domingo, 26 de dezembro de 2021

Como o Galo forte vingador superou o insulto infame que fundou Minas Gerais

O Cruzeiro foi fundado pela colônia italiana de Belo Horizonte. O time mineiro até chegou a se chamar Palestra Itália, tendo de mudar de nome décadas mais tarde, quando o Brasil declarou guerra àquele país durante a Segunda Grande Guerra. Nada contra os italianos. O Brasil é o país onde o mundo inteiro de encontrou. Antes dos italianos, por exemplo, o molho do macarrão em Minas Gerais era preparado a partir do refogado de cebola, alho e urucum, sendo um prato mais cotidiano. Somente a partir da imigração italiana que se passou a encontrar em Minas o macarrão à bolonhesa, feito com molho de tomates, que é um prato para ocasiões mais especiais. Contudo, não foram os italianos que fundaram Minas Gerais, eles chegaram muito depois. A seguir, contarei como a escolha do Galo para ser o mascote do glorioso Clube Atlético Mineiro superou o insulto a partir do qual Minas Gerais foi fundada. 
Foram os bandeirantes paulistas que, a partir do fim do sec.XVII, descobriram o ouro, dentro de sua própria capitania, a de São Paulo, que era imensa, estendendo-se de Santa Catarina até o Mato Grosso. Muito diferente das ilustrações dos livros escolares de história, os bandeirantes não eram aqueles homens brancos, barbudos, vestidos de calça, gibão de couro e chapéus de abas largas. Na verdade, eles eram metade portugueses, metade índios. Por isso, andavam com pouca roupa, descalços e falavam o tupi. Eles também eram muito possessivos e gananciosos. Depois de descobrirem as Minas de Ouro de Mariana, Ouro Preto, Sabará, Caeté, S. J. Del Rei, etc, os bandeirantes resolveram monopolizá-las apenas para si, o que gerou imensa insatisfação do crescente afluxo de pessoas que chegavam às regiões auríferas, vindas da Bahia, de Pernambuco, do Rio de Janeiro e de Portugal, atraídas pela notícia do descobrimento de tão fabulosas jazidas. O clima ficou tenso, de um lado os bandeirantes paulistas, do outro, os forasteiros. Até que num fatídico dia, no Morro Vermelho, em Caeté, um bandeirante paulista chamou de “emboaba” um daqueles forasteiros, o que principiou um tiroteio que se multiplicou por todas as regiões auríferas, dando início à Guerra dos Emboabas. Pouco tempo depois, os bandeirantes paulistas perderam a Guerra dos Emboabas e foram expulsos das Minas de Ouro. Vencedores, os Emboabas desmembraram as Minas de Ouro da Capitania de São Paulo e fundaram a Capitania de Minas Gerais. 
Mas, o que essa história toda tem a ver como o Galo, o mascote do Clube Atlético Mineiro? Veja que Minas Gerais foi fundada em conseqüência da Guerra dos Emboabas, que, por sua vez, teve início em função de uma ofensa: “emboaba”.“Emboaba” é termo do tupi que designa uma ave pernalta, desengonçada e mal emplumada. Os bandeirantes se referiam, pejorativamente, aos forasteiros atraídos pela notícia da descoberta do ouro como emboabas porque eles calçavam longas botas cujos canos se elevavam até pouco abaixo da linha da cintura. É que as regiões das Minas de Ouro eram habitadas pelo temido jararacuçu, que do tupi significa “gigante que envenena a quem agarra”. É a cobra que mais quantidade de veneno injeta em suas prezas e a única que pica acima do joelho. Geralmente, os acidentes com cobras venenosas do Brasil ocorrem da altura do joelho para baixo. O jaracuçu, que pode chegar a mais de 3 metros de comprimento, é o único que pica acima do joelho, podendo seu bote alcançar a altura do peito de uma pessoa de média estatura. Como os bandeirantes eram metade índios, eles não se preocupavam com as cobras porque o índio as percebe muito antes delas estarem ao alcance para um acidente. Índio não pisa em cobra! Situação muito diversa da dos emboabas, que não possuíam a leitura do índio sobre o ambiente e, portanto, se viam obrigados a utilizar as longas botas a fim de prevenir a picada mortal do jaracuçu. 
Assim, 200 anos depois da Guerra dos Emboabas, quando estudantes belorizontinos fundaram o Clube Atlético Mineiro em 1908, foi preciso escolher para o time um mascote que superasse, definitivamente, aquela imagem de ave pernalta, desengonçada e mal emplumada que passara a atormentar o imaginário do mineiro desde tempos áureos . O escolhido não poderia ser outro senão ser o Galo forte vingador, galantemente, emplumado e dotado de bico voraz e esporas capazes de fulminar com pontaria o adversário, como fizeram os disparos de bacamarte no Morro Vermelho. E depois de fundado o Galo, nunca mais se ouviu falar daquela emboaba pernalta, pouco emplumada e desengonçada. Muito pelo contrário, em Minas Gerais, emboaba se tornou sinônimo de herói de guerra e a única ave sobre a qual se ouve falar é o Galo! Se foi intencional, não sei. Só sei que foi assim.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Botão de Prata Extraída por Monlevade no incêndio do Museu Nacional

Enquanto atravessava o Atlântico, em 1817,  rumo ao Brasil, o minerálogo e metalurgista francês João Antônio de Monlevade (retrato), certamente, mal poderia imaginar que, 10 anos mais tarde, estabeleceria em Minas Gerais aquela que seria a maior e mais importante Fábrica de Ferro a funcionar durante o Brasil Império e além.

O objetivo inicial da viagem de Monlevade ao Brasil era o de estudar suas jazidas minerais, mensurando-as a fim de responder, sobretudo, à grande dúvida da época: o ouro de Minas Gerais havia se esgotado ou não? E a resposta de Monlevade para aquele dilema foi um sonoro “não”. Havia ainda muito ouro a ser extraído, contudo seria necessário o emprego de novas técnicas de mineração. Para se ter uma ideia, adotando as novas técnicas de mineração difundidas por Monlevade e empregando os artefatos de ferro manufaturados em sua fábrica, apenas o Congo Soco produziria, de 1826 a 1856, 27.887 quilos de ouro puro, fazendo dele a mina que mais produziu ouro na história da humanidade.

Mas, pouco antes de assumir sua bem sucedida carreira metalúrgica no Brasil e sempre imbuído do dever de buscar proveito econômico para as jazidas minerais de Minas, Monlevade foi incumbido pelo governo da província de uma difícil empreitada, cujo sucesso lhe somaria como mais uma credencial para torná-lo a maior autoridade metalúrgica de Minas Gerais durante o sec. XIX e revelaria sua face de alquimista.

Enquanto ainda vivia em Caeté nos idos de 1825, experimentando imensa dificuldade em fundir o ferro no alto-forno devido à ausência de matas para o fabrico do carvão em escala, Monlevade foi incumbido pelo governador da província, o Visconde de Caeté, de estudar a viabilidade econômica da Galena do Abaeté, a única mina de chumbo e prata conhecida em Minas Gerais. Monlevade, então se dirigiu para o Abaeté, onde elaborou detalhado relatório mineralógico da galena e um plano para explorá-la . Em pouco tempo Monlevade extraiu da galena pelo processo químico 10 toneladas de chumbo em barras e as remeteu para Ouro Preto a 500 quilômetros de distância, com o auxílio de uma tropa de 200 muares.  Em Ouro Preto, munido de aparelhos, Monlevade submeteu parte do chumbo apurado no Abaeté a um processo de copelação, através do qual, como se ele fosse um verdadeiro alquimista, apurou um botão de finíssima prata que foi remetida como amostra para o Rio de Janeiro, aos cuidados de ninguém menos do que José Bonifácio de Andrada e Silva. O botão de prata extraída por Monlevade do chumbo do Abaeté era parte integrante do acervo de mineralogia do Museu Nacional, incendiado em 2 de setembro de 2018 no Rio de Janeiro.           

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Ex-provedor do Hospital Margarida tem sítio penhorado pela Justiça



O ex-provedor do Hospital Margarida e ex-presidente da Associação São Vicente de Paulo de João Monlevade por dois mandatos consecutivos, José Roberto Fernandes, teve um sítio penhorado pela Justiça, na semana passada.   

Alem de condenado a se abster de interferir na Clínica Urológica do Hospital Margarida, José Roberto Fernandes foi condenado pela Justiça a indenizar o médico Getúlio Garcia, que é meu pai, por dano moral praticado enquanto exerceu o cargo de provedor do HM. Já em processo de execução para pagamento da indenização judicial devida, apesar de intimado a fazê-lo, José Roberto Fernandes não quitou a dívida. Assim, mediante apresentação da respectiva certidão de propriedade expedida pelo Cartório de Registro de Imóveis da Comarca de São Domingos do Prata, o Juiz do Jesp Cível da Comarca de João Monlevade, Paulo José Rezende Borges, determinou a penhora do bem como garantia do pagamento da indenização.

O curioso é que apesar de o cargo de provedor do Hospital Margarida não ser remunerado, o terreno de 7 alqueires, situado na localidade denominada Colônia Guidoval, município de S. D do Prata, foi adquirido pelo ex-provedor José Roberto Fernandes em 21 de maio de 2020 , pouco tempo depois dele deixar o cargo no hospital, ocasião em que ele pagou pelo imóvel em dinheiro vivo a quantia de 650.000,00 (seiscentos e cinqüenta mil reais), isto é,  mais de meio milhão de reais em espécie.

O sítio do provedor agora aguarda pela expedição do auto de penhora e pode ser leiloado. É o que eu chamo de mistura de justiça dos homens com justiça divina! É verdade, quem ri por último, ri melhor!!!         

domingo, 28 de novembro de 2021

Dois Reis na História Siderúrgica de João Monlevade

A localidade que viria a originar o Município de João Monlevade vivenciou as três fases históricas da siderurgia nacional. O início de tudo se deu a partir de 1828, com a instalação da Fábrica de Ferro do minerálogo frances João Antônio de Monlevade, que empregava pesados marteletes movidos por rodas d´água para forjar as maiores peças de ferro já produzidas no Brasil, até então, algumas delas com o peso de um carro. Posteriormente, a partir de 1891, instalou-se por meio da Companhia Nacional de Forjas e Estaleiros a Fábrica de Ferro de Francisco Monlevade, neto do patrono do Município, que empregava a tecnologia da máquina a vapor no processo produtivo de uma diversa gama de artefatos de ferro para a mineração, com destaque para o Martelo-Vapor de 1,5 ton, capaz de forjar peças de ferro com o dobro de seu peso. E a partir de 1935 houve a instalação da moderníssima siderúrgica, a primeira usina integrada da América Latina, a Companhia Siderúrgica Belgo Mineira (CSBM), quando se iniciou a construção da Vila Operária planejada que daria origem ao Município e que viveria seu auge de desenvolvimento durante as décadas de 50, 60 e 70, quando a localidade de João Monlevade experimentou, em função da siderurgia, o estado de bem estar social pleno. Hoje, a Usina Monlevade pertence ao grupo Arcelormittal, que anunciou recentemente, o investimento de mais de 2,5 bilhões de reais em sua planta local, com vistas a duplicar sua capacidade produtiva para 2 milhões e 200 mil toneladas de aço por ano. 
Monlevade produz ferro e derivados desde o Primeiro Império Brasileiro. São quase 200 anos de história siderúrgica que somente se tornaram realidade graças a perspicácia de dois grandes monarcas, Dom João VI, Rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves e Alberto I, rei da Bélgica. 
 
 
A influência de Dom João VI (imagem) na história de João Monlevade foi direta e indiretamente. Indireta, porque antes da transferência da corte portuguesa para o Rio de Janeiro, o ingresso de estrangeiros em Minas Gerais era, praticamente, proibido. A partir da transferência da corte joanina, ocorreu a abertura dos portos do Brasil e a admissão de uma série de missões estrangeiras compostas por artistas, naturalistas e exploradores científicos. Assim, não fosse a presença do rei Dom João VI no Brasil e o novo contexto político por ele criado, dificilmente o frances João Antonio de Monlevade teria encontrado, enquanto estrangeiro, contexto favorável sido para ingressar em Minas. Já a influencia direta de Dom João na presença de Monlevade em Minas pode ser notada no crucial fato de que o segundo foi, pessoalmente, autorizado a ingressar em Minas pelo rei. Bastava que o rei dissesse não e Monlevade teria que dar meia volta e retornar para França. Mas, felizmente, não foi o que aconteceu. Dom João consentiu a entrada de Monlevade em Minas o que constituiu condição fundamental para que, dez anos mais tarde, ele fundasse sua Fábrica de Ferro que daria origem a tudo. É preciso compreender que os estabelecimentos metalúrgicos mantidos pela Família Monlevade ao longo do sec. XIX foram os mais importantes do Brasil Império, fama que décadas mais tarde concorreria para evidenciar a vocação siderúrgica local, a ponto de influir, decisivamente, junto ao belgas na escolha da localidade para a instalação da CSBM. Em outras palavras, não fosse a bem sucedida experiência metalúrgica anterior dos Monlevade na localidade homônima, os belgas poderiam ter escolhido outro local para instalação da CSBM. Aliás, é muito provável que o belga Gastão Barbasson tenha chegado à escolha da localidade de Monlevade para instalação da CSBM a partir dos inúmeros relatórios técnicos confeccionados por João Monlevade e remetidos ao arquivo da Escola Politécnica de Paris, durante o sec. XIX.
 
 
 
O outro rei importantíssimo para a história siderúrgica de João Monlevade foi Alberto I da Bélgica (foto). O Rei Alberto foi um estrategista de visão extraordinária. Muito antes de Hitler invadir a Polônia, em 1939, o Rei Alberto já havia compreendido que o desfecho da Primeira Grande Guerra não seria suficiente para garantir a paz mundial e que, em breve, um conflito ainda mais sangrento teria início. Em 1920, o Rei Alberto visitou Belo Horizonte para articular a fundação de uma siderúrgica de guerra no Brasil. Em 1921 foi fundada a CSBM de Sabará. Em 1935 foi fundada da CSBM de João Monlevade. O objetivo imediato do rei belga, certamente, não era levar o desenvolvimento para o sertão mineiro, mas sim o de estabelecer uma usina siderúrgica integrada de grande porte, capaz de fornecer aço para o esforço de guerra aliado na Segunda Guerra Mundial. O primeiro aço de João Monlevade não foi produzido para suprir o mercado interno brasileiro, mas sim para o esforço de guerra aliado na Segunda Grande Guerra. Dos navios afundados por submarinos alemães na costa brasileira durante o conflito é muito possível que exista algum que transportava para a Inglaterra ou para os EUA aço fabricado em Monlevade. Getúlio Vargas instalou também em 1935 o decisivo ramal da ferrovia Central do Brasil até Monlevade, de onde o aço era enviado, por trem, até o porto do Rio de Janeiro e de lá era despachado para o esforço de guerra aliado. É por isso que a Matriz São José Operário tem sua nave em formado de “V”, que é em referencia à vitória aliada na Segunda Grande Guerra, da qual Monlevade fez parte enviando insumos pesados para a fabricação de armas, blindados, veículos, suprimentos, etc. O início de sua construção é de 1948, não coincidentemente, o ano do encerramento do conflito, com a derrota dos nazistas. E o rei Alberto já havia previsto isso tudo em 1920. Significa dizer que não fosse a visão aguçada do Rei Alberto I, dificilmente, teria havido Belgo Mineira para dar continuidade à trajetória siderúrgica, aqui iniciada por João Monlevade, há quase 200 anos. 
 
Nota curiosa – O Rei Alberto I da Bélgica foi o primeiro monarca a visitar o Brasil República. Ele esteve no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte. Em BH, o rei ficou hospedado no Palácio da Liberdade. Para receber sua majestade a sede do governo mineiro teve todo seu mobiliário renovado para móveis de fabricação francesa, que ainda hoje guarnecem seus cômodos, tal qual como na visita do rei. Para agradecer a acolhida, o Rei Alberto presenteou o Palácio da Liberdade com um casal de cisnes negros. Ainda hoje o Palácio da Liberdade conserva a tradição de criar cisnes negros num lago de seus jardins.

quinta-feira, 28 de outubro de 2021

Monlevade 1828: Uma Fábrica de Ferro movia a Água

Além do minério de ferro quase puro e da grande quantidade de mata para o fabrico do carvão, os recursos hídricos locais foram, igualmente, essenciais para o funcionamento da Fábrica de Ferro Monlevade, instalada a partir de 1828. Dos martelos de forja aos ventiladores, todo o equipamento era movido por diferentes rodas d’água. João Antônio de Monlevade também era exímio mecânico e, newtoniano, sempre colocava a gravidade para trabalhar a seu favor. Seu nome também foi muito associado à outra roda d’água, o Engenho Mineiro de Pilôes (foto abaixo), aparato mecânico, muito difundido durante o sec. XIX e empregado na trituração do quartzito aurífero na Minas de Ouro, cujas cabeças dos trituradores consistiam em blocos de 80 quilos de ferro forjado, que eram produzidos em escala industrial em Monlevade.


O metalúrgico João Monlevade desviou o curso de dois ribeirões para empregar suas águas como força motriz de diversos equipamentos. O primeiro foi o ribeirão que nasce nas imediações do Campo de Aviação, desce pelas matas do Embaúba e do Hospital Margarida, até o pátio do Colégio Parreiras, onde foi canalizado. Na altura da Rua Imbé, Monlevade desviou o curso desse ribeirão e o fez verter água sobre a pedreira que existe nos fundos do Solar Monlevade, formando para “deleite da vista” uma cascata artificial de 180 pés de altura. Da cascata, a água passava pelo Solar Monlevade e no terreiro dava impulso a um Engenho de Pilões, utilizado para sacar ferro das borras dos fornos; moinho de fubá e ralador de mandioca. Até recentemente, a roda d’água do mencionado Engenho de Pilões se encontrava íntegra no Museu. Contudo, depois que a Arcelormittal retirou o telhado sobre ela, a mesma ficou sujeita às ações das intempéries e ruiu, não sendo restaurada (foto abaixo). 
 
O segundo, muito mais caudaloso, o Ribeirão Carneirinhos, foi desviado através de um bicame para dentro da fábrica, onde movia 3 martelos de forja, de 1200, de 225 e de 75 quilos, os ventiladores, os laminadores e um engenho de serrar madeira. Tudo impulsionado pela água, com destaque para os ventiladores. Para se fundir ou forjar o ferro é necessário o sopro dentro dos fornos para se alcançar altas temperaturas. Monlevade tinha seis fornos de fundir ferro, de 80 quilos de capacidade cada um, e três fornos de forja para caldeamento do ferro a ser trabalhado, operando, diariamente. O sopro de cada forno era conseguido por meio de trompas hidráulicas, caixas de madeira (braúna) calafetadas e hermeticamente fechadas, que, uma vez enchidas de água, expulsavam o ar, soprando-o para dentro dos diversos fornos. Elas eram de efeito duplo e ao se esvaziarem também sopravam o ar para dentro dos fornos. Possuíam ainda mecanismo de segurança que impedia que a água fosse soprada para dentro dos fornos. 
A Fábrica de Ferro Monlevade era, totalmente, dependente da água, sem, contudo, lançar poluente nos recursos hídricos. O consumo de água não era pouco no estabelecimento metalúrgico, mas depois de cumprir seu importante papel na história local, a água dos ribeirões seguia de volta para o Rio Piracicaba, sem qualquer contaminante. Muito pelo contrário, a água para ser utilizada nas trompas dos sopros nos fornos, por exemplo, deveria ser limpa e decantada para não obstruí-las. Apesar do processo produtivo e de abrigar 150 escravos e outros 50 colaboradores direitos, a propriedade não emitia nem mesmo esgoto sanitário como Monlevade fez questão de registrar: “em roda destes edifícios o terreno está sempre ocupado com plantações úteis e livre de emanações pútridas tão nocivas à saúde”.

terça-feira, 26 de outubro de 2021

Três razões, exclusivamente, portuguesas e determinantes para a imensa grandeza territorial do Brasil





A colonização portuguesa é quase sempre muito estigmatizada e deturpada no Brasil para servir de bode expiatório a justificar a grande dificuldade de o país conseguir explorar todo seu potencial socioeconômico. Em 2014, o Brasil alcançou a posição de 6° maior economia do mundo, apresentando, concomitantemente, o potencial de ser 7 vezes maior. O Brasil só é pequeno na cabeça do brasileiro. E, certamente, de todas as grandezas do Brasil, a mais evidente é geográfica, isto é, seu imenso e vasto território, o 5º maior do mundo, composto pela maior porção de terras agricultáveis do planeta, os mais ricos biomas e um subsolo detentor das maiores jazidas minerais já descobertas.
Dentro do repertório de deturpação da história brasileira, ouvem-se muitas bobagens, uma delas muito recorrente é aquela que diz que se tivesse sido colonizado por outra nação como a França, a Holanda ou a Inglaterra, o Brasil teria se visto em menor dificuldade de explorar todo seu potencial enquanto país. Por inúmeros fatores, é preciso deixar claro que se não fosse Portugal, o Brasil jamais teria sido o Brasil, teria sido outro país, não haveria samba, Carnaval, feijoada nem Mestre Aleijadinho ou Athayde. É inegável que o Brasil é um complexo produto, autenticamente, luso que detém outras grandezas, como a histórica, a étnica, a cultural, etc. No entanto, abordarei a seguir as três razões, exclusivamente, portuguesas que foram determinantes apenas para que o Brasil se consolidasse como o imenso país que ele é, territorialmente, o que, isoladamente, já faz dele um grande país, mesmo estando ele muito longe de explorar todo o seu potencial socioeconômico como tal. .
A primeira e mais óbvia delas é o Descobrimento. Não foi outro país a descobrir o Brasil a não ser Portugal. E não foi achamento. O Brasil foi descoberto em função de um cálculo matemático. Colombo havia descoberto a América 8 anos antes, mas acreditava que havia chegado à Índia e, assim, fez publicar os cálculos náuticos de sua viagem. Em 1499, Vasco da Gama regressava a Portugal da primeira viagem para Índia, circunavegando a África. Os portugueses, então, confrontaram os cálculos náuticos da viagem de Vasco da Gama com aqueles publicados por Colombo e concluíram que os últimos estavam errados: a Índia não poderia estar tão perto. Tratava-se, portanto, de um novo continente e se havia terras ao norte, elas também deveriam existir ao sul, que é o que ocorre em volta de todo o globo. Assim, já na segunda viagem para a Índia, os portugueses enviaram Cabral para descobrir o Brasil. Não foi outro país a não ser Portugal a estabelecer a geografia do Brasil, colocando-o no mapa do globo, fato histórico que deve ser compreendido como o marco inicial da imensa projeção territorial brasileira sobre o continente americano e que só foi realizado por Portugal. A França, a Holanda e a Inglaterra jamais descobriram o Brasil, até porque, àquela altura, não eram bons em cálculos matemáticos.
A segunda foi a União Ibérica. Pouco antes de 1500, enquanto descobriam os novos caminhos marítimos, Portugal e Espanha traçaram um meridiano a 370 léguas a oeste da ilha de Santo Antão no arquipélago de Cabo Verde e acordaram que as terras descobertas a leste dele pertenceriam ao primeiro e as encontradas a oeste à segunda. De acordo com a chamada Linha de Tordesilhas, o Brasil teria pouco mais de 1/3 do tamanho que tem hoje. Então, o que aconteceu que permitiu o avanço da fronteira do Brasil para oeste da Linha de Tordesilhas, quase triplicando seu tamanho original? A resposta está em mais uma especificidade portuguesa, o desaparecimento do Rei Dom Sebastião e o conseqüente estabelecimento da União Ibérica. Quase 80 anos depois de descoberto o Brasil, o rei português Dom Sebastião ainda estava a empreender cruzada no norte da África. Ele, definitivamente, não era um navegador, era um fiel cavaleiro cruzado. Desapareceu na famosa batalha de Alcácer-Quibir, no Marrocos, com apenas 24 anos de idade, sem deixar sucessor, o que resultou numa crise sucessória que terminou com a unificação das monarquias de Portugal e Espanha, numa unidade política que ficou conhecida como União Ibérica, a partir da qual o rei espanhol passou a governar Portugal e seus territórios ultramarinhos, inclusive o Brasil, por figurar como o parente mais próximo na linha sucessória de Dom Sebastião. Assim, durante a unificação de Portugal e Espanha, a Linha de Tordesilhas perdeu muito de seu sentido e o rei da Espanha permitiu que os colonos luso-brasileiros avançassem para oeste, o que expandiu muito o território brasileiro. Posteriormente, acordou-se que as fronteiras sul-americanas a oeste da Linha de Tordesilhas passariam a respeitar a nacionalidade de ocupação do território, o que acabou de vez por delimitar o imenso tamanho da América Portuguesa. Ainda hoje em determinadas regiões do Brasil, o imaginário popular nutre a esperança pelo regresso de Dom Sebastião para salvar o país de sua dificuldade em desenvolver todo o potencial socioeconômico que tem.
E por fim, a terceira, última e não menos importante razão portuguesa determinante para o estabelecimento da imensidão territorial brasileira, muito pelo contrário, é o fato mais extraordinário da história das Américas: a transferência da Corte Portuguesa de Dom João VI para o Brasil. Imagine que diante do implacável expansionismo napoleônico sobre a Europa, depois de já destronado o rei da Espanha, o intrépido Rei Dom João VI reuniu sua corte de 15 mil pessoas no Porto de Lisboa e cruzou o Atlântico para reinstalá-la no Rio de Janeiro, fato marcante e sem paralelo no mundo que não apenas produziu transformações profundas no Brasil, como também foi fundamental para a consolidação da unidade do imenso território brasileiro. Mais tarde, em suas anotações, Napoleão registraria sobre o rei português: “foi o único que me enganou!” Veja que os EUA só conseguiram estabelecer sua unificação territorial mediante um traumático conflito fratricida que ficou conhecido como Guerra de Secessão e a anexação de territórios do México. A América Espanhola, por sua vez, se fragmentou em numerosos países, apesar dos esforços de unificação de Simon Bolívar. A centralização do poder no Rio de Janeiro a partir da instalação da Corte de Dom João VI e seus desdobramentos como o I e o II Império Brasileiro manteve a unidade territorial brasileira, sem a necessidade de guerra de secessão, fazendo com que a América Portuguesa se aglutinasse num único e enorme país. Quando Dom João VI decidiu transferir a Corte para o Rio de Janeiro a América Portuguesa era, na verdade, constituída por dois Estados, o do Brasil e o do Grão-Pará e Maranhão. E foi o próprio Dom João VI quem, formalmente, unificou os estados do Brasil, ao sul, e do Grão-Pará e Maranhão, ao norte, no Estado do Brasil, hoje existente, quando fez do Rio de Janeiro a capital do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, o primeiro da história. A verdade é que se não fosse o poder centralizado pela Corte Joanina no Rio de Janeiro, dificilmente, a América Portuguesa teria se congregado num único e gigantesco país. Certo é que nas melhores das hipóteses, a América Portuguesa, sem a transferência da corte, teria se fragmentado em pelos menos dois estados, o do Brasil e o do Grão Pará e Maranhão. E em casos mais extremos, a América Portuguesa poderia ter se fragmentado tantas vezes quanto são os números dos estados hoje existentes no Brasil. Desse modo, cada estado brasileiro poderia ter originado um país diferente e, assim, não existiria o Brasil.
Os fatos históricos falam por si só, não tivesse sido a colônia portuguesa, o Brasil muito dificilmente teria se aglutinado no imenso país que é hoje.

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Fabricismo de Laércio no Abandono da Escola Santana: o desenvolvimento está muito além do asfalto e do mutirão da catarata


Foto Diló
 
O resultado das últimas eleições municipais, com derrota acachapante da ex-prefeita Simone, deixou claro o desejo das urnas pela mudança. Mas, não foi qualquer por mudança. Depois do fracos resultados administrativos dos últimos três prefeitos, todos eles relativamente jovens e supostamente promissores, o eleitor monlevadense não quis mais apostar em algo novo e, portanto, incerto, então elegeu Laércio com a esperança de mudança para algo que já havia ocorrido, isto é, o primeiro mandato do atual prefeito, exercido a partir de 1996, que foi de fato um bom governo se comparado com aqueles que o sucederam. Mas, infelizmente, depois de eleito prefeito em 2020, é visível que Laércio optou por não reestruturar atual administração nos moldes básicos de seu governo de 1996. Ao contrário, toda a maneira estrutura por Laércio em relação ao governo, mantendo velhos esqueletos de poder da direita, uma maioria de moreiristas em cargos estratégicos, etc, revela que a atual Prefeitura foi montada com apenas um objetivo: o de eleger o vice Fabrício Lopes prefeito do Município em 2024. O grande problema é que Fabrício é “político” de centro-direita, afeto ao fisiologismo típico do Centrão, ou seja, um conservador, detentor de perfil bolsonarista e originado da cozinha de ninguém menos do que Carlos Moreira. No próximo ano, por exemplo, 20% dos petistas do governo estarão a pedir votos para Lula, enquanto 80% dos fabricistas pedirão voto para Bolsonaro, ou seja, um fratricídio geral

E este conservadorismo fisiologista voltado para a candidatura de Fabrício em 2024 já pode ser notado nas poucas ações concretas de governo ou em suas muitas inações. Em sentido genérico, todas as estruturas fisiologistas de poder dos setores conservadores da política local seguem de pé no atual governo do PT. Não houve, por exemplo, mudança significativa no modelo terceirizado de limpeza pública da cidade que fatura milhões e não entrega o serviço; no Rotativo que também segue inalterado, faturando outros milhões; no Hospital Margarida que segue administrado pela entidade que deu o golpe do Bingo, perseguiu médicos, etc; a Encon, concessionária do serviço do transporte coletivo, foi autorizada a pedido do prefeito a receber milhões em subsídio do Município, sem revelar sua contabilidade, seguindo-se imune à fiscalização dos órgãos competentes, já que posar para foto na garagem da empresa para divulgação no órgão de comunicação do governo, sem apresentar autuação, não é fiscalização, é lorota de marketing interno provocado pelo desgaste do caso Enscon. As inações estruturais foram muitas. De outro lado, em sentido estrito, apesar das numerosas divulgações abstratas da secretaria de comunicação, o que se tem de concreto é aquilo de eleitoreiro que se viu no governo passado, como o anúncio da realização de cirurgia de catarata em regime de mutirão, e o asfaltamento de ruas com calçamento de pedra ou bloquete, tudo sempre levado à cabo com indispensável presença eleitoreira de Fabrício. 

Como visto, muitos podem ser os exemplos de que nada mudou no governo municipal do PT em João Monlevade, mas entre eles o que mais me chamou a atenção foi o recente asfaltamento de parte do acesso à abandonada Escola Santana, que é marco histórico e arquitetônico do modernismo local, tombado pelo artigo 150 da Lei Orgânica para fins de preservação e sua restauração foi promessa de campanha de Laércio. Primeiro, porque é preciso se pensar várias vezes antes de se asfaltar o entorno de um sítio histórico. Segundo, porque o asfaltamento se deu a poucos metros do leito do Rio Piracicaba, o que, sob a ótica ambiental, deve ser evitado. Ainda sob o ponto de vista ambiental, é cediço que a vias secundárias devem preferir o calçamento com bloquetes ou paralelepípedos, que permitem a infiltração da água da chuva e esquentam muito menos o ambiente. Monlevade é, geograficamente, constituída por vários vales, o que significa que o asfaltamento sem critério será sempre fator favorecedor de enchentes e de inundações, muito comuns, justamente, perto dali. E não é correto o cidadão ser vítima de inundação dentro de casa, apenas porque Fabrício que ser prefeito em 2024. Terceiro, porque o acesso recentemente asfaltado da Escola Santana só foi aberto ao trânsito local, depois de uma forte chuva que comprometeu o talude da Avenida Santa Cruz, logo abaixo, o que impediu o trânsito em mão dupla naquele ponto da via. Assim, caso não se tratasse de obra meramente eleitoreira, o que a administração deveria ter feito era reparar o talude da Avenida Santa Cruz, reabilitando o trânsito em mão dupla no local. Jogar asfalto sobre barranco cedente, Moreira também fez muito. Não é a mudança. E quarto, porque a foto do prefeito e do vice, no momento daquele asfaltamento, rapidamente, circulou as redes sociais, mas ninguém viu foto de pose de Laércio, mais Fabrício no Colégio Santana, a poucos passos dali, que se encontra em estado de completo abandono, degradação e cuja restauração foi promessa de campanha do PT. Volto a repetir, fosse para Laércio entregar o governo para Fabrício, como é evidente, ele deveria ter sido o vice de Raílton. Os setores políticos desenvolvimentistas do Município estariam muito mais bem representados e teríamos de fato um prefeito eleito a governar o Município, com resultados mais satisfatórios para o verdadeiro desenvolvimento. A preservação dos monumentos arquitetônicos e o domínio da história são fundamentais para a formação da identidade local e para determinar a forma como o cidadão lidará com o Município. Apesar de desconhecida, fustigada e abandonada, Monlevade tem uma história grandiosa, sem paralelo no Brasil, tendo vivenciado todos os ciclos da siderurgia industrial, desde os Marteletes Hidráulicos e o Carretões puxados por muitas juntas de bois de João Monlevade, passando pelo Martelo-Vapor de Francisco Monlevade, até a instalação da Companhia Siderúrgica Belgo Mineira, da Vila Operária de Louis Ensch e além. O desenvolvimento somente será retomado quando a história do Município for desestigmatizada, recontada e quando todos tiverem confidencia dela. Não há como mudar pensando sempre da mesma forma ou agindo sempre do mesmo modo.   

quinta-feira, 7 de outubro de 2021

Moradores do Areia Preta à beira do protesto contra poluição da Arcelormittal


 Moradores do Bairro Areia Preta estão à beira da sublevação contra a poluição gerada pelas atividades mineradora e siderúrgica da Arcelormittal no Município. Conhecidos por fecharem o trânsito local em ocasiões passadas, os moradores do Areia Preta afixaram, recentemente, duas faixas na Avenida Getúlio Vargas, principal artéria econômica da cidade, com os seguintes dizeres: “A poluição da Arcelor destrói a dignidade, a saúde das pessoas e o meio ambiente” e “Arcelor, ouça nosso grito de socorro, tantas reuniões e nenhuma solução, merecemos respeito”. 
A poluição emitida pelas atividades da Arcelormittal, que atinge o bairro tem fontes diferentes: o particulado carreado junto do trafego pesado de carretas no local, o particulado da Sinterização e o particulado gerado na pátio de metálicos, localizado não muito longe dali. É de conhecimento geral que a mineração e a siderurgia são atividades altamente poluidoras. Contudo, a Arcelormittal precisa entender que ela tem a obrigação de limpar o que suja e de implementar os manejos que reduzam a geração de poluição, seja na Mina do Andrade ou na Usina. 
O entorno da Usina, então, encontra-se extremamente sujo e acinzentado. Em alguns pontos é possível ver o breu tomando conta do exterior dos equipamentos como é o caso da estação de tratamento de efluente ao lado do Zebrão. As sarjetas das ruas estão cobertas por meio palmo de poeira siderúrgica. Os telhados, calhas e terreiros das casas estão sempre cobertos do pó da Sinterização, que só pode ser removido com o emprego de água e muito trabalho pesado. O piso do pátio rodoviário do depósito de carvão, por exemplo, localizado ao lado do leito do Rio Piracicaba, tem um palmo de pó de carvão e pilhas e mais pilhas do combustível. Moradores do Centro Industrial sentem falta da imensa labareda que era utilizada para queimar o monóxido de carbono, que é um gás venenoso, que pode matar e é expelido do Ato-forno. E em relação à Sinterização, gostaria de discorrer um pouco mais. O sinter é a mistura que vai para o Alto-forno e é constituído, basicamente, de minério de ferro, carvão mineral e calcário, tudo muito fino. Para produzir o sinter, emiti-se muito particulado. Daí a necessidade da instalação de um filtro eletrostático, que consome muita energia elétrica. Já vi, nas redes sociais, engenheiro da Arcelormittal defendendo o filtro da Sinterização, como sendo um equipamento atualizado e eficaz. Mas e quanto a sua operação? Ele funciona 24 horas por dia? Por que durante a penumbra da noite é possível ver uma coluna de pó de sinter subindo para a atmosfera partindo da Sinterização? É normal emitir coluna de sinter durante a noite ou o filtro é desligado para reduzir o custo com a conta de energia elétrica? 
Como se vê, a Arcelormittal tem muito o que esclarecer, limpar e fazer.

sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Incoerente: PT vai militarizar escola de bairro carente em João Monlevade

Enquanto os apoiadores de Bolsonaro bradam pela volta da ditadura militar que assolou o Brasil por 21 anos e o país se vê diante de um contexto pavoroso de saudosismo em relação àquele período sombrio de sua história, circula a notícia preocupante de que a Escola Estadual Louis Ensch será militarizada para sediar uma unidade do Colégio Tiradentes. Ainda não se elucidou como se dará a militarização da escola nem qual será o destino de seus alunos atuais, mas o que se sabe é que o Colégio Tiradentes oferece educação escolar apenas para militares e seus dependentes. 
O problema maior da militarização da Escola Louis Ensch é, sem dúvida, sua situação geográfica, ou seja, a área de influencia daquela unidade escolar, que se estende justamente, em torno dos três bairros, socialmente, mais vulneráveis da região central do Município, que são o São Benedito, parte do José Elói e o São João, também conhecido como Peroba. Em outras palavras, se a Escola Louis Ensch for de fato militarizada, os alunos da Peroba, além de perderem a referência geográfica daquela escola, também terão de se deslocar a distâncias maiores para estudar, o que, obviamente dificultará a atividade estudantil, pois pode se traduzir na necessidade dispendiosa de transporte, etc. Atualmente, o estudante não leva mais de cinco minutos de curta caminhada da Peroba à Escola Louis Ensch. 
Retirar a escola que geograficamente atende aos três bairros mais carentes da região central do Município para militarizá-la, definitivamente, não é o que se esperava de um governo do PT, mas é o que está para acontecer em João Monlevade. 
Nas últimas vezes em que foi governo em João Monlevade, o PT local vem apresentando imensa dificuldade em ser fiel ao conteúdo programático do partido, justamente, por jamais ter construído aquilo que ele agora pretende militarizar: a escola. O PT local jamais construiu uma escola política interna coerente com o conteúdo programático do partido. Vereador do PT, por exemplo, votou favorável a todos os últimos projetos conservadores da turma do Moreira, como a tercerização do DAE, o Rotativo, a Lei da Mordaça de Simone, etc. Recentemente, o governo do PT concedeu subsídio milionário à Enscon, de olhos fechados, sem esclarecer a situação contábil da concessionária do transporte coletivo nem indicar que passará a fiscalizá-la para melhoria do serviço que é caro e péssimo. Ou seja, nada mudou! Pelo contrário, a militarização da Escola Louis Ensch, em pleno governo do PT, comprova que a prefeitura respira a mesma atmosfera de saudosismo em relação à ditadura militar que tem levado o Brasil à beira do abismo em que ele se encontra, onde, justamente, os mais carentes serão privados de sua escola para dar lugar à militarização. 
Deviam instalar o Colégio Tiradentes no prédio abandonado da Escola Santana, pois a preservação do patrimônio arquitetônico é o que se espera de um governo do PT, e deixar as meninas e os meninos carentes da Peroba com sua escola. PT ao avesso, isso sim! É o efeito Fabrício. Laércio não estruturou um governo para repetir a experiência administrativa de 1996, a última bem sucedida do PT, mas sim para eleger Fabrício prefeito em 2024.

terça-feira, 31 de agosto de 2021

Fábrica de Ferro de Francisco Monlevade não é Aberta à Visitação

 

Sim, é verdade, existe uma Fábrica de Ferro Monlevade de pé. O conhecimento da história é essencial para determinar a forma como o cidadão lida com seu país. No Brasil, quando a história não é escondida, ela é deturpada. A alienação e a deturpação da histórica brasileira são instrumentos de dominação.   

No município de João Monlevade a situação da história local não é diferente. Durante décadas a história de João Monlevade foi, convenientemente, deturpada sob o estigma inventado de “uma pequena forja catalã”. E o que não foi deturpado, foi escondido.   Segundo os documentos históricos, o pioneiro estabelecimento metalúrgico de Monlevade foi a maior e mais importante Fábrica de Ferro a funcionar durante o Império Brasileiro e além, sendo o fornecedor preferencial de artefatos de ferro para as companhias inglesas mineradoras do ouro, como O Gongo Soco e o Morro Velho. “Uma pequena forja catalã” jamais existiu. Na verdade, sob o ponto de vista da estrutura do estabelecimento, as fábricas de ferro Monlevade foram três. A Fábrica Velha, que funcionou de 1828 à 1853, a Fábrica Nova, que Funcionou de 1853 a 1888 e a Fábrica de Ferro de Francisco Monlevade que funcionou a partir de 1891. Nenhuma delas poder-se-ia considerar como pequena, pois foram as primeira a produzir artefatos de ferro e carvão em escala industrial. “Uma pequena forja catalã” jamais seria capaz de prover com artefatos de ferro a operação do Gongo Soco, que foi a mina que mais produziu ouro na história da humanidade.  Também não era uma forja catalã. Catalão era apena o método de obtenção do ferro, que produzia um metal de extrema qualidade, pouco quebradiço e, portanto, ideal para o emprego na mineração do ouro. Os equipamentos de forja das primeiras fábricas de ferro Monlevade eram ingleses e da Fábrica de Ferro de Francisco Monlevade eram franceses e estadunidenses.    E o mais importante é que, ao contrário do que ficou escondido durante décadas, a terceira Fábrica de Ferro Monlevade ainda se encontra de pé.

Trata-se do belo e curioso edifício (fotos) localizado no Bairro Jacuí, onde a Arcelormittal instalou os geradores da Hidrelétrica do Jacuí. Apesar de toda deturpação que paira sobre a história de João Monlevade, algo acaba fugindo ao processo de alienação histórica e escapa à luz. É o caso da interessante fase estabelecimento metalúrgico, quando o meso passou a pertencer à Companhia Nacional de Forjas e Estaleiros do Barão de Mauá. Não é fato histórico desconhecido que a Fábrica de Ferro Monlevade pertenceu à Companhia Nacional de Forjas e Estaleiros. A grande maioria do acervo do Museu Monlevade, por exemplo, é constituída por equipamentos da fase da Companhia Nacional de Forjas e Estaleiros e identificada como tal. Contudo, ate recentemente, não se sabia o que de fato havia ocorrido com o estabelecimento naquela fase. Mas felizmente, a partir do resultado de pesquisa postado aqui no Blog Monlewood, agora se pode saber que na fase da Companhia Nacional de Forjas e Estaleiros foi completamente abandonado o local de funcionamento das primeiras duas fábricas que se situava onde hoje é a Rua dos Contratados, logo abaixo do Solar Monlevade, e construído em alvenaria de pedra, a partir de 1891, na margem esquerda do Rio Piracicaba, no Bairro Jacuí, o sólido, interessante e moderno edifício das fotos. Trata-se de uma construção tão sólida e apta a receber equipamentos industriais que, a partir de 1935 a Arcelormittal instalou nele a casa de máquinas da Hidrelétrica do Jacuí, jamais revelando que ali funcionara a Fábrica de Ferro de Francisco Monlevade. Durante mais de 80 anos a Arcelormittal manteve escondido dos munícipes que o edifício que hoje alberga os geradores da Hidrelétrica do Jacuí foi construído com capital da Companhia Nacional de Forjas e Estaleiros para abrigar a terceira Fábrica de Ferro Monlevade, alienando assim do monlevadense o conhecimento de parte importante de sua história e de sua identidade.

Muito embora hoje funcione como uma usina geradora de força, o edifício da Fábrica de Ferro de Francisco Monlevade deve e pode ser aberto à visitação, pois é o que ocorre com a maioria das hidrelétricas. Trata-se de evidente atração turística, já que, além de carregado de história, o edifício do Jacuí é uma construção como nenhuma outra. Ele se encontra localizado, literalmente, sobre a margem do Rio Piracicaba, apoiado por uma série de colunas arqueadas, por entre as quais a água retorna para o leito do mesmo, depois de passar pelas turbinas.  Seu telhado tem um formato muito curioso e parece uma manta asfáltica. Sobre o teto existem dois grandes exaustores de gazes espiralados que parecem coisa do desenho Os Jetsons. Ele possui ainda vitrais imensos, é super iluminado. Imagina-se como deve ser ainda mais interessante por dentro.  O edifício da Fábrica de Ferro de Francisco Monlevade no Jacuí. Trata-se de monumento histórico  tão importante quanto o Solar Monlevade que foi a morada e a sede administrativa da Fazenda Carvoeira, Mina e Fábrica de Ferro homônima  e que era o único dos tempos dos Monlevade que ainda se julgava de pé no Município. Coisa que também não era verdade. Dos tempos dos Monlevade, ainda está de pé não somente o Solar, como também a última Fábrica de Ferro deles. Esta aí, a Fábrica de Ferro que faltava e que, depois de descoberta, precisa ser aberta à visitação para bem da formação da identidade e até o turismo local.