quinta-feira, 16 de março de 2023

Filantropia de 650 Mil Reais em Dinheiro Vivo no Hospital Margarida




Muito já escrevi sobre a necessidade de um novo modelo de gestão no Hospital Margarida. A Associação São Vicente de Paulo (ASVP), criada pelo ex-prefeito inelegível Carlos Moreira (não confunda com a Sociedade São Vicente de Paulo), por várias vezes, já se demonstrou inapta a administrar o HM. Infelizmente, a ASVP não é especialista em gestão hospitalar; é, na verdade, uma entidade política, vinculada ao inelegível ex-prefeito Carlos Moreira, especializada em execução de obra de construção civil.  Desde que assumiu a gestão do HM, a ASVP não deixou de construir e de reformar lá. Há alas no hospital que já foram reformadas três vezes pela ASVP. E como é muito comum em João Monlevade, nem sempre a obra contratada é entregue. O telhado no Bloco Cirúrgico, por exemplo, também foi reformado pela empreiteira. Contudo, quando chove, é necessário que o médico cubra os aparelhos cirúrgicos com uma lona, para não perdê-los para as goteiras. 

Veja que a política hospitalar da ASVP no HM não é diferente daquela que produziu o Santa Madalena, a absurda e fracassada tentativa de adaptar o prédio do antigo terminal rodoviário num hospital de cem leitos, ao desperdício de muito mais de 22 milhões de reais em recursos públicos da saúde. Para eles, pouco importa o que vai se construir, desde que a empreiteira fature aqueles milhões.  Em junho do ano passado, enquanto a ASVP executava mais obras de construção civil, um bebê de 9 meses faleceu dentro do Hospital Margarida depois de 12 horas, sem atendimento pediátrico. Do que adianta construir prédios, se a entidade não contrata médicos para preenchê-los, a fim de atender a população? Teremos política pública de saúde voltada para o atendimento do povo ou para o enriquecimento sistemático de empreiteiros, os mesmos que acabaram com a antiga Rodoviária? Ao que parece, Monlevade não aprendeu nada com o Santa Madalena.

Outra questão grave da ASVP é que, apesar de se intitular como filantrópica, a entidade tem sido campo fértil para fenômenos nada filantrópicos. Veja o caso recente do último provedor do Hospital Margarida, José Roberto Fernandes. Conforme demonstra o Termo de Posse acima (clique no documento), em março de 2020, José Roberto Fernandes encerrou seu segundo mandato como presidente/provedor da ASVP, após quatro anos de filantropia à frente da entidade. Dois meses depois, em maio de mesmo ano, José Roberto Fernandes adquiriu no município vizinho de S.D. do Prata, um imóvel, pelo qual pagou o valor de 650 mil reais em dinheiro vivo, conforme demonstra a certidão cartorial anexa (clique no documento). Veja que a certidão diz o seguinte no item "Forma de Pagamento": "R$ 650.000,00,  pago totalmente em espécie, que neste ato confessam receber em moeda corrente nacional". Agora eu pergunto: que entidade filantrópica é essa, onde o sujeito passa 4 anos fazendo filantropia e sai de lá com uma mala de dinheiro recheada com mais de meio milhão de reais? Convenhamos a quantia de R$650.000,00 em espécie não cabe numa caixa de sapatos. Foi uma mala de dinheiro.

Filantropia é filantropia. Ou o cara faz filantropia ou ele sai com uma mala de dinheiro. Quem é provedor não pode ganhar dinheiro lá dentro, seja de que forma for, colocando empresa Top Vida Card no hospital, etc, ou prestando serviço de “coaching” para funcionários do hospital, etc. Se o provedor, por exemplo, é dono de rede de farmácia, ele jamais poderá vender medicamentos para o hospital, porque do contrário, não será filantropia, mas sim comércio, mesmo que ele seja espírita. Aliás, para a respeitosa doutrina do espiritismo, qualquer execução de política de saúde pública que priorize a contratação/faturamento de empreiteiros de construção civil em detrimento da contratação de médicos plantonistas, resultando na morte de uma criança de 9 meses, certamente, deve ser uma questão moral muito perturbadora.

Com a palavra, a ASVP de Carlos Moreira. O povo de Monlevade exige saber como alguém passa 4 anos fazendo filantropia no Hospital e sai de lá com uma mala de dinheiro. Repito, numa caixa de sapados não cabem 650 mil reais em espécie.       

         

segunda-feira, 13 de março de 2023

Arcelormittal Suprime Elementos Tombados do Solar Monlevade: "Não é a Primeira Vez"




Na entrada principal do intramuros do Solar Monlevade existe uma bela porteira, larga o suficiente para permitir o trânsito oposto de dois carretões de bois ao mesmo tempo.  Ela é de abertura dupla, tem o centro abatido e encontra-se instalada entre dois sólidos mourões de pedra lavrada, originalmente, encimados por um belo par de grandes lanternas, conforme demonstram as fotos acima. Contudo, como se pode ver pela fotografia abaixo, capturada na data de ontem, o par de lanternas que guarnecia a porteira principal do Solar Monlevade sumiu, recentemente.




O conjunto arquitetônico original do Solar Monlevade é tombado para fins de preservação pelo inciso IX do art. 170 da Lei Orgânica Municipal. Significa dizer que qualquer supressão ou modificação em elemento arquitetônico do Solar Monlevade, inclusive de tudo o que está em seu intramuros, só pode ser feita mediante a autorização do Conselho Municipal de Patrimônio Cultural, com o fim de preservação, o que eu acredito que não seja o caso. O Solar Monlevade tem passado por muitas intervenções ultimamente, que ocorrem totalmente à revelia do Conselho de Patrimônio Cultural e da Casa de Cultura. Há pouco tempo, a ArcelorMittal instalou uma grande estrutura em aço dentro do Museu Monlevade, que também se encontra instalado no intramuros do Solar, alterando o conjunto arquitetônico tombado. Enviei email para a siderúrgica e para a Prefeitura, requisitando cópia da autorização do Conselho para a instalação da mencionada estrutura de aço e não obtive resposta em ambos os casos.

Não é a primeira vez que a poderosa siderúrgica suprime elemento histórico tombado do conjunto arquitetônico do Solar Monlevade. Em 2017, a Arcelormital já havia deixado ruir um telhado rústico que existia sobre o engenho hidráulico de pilões que integrava o acervo do Museu Monlevade. No Relatório de 1853, o próprio Monlevade mencionou o citado engenho, conforme transcrevo a seguir:

“Um bicame, ou tanque d’água, colocado a 30 palmos acima do fundo do quintal e no meio da casa está recebendo a água toda do ribeirão, dando a força motriz para as duas rodas... há também duas mãos de pilões movidas por uma das rodas, as quais servem para reduzir em pó a pedra de ferro, quando não se emprega a jacutinga na fundição, assim como para sacar certas borras ricas de partículas de ferro, as quais lavadas e refundidas dão um ferro de superior qualidade.”

Sem o telhado e exposto à chuva, a roda d’água do engenho e seu o bicame de madeira se perderam e ruíram. E o que fez a Arcelormittal? Restaurou o bem tombado? Não. Ela apenas o suprimiu, como demonstra a postagem de novembro de 2017.  

Agora, foram as lanternas da porteira principal que sumiram. Obviamente, não é papel da Arcelormittal conservar os bens históricos do Município. Também não é papel da Arcelormittal organizar museu, mantê-lo aberto à visitação, nem restaurar os bens que se deterioram por omissão. O papel da siderúrgica é o de produzir aço. Contudo, se é a Arcelormittal que detém a propriedade dos bens históricos, ela deve providenciar a sua preservação, restauração e acesso ou, então, deve entregá-los para o seu verdadeiro dono que é o povo de João Monlevade. Manter os bens históricos fechados e se perdendo, quando não são alterados, é destruir a identidade monlevadense e o potencial turístico de João Monlevade. São, justamente, o Solar Monlevade, o Museu Monlevade e o Parque Histórico da Companhia Nacional de Forjas e Estaleiros, no Jacuí,  que inserem o Município dentro do roteiro turístico da Estrada Real de Forma muito especial, pois ao contrario do discurso deturpado cunhado pela da própria Arcelormittal no sentido de “uma pequena forja catalã, fabriqueta de enxadas”, Monlevade, segundo os documentos históricos, foi a maior e mais importante Fábrica de Ferro a funcionar durante o Império Brasileiro, atuando como fornecedora preferencial de artefatos pesados de ferro para as Minas de Ouro do sec. XIX, alguns deles com mais de uma tonelada de peso, os maiores já forjados nos Brasil até então.

O Museu Monlevade, por exemplo, se bem administrado e aberto à visitação, tem o potencial de alavancar o turismo local, porque conta com acervo completo sobre a história da indústria do ferro em Minas Gerais. Mas, para que isso ocorra é preciso conservar e abrir os bens históricos à visitação, coisa que a Arcelormittal demonstra não estar apta a fazer, por motivos óbvios. Antes que não sobre nada, é preciso que o Município tome para si a administração dos bens históricos de João Monlevade, não somente para preservar a identidade local, mas também para alavancar o turismo. Existem muitos instrumentos jurídicos para tal. Contudo, a Prefeitura atual nem sabe onde fica o Parque Histórico do Jacuí. Registre-se, por fim, que foi na prefeitura do PT, que as lanternas do Solar Monlevade desapareceram.                      

       

 


quarta-feira, 1 de março de 2023

Asfaltamento Inconsequente Agrava Risco de Afogamento na Trincheira do Moreira


Monlevade sofre com os efeitos das inundações sazonais não é de hoje. A abominável trincheira do Moreira, cavada no entorno do Posto Castelinho, é prova disso. Trata-se de uma galeria pluvial cavada sobre parte do leito da Avenida Wilson Alvarenga, ainda no desgoverno Carlos Moreira, com o intuito de resolver as freqüentes inundações naquele ponto da região central da cidade. Contudo, a trincheira jamais alcançou seu objetivo, porque foi mais uma obra realizada sem estudo técnico, hidrológico ou científico. A trincheira só fez com que grande quantidade da água da chuva corresse, velozmente, sobre o leito avenida, até encontrar uma saída para o ribeirão, o que passou a ocorrer no acesso à Estrada do Forninho, situação que muito possivelmente deve ter contribuído para aquele triste episódio em que um carro foi arrastado pela enxurrada naquele local, matando duas estudantes. Mas, a chamada Trincheira de Moreira não passou a representar um risco potencial apenas para aqueles que transitam no período de chuvas pelo acesso da Estrada do Forninho. Ela hoje representa um risco real de morte por afogamento a todos que por ela transitam no período chuvoso, considerando que se encontra instalada numa das principais artérias viárias do Município. A trincheira do Moreira é a única galeria pluvial que conheço, isto é, uma passagem de grande quantidade de água da chuva, que ao mesmo tempo também é, inadvertidamente, aberta ao tráfego de veículos automotores, uma receita, potencialmente, perigosa. Como demonstra o vídeo anexo, na semana retrasada, um ônibus da Enscon, repleto de passageiros, ficou ilhado por horas, em meio ao alagamento, bem ao lado da trincheira, enquanto a altura da água subia. Por muita sorte e experiência, o motorista não passou com o ônibus pela pista de dentro da trincheira. Se o tivesse feito, o que não é incomum, o risco de morte por afogamento dele e dos daqueles passageiros teria sido real, já que a galeria tem mais de 4 metros de profundidade.
De outro lado, no governo Laércio/Fabrício, além da ausência completa de política pública para lidar como as inundações, para preparar o Município para as mudanças climáticas, etc, o que se vê é o asfaltamento eleitoreiro de novos loteamentos e de ruas já calçadas, o que, numa cidade normal já agravaria os prejuízos causados pelos alagamentos, mas que, em se tratando de João Monlevade, potencializa ainda mais o risco já existente de morte por afogamento na trincheira.
Fabrício tem que compreender que a cada rua que ele asfalta à montante da trincheira para pavimentar sua campanha à Prefeitura em 2024, sem tomar providências para mitigar a ocorrência de inundações, ele e Laércio potencializam o risco de morte por afogamento dentro daquela galeria pluvial, aberta ao trânsito de veículos.
Governar é, sobretudo, agir com responsabilidade. Como o atual secretário de planejamento que é, não vejo Fabrício elaborar um plano de contingência para impedir que veículos adentrem a trincheira, momentos antes dela transbordar, nem para treinar os socorristas caso o pior aconteça. É muita irresponsabilidade asfaltar à torto e à direita (literalmente), sem um plano de manejo para a perigosa trincheira do Moreira, estabelecido no âmbito da Defesa Civil, etc. Como sempre, estão aguardando o pior acontecer para tomarem nenhuma providência. E lembre-se, ao menor sinal de chuva, jamais passe pela trincheira do Moreira.