quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

A hipocrisia da classe-média brasileira termina na quarta-feira de cinzas



O Brasil tem pouco menos de 210 milhões de habitantes. Destes, menos de 1% é de ricos; cerca de 20% são de classe-média e mais de 70% da população são de pobres e de uma categoria, especificamente, muito brasileira em termos quantitativos que é aquela representada pela imensa massa de excluídos que vivem nos guetos invisíveis chamados de favelas, trapiches ou palafitas, onde ninguém tem acesso aos bens e serviços do Brasil. Das 10 maiores economias do mundo o Brasil é a única que, deliberadamente, exclui mais da metade de sua população. É também o Brasil o que possui a menor classe-média. Então, é óbvio que a inversão da pirâmide social brasileira é condição indispensável para que o Brasil possa explorar todo o seu potencial econômico e social a fim de assumir o seu destino de figurar, em todos os sentidos, como a maior potência do globo, dado o tamanho imensurável de suas riquezas culturais e naturais, além da vastidão fertilíssima de seu território . Mas, não é o que pensa a classe-média brasileira, se é que ela pensa alguma coisa.
Recendente, quando o Brasil alcançou o posto de 6º economia do mundo, sua classe média apresentou um salto expressivíssimo, passando a mais de 50% da população, o que transformou o país no 4º mercado de automóveis do mundo e um dos maiores de celulares, computadores, televisores, etc, etc. E o que fez a classe-média Brasileira? Recentiu-se e foi para as ruas derrubar o governo. Sabe-se que, como tudo no Brasil, a classe-média também não é homogenia. Ela também tem seus setores progressistas. Contudo, não se pode negar que o bolsonarismo vigente é majoritariamente instruído pelo ressentimento de uma classe-média que se sentiu ameaçada de seus privilégios ao ver a ascensão de pobres e excluídos, porque, no Brasil, o que deveria ser direitos de todos, na verdade, é privilégio de uma diminuta classe-média.
E ela merece mesmo muito estudo, pois a classe-média brasileira não é de fácil compreensão. Apesar de, historicamente, deter o monopólio de acesso às melhores universidades do país, que são as públicas, ela tem feito muito mal uso de privilégio, pois não domina os conceitos básicos do que venha a ser comunismo, não tem a menor formação humanista e não se reconhece como fascista. E ainda arroga para si um sentimento meritocracia. Existe meritocracia apenas quando a classe-média concorre consigo mesma por uma vaga na universidade. Quando ela concorre com o estudante excluído, que vive num dos inúmeros guetos brasileiros, não há meritocracia porque a disputa não é em pé de igualdade. É preciso ter acesso aos bens e aos serviços do Brasil para se preparar o suficiente a fim de conquistar uma vaga nas universidades, daí a necessidade das cotas, o grande pesadelo recente da classe-média brasileira. E neste particular, costumo dizer que a hipocrisia da classe-média termina na quarta-feira de cinzas. Durante os quatro dias de carnaval, que é a maior festa do país, a classe-média compõe blocos na rua para dançar o samba, fantasia-se de baiana, de índio, come o acarajé, toca tambor a noite toda, flerta com Iemanjá, se diverte, celebra o país, festejando e abraçando tudo que nos faz brasileiros e também tem sua origem na África, etc, apenas até chegar a quarta-feira de cinzas. A partir daí, de um dia para o outro, a classe-média já acha estranho ver o negro na universidade, no hotel, no aeroporto, no restaurante, no carrão, etc, etc. É muita hipocrisia! E olha que a classe-média brasileira é bem mestiça. Tem muito sangue de índio e, como tudo no Brasil, não pode fugir da mãe África. Aqui em Minas Gerais, por exemplo, todos temos uma bisavó que é negra do Congo ou de Angola, além das de outras nações. A outra bisavó é índia. Um bisavô é português e os demais são uma mistura do índio com o branco, com o negro e vice e versa. Mas, é óbvio que a classe-média não tem esta consciência genética, como também não pratica o conceito científico de que não há supremacia entre raças. Como nas novelas, tudo é conduzido pelo ódio, pela raiva, pelo ciúme e pela inveja. A ciência já era, a Terra voltou a ser plana. Também não comungam dos tratados políticos que estabelecem a igualdade entre as pessoas. Estes racistas devem passar a vida, contrariados neste Brasil, já que tudo que nos faz brasileiros veio da África e aqui se misturou ao que era do índio e ao que foi trazido por Portugal, criando algo novo no mundo. Por exemplo, o samba é de indiscutível matriz africana. Mas, não há samba na África. A capoeira também é de origem africana. Mas, não há capoeira na África. O quiabo veio da África. Mas, não existe o prato de Frango com Quiabo, servido com angu e pimenta malagueta na África. E é assim com quase tudo. Não se pode definir uma raça para o Brasileiro. Se me chamam de mulato, que é o híbrido do negro com o branco, deixam de considerar meu sangue indígena, o que eu não aceito. Se me chamam de cafuzo, que é o híbrido entre o negro e o índio, deixam de considerar meu sangue lusitano, o que eu não permito. E se me chamam mameluco, que é o hibrido ente o índio e o branco, deixam de considerar meu sangue negro, o que também eu não admito. Então, exijo que me chamem apenas de brasileiro que é o que representa, justamente, o que sou: a mistura destas três matrizes identitárias. O racista, na verdade, é um grande preguiçoso, pois inventa essa babaquice de supremacia branca para explorar o trabalho do semelhante, seja escravizando ou pagando salários de fome. É também um grande entrave à implantação da Democracia já que se acha melhor do que os outros, o que fere de morte o princípio basilar democrático de que todos nascem livres e iguais. A verdade é que pela Democracia a classe-média não nutre apreço algum. Está sempre pedindo o fechamento do Parlamento, do Supremo Tribunal Federal e pedindo intervenção das forças armadas e ainda estufa o peito para proclamar que odeia a política. Em grande medida, esta classe-média é, fortemente, influenciada pela Rede Globo, toma os enredos das novelas globais como parâmetro de vida e, portanto, também é muito oportunista, vivendo de tirar vantagem do Brasil, ao sinal da menor oportunidade. O parâmetro ético da classe-média é, exatamente, o mesmo da novela das 9 da Rede Globo, ou seja, nenhum, E como não poderia deixar de ser, é aficionada por futebol e, extremamente, corrupta, já que é ela quem também ocupa os cargos públicos governamentais providos por concurso, onde a corrupção roda solta.
É tão alienada que ainda se considera rica. É por isso que ela se recente. É que a classe-média só pode se sentir rica diante da miséria absoluta da exclusão. Ela só é rica diante de quem vive nas favelas, excluído,sem ordenamento, sem arruamento, morando em barracos de tapumes, sem acesso regular aos serviços de abastecimento de água, de energia, de recolhimento do lixo, de esgoto sanitário, saúde, educação de qualidade, cultura, etc, etc. A classe-média não compreende que no Brasil a gente não topa com rico na rua. Eles vivem no exterior, em lugares como Mônaco, torrando o resultado do rentismo e só vem ao Brasil no fim de ano, ficando até o carnaval. Depois somem, para seguir parasitando a pátria. Somente em 2014, o Brasil pagou 900 bilhões de reais para cerca de 10 mil credores de uma dívida, cujo memorial de cálculo é desconhecido. Deu uma média de 90 milhões para cada um, sem que nenhum deles produzisse sequer um parafuso para a nação. Estes são os ricos do Brasil. Não conheço nem nunca vi nenhum deles. Os demais são no máximo classe-média alta. Também não compreende que o processo de interrupção de transferência de renda ocorrido em 2014 foi péssimo para a classe-média. Ela se empobreceu. Experiência das ultimas 4 décadas na Coréia do Sul revela que quando há uma alargamento da classe-média, ela se enriquece como um todo e quem era classe-média tende a se tornar classe-média alta. Mas, não quiseram assim. A classe-média brasileira dá esmola, mas não aceita a ascensão social.
A verdade é que estamos muito ruins de classe-média. A depender dela, o Brasil jamais explorará todo o seu potencial econômico e social enquanto país. Aliás, o que se pode dizer é que a classe-média brasileira não tem projeto algum de nação para o Brasil. Precisamos pensar em uma nova classe-média para o Brasil, muito mais humana e racional. É preciso retirar os privilégios da classe-média, sobretudo, o de acesso as universidades públicas, pois ela não tem aplicado no dia-a-dia o que nelas é lecionado . É dinheiro público jogado fora, sem o retorno esperado para a sociedade. Abaixo o fascismo classe-média brasileiro!


segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Polêmica dos 100 Melhores


A premiação dos 100 Melhores tem sido evento do calendário local, com grande divulgação no jornal A Notícia e em outros meios de divulgação. A última edição dos 100 Melhores gerou especial polêmica quando a concessionária do serviço de transporte público, a ENSCON, venceu o prêmio no segmento empresa de transporte. Sobretudo nas redes sociais, foram intensas as manifestações de indignação, contrárias à destinação do prêmio à ENSCON, já que o serviço de transporte público prestado pela concessionária é freqüentemente avaliado como caro e de baixíssima qualidade. Muitos estão ainda hoje sem compreender porque a ENSCON recebeu o prêmio. Então, explico eu. 
Muito embora se realize por meio “avaliação popular”, os 100 MELHORES não se trata de premiação de mérito. Significada dizer que, ao contrário do que sugere o nome do evento, ao final das votações, não são, necessariamente, os melhores ou os mais competentes que recebem o prêmio. É que na pesquisa em que se baseia a premiação, a pergunta que se faz não é sobre o melhor prestador de serviço, mas sim qual é a primeira empresa lembrada pelo consumidor em determinado segmento. E “primeira empresa lembrada” não é, necessariamente, a que melhor presta o serviço. Na maioria dos casos, a “primeira empresa lembrada” será aquela que mais investe em marqueting e propaganda. 
Veja, então, que tudo não passa de mais um ciclo de marqueting: aquele que mais publicar propaganda no jornal A Notícia, etc, tenderá a ser a empresa mais lembrada e, portanto, terá maiores chances de vencer o 100 Melhores. Foi o que aconteceu com a ENSCON em 2019. Se me perguntarem qual é a primeira empresa mais lembrada em João Monlevade no segmento de transporte, também responderei que é a ENSCON. Contudo, se me perguntarem qual é o melhor prestador do serviço de transporte em João Monlevade, de acordo com minha experiência enquanto consumidor, a resposta jamais será ENSCON.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

O Solar de Quatro Faces e o Sol de Seis Raios de João Monlevade


No que diz respeito à sua implantação e ao seu funcionamento, nada foi obra do acaso na Fazenda Carvoeira e Fábrica de Ferro de João Antônio de Monlevade. Desde a disposição dos edifícios, passando pela a abertura de estradas carroçáveis, pela instalação de pontes, pela escolha dos locais de aproveitamento dos recursos naturais, como a utilização do potencial hidráulico dos cursos d’água, a extração do minério de ferro e da madeira, da produção do carvão, até a administração do estabelecimento, tudo se deu em obediência a um conceito muito próprio de solar, no sentido de que era necessário estabelecer um ponto geográfico central, por meio do qual fosse possível a inspeção pessoal de todos os principais serviços envolvidos na cadeia produtiva do empreendimento. E é neste ponto específico que foi erguido o Solar Monlevade.
Assim como o Sol se encontra no centro de nosso sistema planetário que, não por menos é chamado de Sistema Solar, o Solar Monlevade (foto) foi planejado e posicionado na paisagem de maneira a possibilitar o monitoramento contínuo de todos os serviços que orbitavam a produção e a entrega da variada gama de artefatos de ferros forjados pela Fábrica Monlevade. É o que registrou o próprio Monlevade em seu famoso Relatório de 1853:
[...]
“Da morada principal avista-se ele (o rio) ao longe. Ela (o Solar Monlevade) é de sobrado com varandas nas quatro faces, tanto embaixo como em cima, segura com dobrada fileira de esteios; e está colocada no centro de quatro grandes corpos de construções ocupadas pelos escravos, etc. Esta situação facilita singularmente a administração e inspeção do estabelecimento”.
[...]
Assim, das varandas de seu Solar, Monlevade podia avistar e inspecionar, pessoalmente, em todas as direções, o funcionamento dos vários serviços essenciais a seu empreendimento, até mesmo no período das chuvas, o que dificultava muitos deles, como o corte da madeira, a produção do carvão, a mineração e o transporte das peças de ferro, etc. Não se pode deixar de reconhecer que João Antônio de Monlevade foi também um grande maestro que conseguiu como nenhum outro, antes ou depois dele, a regência simultânea, organizada e planejada de todos aqueles serviços. Pode-se dizer, então, que o Solar Monlevade se encontrava disposto em relação aos demais serviços da Fazenda Carvoeira e Fábrica de Ferro, do mesmo modo com que o maestro se posiciona diante de uma orquestra. 


 Mas, o conceito de Solar Monlevade, enquanto ponto central do estabelecimento, não se encerra aqui. É preciso ter em mente ainda que Monlevade também é considerado pela historiografia como um dos maiores construtores de estradas da Minas Gerais oitocentista. E não eram quaisquer estradas. As estradas abertas e estabelecidas por Monlevade, muitas das vezes, contavam com pontes para travessia dos rios, coisa rara na época, e permitiam o trânsito de grandes carretões de quatro rodas, puxados por muitas juntas de bois, capazes de transportar peças de ferro de mais de uma tonelada de peso para seus clientes preferenciais, que eram as Minas de Ouro administradas pelos ingleses como o Gongo Soco, o Morro Velho, etc. Assim, o Solar Monlevade também era o início central de uma extensa rede de estradas carroçáveis, por meio da qual a produção daquela fabulosa indústria era escoada. Em cada janela do andar térreo do Solar Monlevade encontram-se talhados na madeira dois emblemáticos sois de seis raios cada um (foto), numa clara alusão ao conceito de solar e à rede de estradas que dele se iniciava. 




Veja por meio da imagem anexa que o sol de seis raios representa, justamente, os seis ramos de estradas que se originam das imediações do Solar Monlevade, rumando para todas as direções, as quais ainda são utilizadas ainda hoje. Duas delas correspondem, atualmente, ao traçado de duas das mais importantes vias do Município, as avenidas Getúlio Vargas e Armando Farjado.
E foi assim, como um distinto maestro, regente de uma grande orquestra organizada, que João Monlevade conseguiu a inédita façanha de, a partir de 1828, produzir em escala industrial, ininterruptamente, por mais de 50 anos, uma variada gama de ferramentas e artefatos de ferro para a mineração do ouro, fazendo dele a maior autoridade brasileira de sua época no ramo da metalurgia e da mineralogia, além de detentor da mais importante Fábrica de Ferro do Brasil-Império.


quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Artifício de Moreira para se manter no poder tem reprovação derradeira na omissão aos atingidos pelas chuvas




Para quem ainda restava alguma dúvida a sobre a viabilidade administrativa do artifício utilizado pelo ex-prefeito inelegível Carlos Moreira para se manter no poder , ou seja, o mandato da prefeita Simone, agora, depois das conseqüências do imenso volume de chuvas das últimas semanas, não resta mais.
Infelizmente, como pôde ser observados ao longo dos últimos 3 anos, a conquista da primeira mulher eleita prefeita de João Monlevade não se deveu a uma consciência sobre o avanço dos direitos políticos da mulheres, mas sim, tratou-se apenas de um artifício engendrado por Carlos Moreira para se manter no poder, apesar da cassação de seus direitos políticos.
Do primeiro dia de mandado até os atuais, não se viu acontecer na Prefeitura, absolutamente, nada que dependesse da liderança política da prefeita. A cidade está suja, imunda, registrou 4 óbitos por dengue no ano passado e segue, desnorteada, sem um plano de desenvolvimento, vivenciando um caos na saúde, sucateamento na educação, ausência total de atmosfera cultural, crise profunda no Hospital Margarida, etc, etc. E é obvio que um programa de prevenção e de atendimento aos atingidos pela chuva também é algo que depende de liderança política para acontecer. E não também houve nada neste sentido. Não houve um plano de contingência específico para os já conhecidos pontos de alagamento e de risco geológico da cidade. Não houve monitoramento do nível do rio, nem manutenção prévia da rede pluvial e das válvulas de contenção de enchentes no Bairro Santa Cruz. Não houve nada.   
E pior do que a ausência de prevenção foi a resposta do governo Simone/Moreira para o ocorrido. Depois de inundado, foram várias horas para que alguém da prefeitura aparecesse no bairro Santa Cruz. Não houve cadastramento dos atingidos, nem encaminhamento dos mesmos para abrigos, nem organização dos donativos ou coisa parecida.  No momento seguinte ao alagamento do bairro não havia sequer caminhão da prefeitura disponível para o socorro.  Tudo o que gerou bastante indignação dos atingidos e vídeos contundentes de cobrança que circularam pelas redes sociais. Aí, o governo saiu da posição de mero espectador e passou agir, mas não para socorrer os atingidos, mas sim para punir os que ousavam protestar. Absurdo derradeiro foi quando a prefeitura anunciou que os donativos feitos pela população para os atingidos do Bairro Santa Cruz seriam encaminhados para os centros comunitários de outros bairros. Em suma, foi um triste espetáculo de incompetência, omissão, perseguição, censura e completa ausência de liderança política por parte da prefeita.
É preciso que o cidadão enxergue que o estratagema utilizado por Moreira para se esquivar da cassação de seus direitos políticos e se manter no poder através de sua consorte conjugal, simplesmente, não funcionou, como já era esperado, até porque a inelegibilidade deve ser encarada de antemão como sinal esgotamento político. O monlevadense tem tido a oportunidade de aprender com a experiência própria que a liderança política necessária às ações de governo só pode acontecer quando a pessoa que ocupa a cadeira de Chefe do Executivo é a mesma  que comanda a administração pública, pois 2020 é ano de eleições municipais.  

300 Anos de Minas Gerais


No presente ano de 2020, Minas Gerais completará 300 anos de constituição política.
Já no ato de descoberta do Brasil, os portugueses sugerem o que viria a ser uma fixação por metais preciosos, como narra a Carta de Pero Vaz de Caminha. Depois da descoberta pelos espanhóis da montanha de prata do Potosi na Bolívia ainda no sec. XVI, os portugueses passam a nutrir uma verdadeira convicção de que também encontrariam metais preciosos na mesma longitude em terras brasileiras. E, incrivelmente, estavam corretos. No entanto, não seriam eles a encontrar a maior quantidade de ouro já descoberta na superfície do planeta.
Antes da descoberta das Minas de Ouro, muitas expedições portuguesas foram organizadas e enviadas ao interior do Brasil a procura de ouro e prata. As que não foram, completamente, devoradas pelos índios, voltaram em frangalhos, sem encontrar nada, numa desanimadora proporção de dois sobreviventes para cada dez expedicionários enviados ao sertão.
Apesar das inúmeras tentativas, não foram os portugueses os descobridores das Minas de Ouro, mas sim os bandeirantes paulistas, ou seja, as primeiras gerações de brasileiros, um híbrido genético-cultural entre o português e o índio. Um tipo de gente bravia, indômita, que falava o tupi, muito mais do que o português, se alimentava do feijão, do milho, da farinha de mandioca, dormia sobre redes, e, muito embora andassem descalços, jamais pisavam nas jararacas. Retrato muito diferente daquele visto nos livros de história. Nota-se, portanto, que o sucesso na descoberta do ouro só foi verificado depois que o português passou a assimilar a cultura do índio.
Os bandeirantes paulistas descobriram o primeiro ouro em 1695, em Mariana, dentro de seu próprio território. Até 1720, o território que hoje compreende o estado de Minas Gerais era uma extensão da Capitania de São Paulo. É verdade, este chão que hoje pisamos já foi São Paulo um dia.
Assim que circulou a notícia da descoberta de tão ricas jazidas, houve imenso afluxo de pessoas para a região, entre as quais muitos portugueses, pernambucanos, baianos, fluminenses, etc e mais paulistas. Contudo, os bandeirantes paulistas se revelaram avarentos por demais diante de toda aquela fortuna e resolveram monopolizar as Minas de Ouro para si. Recusaram-se a dividir o ouro. Então, os ânimos se polarizaram entre descobridores e os não-descobridores, seguindo-se a uma intensa tensão entre eles. Até que um dia, em Caeté, veio a gota d’água. Um bandeirante paulista desaforou um português, chamando-o de emboaba, que na língua tupi se refere a uma ave pernalta nativa meio desengonçada, em deboche às botas de couro de caneleira longa utilizadas pelos não-descobridores do ouro para proteção contra o ataque das numerosas cobras venenosas do sertão. Houve intenso tiroteio. Assim, eclodiu a Guerra dos Emboabas, que se desdobraria em muitas batalhas e em eventos de emboscadas, revanches e grande morticínio, notadamente, na sugestiva Comarca do Rio das Mortes, atual São João del Rey. O conflito terminou em 1709 com a derrota vexatória dos bandeirantes paulistas, que acabaram expulsos das Minas de Ouro. Com a perda da influência paulista foi, então, fundada em 1711 a Capitania de São Paulo e Minas de Ouro, com capital em Mariana, a Primaz de Minas.
Até que, em 1720, Portugal anuncia a instalação das Casas de Fundição para a quintagem do ouro. Foi o suficiente para convulsionar os mineiros, novamente. O episódio teve grande repercussão e ficou conhecido como a Sedição de Vila Rica ou Revolta de Felipe dos Santos. Felipe foi preso, condenado, enforcado e esquartejado. O Arraial do Ouro Podre, em Vila Rica, reduto da revolta, foi incendiado e arrasado. Diante da tamanha insurreição que se verificou, a Coroa Portuguesa, então, decidiu separar de vez as Minas de Ouro da Capitania de São Paulo, fundando a Capitania das Minas de Ouro e dos Campos Gerais dos Cataguases, transferindo a capital de Mariana para Vila Rica, a fim de exercer maior controle sobre a segunda, devido a sua especial vocação para revoltas.
Curioso notar que quando os termos “minas” e “gerais” foram utilizados juntos pela primeira vez, as minas eram de ouro e gerais eram os campos dos Cataguases, muito embora já se utilizasse em Vila Rica a denominação Minas Gerais do Ouro Preto. O topônimo Minas Gerais somente se oficializaria a partir de 1732 quando o termo passou a ser utilizado nas Cartas Régias.

Pátria Monlevadense

É torrão da casa do francês
Perto das terras de São Miguel
Onde do metal e do carvão foi forjado um anel
Alvorecem trêmulas as montanhas
Do glorioso ferro de suas entranhas
A fábula, os malhos e a altivez
Ó pátrio Solar, testemunha ocular
Indústria a fogo, suor e chibata
Sem história correlata
Te amar, amar, amar
Do anel se urdiu corrente
E pra lá partiu tanta gente
Apressa, vende, empreende
Cenário de tanta modernidade
Pioneiro berço da siderurgia
Que ninguém poderá esquecer um dia
Do nome daquele Monlevade