junção de várias urbes mineradoras ordenadas e padronizadas que cresciam na medida do povoamento das Minas de Ouro – uma exigência legal do Regimento de Minas. Veja a foto anexa de Ouro Preto. Veja como Ouro Preto é 100% urbanizada. Veja como o mineiro é, urbanamente, cerimonioso. 
Então, por que a televisão, invariavelmente, associa Minas à roça e o mineiro ao estereótipo de caipira? Porque se trata de um processo intencional de alienação cultural. Primeiro, que é pra domar o espírito revoltoso do mineiro. O mineiro foi, politicamente, sempre muito indomável, promotor de revoltas e sedições. Associando Minas à Roça, a televisão afasta o mineiro da política, porque na roça não há polis, no sentido grego do termo. A política só existe nas cidades, onde os cidadãos compartilham vários interesses em comum. Já na roça, o único interesse que se tem em comum com o vizinho é a via de acesso. Segundo, que é para afastar o mineiro da mineração. Você vê algum mineiro minerando hoje em dia? Não. Alguém, minera ouro em Ouro Preto, apesar do grande desemprego e dos R$300,00 o grama? Só se for escondido! Se alguém se aventurar a tirar um ourinho no Rio Tripuí, abaixo da Casa dos Contos, a polícia aparece e ele é, imediatamente, preso. Hoje o mineiro é convencido pela televisão que é caipira e não minera mais, a não ser como empregado das grandes mineradoras, muitas delas estrangeiras. E não minera porque mineração não é para caipiras. Hoje, na prática, o mineiro se encontra proibido de minerar e a alienação cultural é tão grande que ele nem se dá conta disso. Imagina o tamanho da revolta se o mineiro fosse proibido de minerar naqueles tempos do Brasil - colônia! Hoje, não! Além de proibido de minerar, o mineiro assiste a imensos desastres humanos e ambientais, sem qualquer reação a altura, porque, como caipira, acredita que a mineração é um assunto no qual não deve se meter. Aliás, pode-se dizer que as tragédias da Samarco, em Mariana, e da Vale, em Brumadinho, são produtos direitos da alienação cultural imposta a Minas porque elas são resultado de uma omissão que teve seu início no fato de o mineiro se encontrar de costas para a mineração, acreditando, erroneamente, que é caipira.