terça-feira, 20 de outubro de 2020

Dois Mestres-Carreiros de Monlevade transportam um Aguilhão de 900 quilos de ferro forjado até a Mina de Ouro do Morro Velho


A foto acima não é de um carretão a serviço da Fábrica de Ferro Monlevade. A legenda revela se tratar de carro que leva o primeiro motor a vapor, da ferrovia para a Mina do Morro Velho. Contudo, ela é ilustrativa no sentido de revelar como era o transporte pesado e regular de peças de ferro em carretões de quatro rodas, puxados por muitas juntas de bois, inaugurado na região por João Monlevade, a partir da instalação de sua Fábrica em 1828. O carretão da foto pode até ter sido fabricado em João Monlevade, pois a sua fábrica foi fornecedora preferencial de artefatos de ferro para as Companhias Inglesas e também fabricava os fabricava. Infelizmente, os arquivos da Fábrica de Ferro Monlevade, que, inclusive, podem conter fotos dos aspectos produtivos do estabelecimento, foram extraviados para o Rio de Janeiro, em 1891, quando a propriedade foi vendida para a Companhia Nacional de Forjas e estaleiros, encontrando-se hoje em paradeiro desconhecido.


João Monlevade, meados do ano de 1854.
Meu nome é Januário, sou escravo de Angola e mestre-carreiro na Fábrica de Ferro Monlevade. Nos próximos dias, conduzirei com o auxílio de meu ajudante, Francisco Ferreiro, o carretão de quatro rodas, puxado por 7 juntas de bois, que transportará o aguilhão de 60 arrobas (900 Kg) de peso, daqui, da porta da forja, até  a Mina de Ouro do Morro Velho, a 20 léguas (130 Km) de distância, onde deveremos entregá-lo a salvo, sem a menor falência, e no menor prazo possível.   
O aguilhão é a mais pesada peça de ferro, forjada em Monlevade. Muitos já foram produzidos e enviados para as companhias inglesas mineradoras do ouro, alguns deles, pesando mais de uma tonelada. Trata-se de um eixo de transmissão, aplicado na montagem do Engenho Mineiro de Pilões, aparato mecânico movido por roda hidráulica, muito empregado pelas Companhias Mineradoras na trituração do quartzito aurífero retirado das galerias subterrâneas para posterior lavagem e apuração de grandes quantidades de ouro. A ferragem do Engenho Mineiro de Pilões, inclusive as cabeças de seus trituradores, que são blocos sólidos de 80 quilos de ferro forjado, é também toda produzida em Monlevade e enviada para as maiores Minas da região. Como é muito pesado, para se fabricar um grande aguilhão demanda-se todo o ferro produzido em dois dias inteiros de operação na Fábrica Monlevade e o trabalho coordenado dos melhores mestres-ferreiros. Logo, ele é modelado, empregando-se apurada técnica de forja, de solda e de alinhamento dominadas apenas em João Monlevade. “Não se tem notícia no Império Brasileiro de outra fábrica que produza peças de ferro tão pesadas e bem acabadas”, é o que não se cansa de repetir o Capitão Monlevade.
A viagem para o Morro Velho é a maior que fazemos, regularmente. Da Fábrica, partem vários ramos de estradas carroçáveis que levam a todas as direções. A maior freqüência das viagens de carro é para Mina do Gongo Soco, que é o principal cliente da Fábrica de Ferro. Também viajamos muito para a Mina de Pari e para as cidades de Itabira, Santa Bárbara, Caeté, Sabará, etc. Nos meses chuvosos, as estradas ficam, praticamente, intransitáveis. O pouco trânsito de carretões de quatro rodas se limita aos serviços internos que não podem parar na Fábrica de Ferro, como o transporte do carvão, do mineral de ferro, etc. Durante o período de chuvas, o escoamento da produção fica, virtualmente, interrompido, a não ser pelo deslocamento de poucas tropas que se aventuram a levar artefatos mais leves, como ferraduras, cravos, ferramentas de mão, etc. Os produtos mais pesados, que não são poucos, são estocados, aguardando o tempo seco favorável para que sejam transportados, conforme as encomendas.  Na primeira lua cheia do inverno, quando firma a estiagem, inicia-se a temporada das longas viagens de carro na Fábrica Monlevade.
Desta vez, quem vai comigo é o Francisco Ferreiro. Já conduzi muitos carretões, os mais pesados. Mas, será a primeira viagem de carro de Francisco Ferreiro. Como o próprio nome diz, Chico Ferreiro era mestre-ferreiro, habilmente, treinado em pessoa pelo próprio Capitão Monlevade. Ele manipulava ferros de todas as formas e tamanhos. Fazia cravos perfeitos em velocidade fabril, fechaduras confiáveis, os melhores cutelos, almofarizes, dobradiças retilíneas, moendas e até uma inacreditável máquina de costura que ficou muito famosa. Chico Ferreiro era sempre o preferido pelo Capitão Monlevade para liderar os trabalhos de solda e de alinhamento preciso dos aguilhões. Mas, foi, justamente, durante o alinhamento de um aguilhão maior, que conduzi para a Companhia do Gongo Soco na última temporada de carro, que Chico Ferreiro se acidentou no maior malho hidráulico da Fábrica, machucando-se, gravemente. Quase o perdemos. Ele passou muitos dias acamado, teve muita febre. Mas, com a graça de Deus, o Chico Ferreiro deixou de ter febres, levantou-se da cama, já se recuperando bastante. Então, o Capitão Monlevade determinou que o Chico se afastasse do trabalho nas Tendas de Ferreiro e que eu o treinasse para trabalhar nas viagens de carro, como mestre-carreiro. Existe uma rígida hierarquia dentro da Senzala Monlevade. Apesar de sermos todos escravos, os mestres-ferreiros são os que se acham por cima da carne-seca. Eles são cheios de empáfia. Tudo de melhor é para eles. Em seqüência, são os carvoeiros. “O carvão não pode nunca faltar”, diz sempre o Capitão. Depois, somos nós, os carreiros, seguidos pelos tropeiros, carpinteiros e pedreiros. Ainda existem os escravos que servem à Casa Grande e se equiparam aos mestres-ferreiros. Tudo é muito complexo em Monlevade! Assim, mesmo que sem merecimento, o Chico Ferreiro se sente “rebaixado” para o posto de carreiro, apesar de seguir vivendo na Senzala dos Ferreiros. Lá, por exemplo, tem a melhor comida. Então, ele não está muito feliz.  Mas, acho que o Chico Ferreiro vai acabar compreendendo que conduzir uma tonelada de carga num carretão de quatro rodas, tracionado por muitas juntas de bois até a Mina do Morro Velho, em Congonhas do Sabará (Nova Lima), a 20 léguas de distância, pode ser uma proeza tão grande quanto fabricá-los.  Afinal, do que adianta forjar as maiores peças de ferro já produzidas no Império Brasileiro, se não pode transportá-las até o destino, onde serão utilizadas?!!
O transporte de um pesado aguilhão até o Morro Velho demanda planejamento e estrutura. As condições de trafego da estrada são mantidas pela Fábrica de Ferro Monlevade. A Capitão também é conhecido pelas muitas estradas que abriu e mantem. Há pousos pré-determinados, onde os animais descansarão e serão alimentados. São 14 cabeças no total. É necessária muita atenção para com os animais, saber a hora de puxar o carro, de alimentar o gado, dar de beber, de aliviar a marcha e de descansar.  Se eu perder um boi, vou para o tronco. Se quebrar uma roda do carro, vou para o tronco. Se o Aguilhão virar na estrada, também vou para o tronco. Difícil dizer o que é pior na escravidão, a violência física que sofremos ou a violência moral, a que somos submetidos no sentido de não podermos escolher sobre nosso próprio destino. Por isso, espero ansioso pelo início da temporada dos carros de bois na Fábrica de Ferro Monlevade, pois é quando posso viajar e ver coisas, lugares e pessoas diferentes. A temporada de carro é uma ilusão de liberdade para o escravo-carreiro.       
Os carretões empregados neste transporte são de quatro rodas, à moda européia, os maiores e melhores da região, fabricados pela própria Fábrica de Ferro, que também os vende a quem se interessar. Existem muitos deles. São necessários, no mínimo, dois condutores para guiar um carretão. Um vai a frente guiando o gado para fazê-lo pisar no local certo da estrada, o outro segue no carro, acompanhando as condições da carga, que deve estar muito bem amarrada, e acionando os freios, quando necessário, sempre preparado para calçar as rodas, se for preciso.  Levamos ainda mantimentos, material sobressalente, lanternas, enxada, alavancas, cordame, etc. Partimos amanhã, ao alvorecer.

1° Dia.

Sob os primeiros raios de sol, deixo a senzala dos carreiros, dirigindo-me para o Solar, onde sou recebido pelo próprio Capitão Monlevade para encarregar-me do transporte e proceder às ultimas ordens. Atravesso o terreiro em direção ao grande curral onde as 7 juntas de bois já se encontram dispostas na fileira de cangas, prontas para o enganche no carro, que, por sua vez, acha-se estacionado na Forja, logo abaixo, já carregado com o aguilhão. É na Forja que me encontro com Chico Ferreiro para prender as juntas de bois ao carro, tendo, então, início a nossa viagem. Seguimos em direção a São Miguel do Piracicaba sob forte cerração.
A estrada para São Miguel é muito boa e muito movimentada pelas tropas. Quanto mais próximas da Fábrica, melhores são as estradas. Ela segue pela margem esquerda do Rio Piracicaba e possui muitos bebedouros para o gado. Eu e Chico Ferreiro vamos revezando. Quando ele segue no carro, eu sigo na guia a frente dos animais e vice-versa.  Chico Ferreiro é homem de poucas palavras, enxerga mais do que fala. E mais ou menos na metade do caminho para São Miguel, ele já dá sinal de rastro de onça. E era mesmo um rastro fresco de onça. Não nos preocupamos, ela já deve estar longe. Perigoso é quando se encontra rastro fresco de onça acompanhado do rastro do filhote. Então, ela quase sempre ataca.  Mas, sem o rastro do filhote, seguimos em frente. Paramos um pouco para o gado descansar, ruminar e voltamos logo em seguida para a estrada. Temos que chegar a São Miguel, antes do anoitecer, para o pouso programado na propriedade de João Gomes de Freitas, grande amigo do Capitão Monlevade. Mais uma légua de marcha a diante, chegamos ao primeiro pouso. Somos recebidos pelos funcionários da propriedade e os bois são conduzidos para o curral, onde descansarão e serão alimentados. Acendemos o fogo, Chico Ferreiro vai cozinhar o feijão, para acrescentarmos a farinha e ao toucinho que trazemos na lata. Após jantarmos, dormimos dentro do próprio carretão.

2º Dia.
No segundo dia de viagem, madrugamos para emparelhar o gado no carro e partimos rumo a Santa Bárbara. Levamos bastante feno para a alimentação do gado no próximo pouso que será à beira da estrada. Precisamos fazer render bem a marcha do carro para chegarmos a Santa Bárbara em dois dias. A diante, na estrada, vai o rastro fresco de uma mula. ¼ de légua depois, o rastro da mula coincidiu com pegadas de gente. É... parece que o cavaleiro caiu da montaria.  ¼ de légua mais a frente, encontramos o cavaleiro, à pé e nada da mula, a não ser o seu rastro. Ele nos disse que havia apeado para matar a sede no ribeirão, quando sua mula fugiu em disparada. Sei não, o sujeito manca um pouco, está mais para queda. E perguntou se podia pegar uma xepa no carretão. O Capitão Monlevade nos orienta a não darmos carona no carro. Mas, deixei que ele pegasse “o boi” e nos acompanhasse enquanto o rastro da mula se mantivesse no leito da estrada. Rodamos por todo o dia, parando algumas vezes nas sombras e nos bebedouros, até alcançarmos o ponto do próximo pouso, no fim da tarde, onde nos deparamos com a danada da mula, lá paradinha, como se estivesse aguardando seu cavaleiro. Desta vez, vamos pernoitar a beira da estrada. Nestas condições, o gado nem é retirado das gangas, as juntas são apenas separadas. O gado é manso, obediente, quase treinado. Ele é alimentado com feno e passa a noite ruminando. O cavaleiro  da mula fugida seguiu apressado para Santa Bárbara. É noite de lua cheia, a estrada está bem iluminada. Como o Capitão Monlevade nos orienta a não movimentarmos o carro durante a noite, ficamos por aqui. Agora, é a minha vez de preparar o feijão tropeiro. Chico Ferreiro acendeu as lanternas e foi buscar lenha. Depois do jantar, dormimos.    
              
3° Dia.
No terceiro dia de viagem, já no alvorecer, apagamos as lanternas e o fogo, emparelhamos as juntas de bois, enganchamos o carro e seguimos rumo a Santa Bárbara. Chico Ferreiro, agora viu rastro de lobo na estrada. Em Monlevade existem muitos, eles só atacam os galinheiros. Vamos parando nos bebedouros, alimentando os bois com feno e respeitando o sol forte, apesar do inverno. Já no fim da tarde, chegamos a Santa Bárbara, onde pousamos no mercado das tropas. Levamos o gado para o curral e eu vou à mercearia comprar ovos e lingüiça para o feijão-tropeiro do jantar. O Capitão Monlevade permite a nós, seus escravos, que aproveitemos o domingo para lavrar ouro nos ribeiros. Então, agora é hora de gastar um dinheirinho! Na volta compramos um monte de encomendas para toda a Senzala. Os que mais compram são os mestre-ferreiros. Por isso, a comida deles é tão boa.

4° Dia.
No quarto dia de viagem, deixamos Santa Bárbara rumo a São João do Morro Grande (Barão de Cocais). A estrada também é boa e movimentada pelas tropas. Saímos logo cedo e, ao meio dia, já estávamos à sombra em São João, onde recebemos de uma tropa a notícia de que dois dias atrás de nós vem subindo outro carretão de Monlevade, carregado de ferragens para a Companhia do Gongo Soco. A partir daqui, é preciso vencer a Serra da Piedade, no Morro Vermelho, e a Serra do Curral, em Congonhas do Sabará (Nova Lima). O terreno é ladeirento, exige muito mais dos animais, dos freios dos carros e dos carreiros. Pousamos, no fim da tarde, à beira da estrada, a meio caminho do Morro Vermelho.

6° Dia.
No sexto dia de viagem, partimos cedo, novamente. Subir a Serra do Morro Vermelho não é nada fácil. Leva o dia inteiro! No início da noite, pousamos no arruamento do arraial. Haja lenha para a fogueira, basta o sol se por para o frio escorrer das serras. A noite vai ser muito fria.  
     
7° Dia.
O sétimo dia de viagem amanhece tomado pela bruma. Não é possível ver nada além do nevoeiro, no Morro Vermelho. Mas, vamos tratando de levantar o pouso e rumar para o Arraial dos Raposos.  As ladeiras são muitas, o carro sobe e desce. É necessária muita precisão para subir os morros de uma vezada só, o que é mais fácil. Nas descidas, é preciso acionar o freio no ritmo das passadas dos animais. Chico Ferreiro vai revelando jeito para o freio.   Chegamos ao Arraial dos Raposos, nosso último pouso programado, no meio da tarde. Pousamos junto de umas tropas de comércio, que seguiam para Sabará. Ouvimos muitas histórias até tarde da noite.    

8° Dia.
No oitavo e último dia de nossa jornada, rumamos muito cedo para a Companhia do Morro Velho, em Congonhas do Sabará (Nova Lima), destino final do transporte. A passagem do Arraial dos Raposos para o Morro Velho também é repleta de ladeiras. Mas, mantendo uma boa passada do gado, chegamos lá no início da tarde. A Mina de Ouro do Morro Velho é o segundo maior cliente da Fábrica de Ferro Monlevade. Ela compra de tudo, desde ferramentas como almocafres, enxadas, pás e picaretas, passando pela cabeça dos trituradores dos Engenhos Mineiros de Pilões, até aguilhões de 1 tonelada.
Finalmente, depois de 20 léguas e muito suor, entregamos, mediante recibo do gerente da Saint John d'el Rey Mining Company o aguilhão de 60 arrobas de ferro forjado que será empregado no processo de mineração do ouro. Descansaremos o restante do dia, para iniciarmos nosso regresso amanhã bem cedo. Há mais cargas a serem transportadas, a temporada de carro está apenas começando na Fábrica de Ferro Monlevade. Chico Ferreiro, então, me diz que pode até mudar o nome para Chico Carreio, mas que vai continuar a almoçar e a jantar na Senzala dos Ferreiros. Eu sigo minha vida na lida com o carro e volto para casa com a sensação do dever cumprido e a ilusão de liberdade que só um escravo-carreiro da Fábrica de Ferro Monlevade pode ter.    



terça-feira, 13 de outubro de 2020

Estrada do Forninho até Itabira foi aberta por Monlevade, há quase 170 anos


 

Não é por menos que o metalurgista, poeta e minerálogo, João Antônio de Monlevade, é reconhecido pelos historiadores como um dos maiores construtores de estradas do século XIX em Minas Gerais, quase sempre carroçáveis, e dotadas de pontes para a travessia dos rios.  Monlevade compreendia que o desafio não era apenas o de produzir, em escala, as maiores peças de ferro já forjadas no Brasil, mas também transportá-las até os mercados consumidores ou a seus clientes preferenciais. Muito antes das estradas de ferro, o transporte disponível para escoamento da produção da Fábrica de Ferro eram as tropas e os famosos carretões de quatro rodas, puxados por muitas juntas de bois, também fabricados em Monlevade.  

A estrada de carro mais longa aberta por João Monlevade que se tem registro é a que ligava sua Fábrica de Ferro à Mina do Morro Velho, em Nova Lima, contando com 130 quilômetros de extensão. As viagens de carretões de quatro rodas puxados por muitas juntas de bois e carregados de peças de ferro mais freqüentes eram pela estrada até a Mina do Gongo Soco, que era o principal cliente da Fábrica de Ferro. Mas, outras localidades também representavam mercados importantes para os artefatos de ferro produzidos em João Monlevade, como a cidade de Itabira.      

Foi em Itabira que pela primeira vez em Minas Gerais se empregou na mineração do ouro a tecnologia do Engenho Mineiro de Pilões, cuja ferragem completa, inclusive as cabeças dos trituradores, era fabricada em Monlevade. As elevadas somas de ouro apuradas nas minas do Pico do Cauê demandavam cada vez mais ferramentas e peças de ferro para explorá-las. Assim, até pela pouca distância, a Fábrica de Ferro Monlevade  não poderia ficar sem comunicação direta com a cidade de Itabira. 

No Relatório de 12 de dezembro de 1853, Monlevade comunica ao Governador da Província de Minas Gerais, Diogo de Vasconcelos, o andamento da construção da estrada até Itabira, que, àquela altura, dependia da conclusão da ponte sobre o Rio Santa Bárbara para prosseguir rumo ao destino pretendido. Ele escreveu, “ Ela (a fábrica de ferro) é aqui distante ... a seis léguas da cidade de Itabira , mas ficando acabada a ponte agora em construção sobre o Rio Santa Bárbara, assim como a estrada da dita para a cidade, ficará a distancia reduzida a 4 ¼ léguas”.          

A partida pela Estrada do Forninho rumo a Itabira inicia-se no nível do Córrego Carneirinhos, no entorno do Solar Monlevade e originalmente, seu trajeto inicial seguia pela rua de acesso ao Bairro Pedreira, até alcançar o leito atual da estrada no trevo à frete, para subir a Serra do Andrade e descê-la pelo outro lado até o nível do Rio Santa Bárbara, atravessando a ponte e voltando a subir, serpenteando pelas cristas das serras, vindo a descê-las apenas quando já se avista a cidade de Itabira. O percurso é, muitas vezes, íngreme e, sempre, sinuoso. É incrível saber que aquele trajeto foi, originalmente, aberto em meados dos anos de 1800, a golpes de machados, enxadas, picaretas, etc, e que por aquelas alturas trafegaram numerosas tropas e pesados carros de bois, carregados de peças de ferro.

Mas como se pode afirmar que o trajeto original da Estrada do Forninho foi aberto por Monlevade? Ora, pelas informações prestadas por João Antônio de Monlevade ao Governador de Minas, em 1853. Não há outra estrada que liga, diretamente, o município de João Monlevade à cidade de Itabira, passando uma ponte sobre o Rio Santa Bárbara e medindo exatas 4 ¼ léguas, ou seja, 28 quilômetros de distância. A estrada anterior, de 6 léguas de extensão a que Monlevade se referiu  é aquela que passa por São Gonçalo do Rio Abaixo.  Claro que nestes últimos quase 170 anos, a Estrada do Forninho, passou de estrada carroçável à uma estrada de rodagem bastante sinuosa, recebendo alargamento, pavimentação asfáltica, sinalização, rede de drenagem, etc (foto). Mas, o seu traçado original, sem dúvida, é aquele, cuja construção foi mencionada por João Antônio de Monlevade no Relatório de 1853.