quinta-feira, 26 de novembro de 2020

O Fim de um Ciclo do Terror e a Primavera que não se Acaba Mais


Primeiramente, há que se reconhecer a imensa maturidade do eleitor monlevadense em conceder a vitória nas urnas ao Partido dos Trabalhadores. Digam o que quiserem os negacionistas, mas foi o PT o partido a vencer as eleições em João Monlevade. O PT! Sinal de mudança de ventos na onda fascista que vive o Brasil. Monlevade é uma cidade sempre muito politizada. E o nome de Dr. Laércio realmente é muito forte. Finalmente, depois de 20 anos, uma pessoa séria é eleita Chefe do Executivo Municipal. Dr Laércio será, ao mesmo tempo, o último e o primeiro prefeito sério a governar o Município, depois de 20 anos. 
Na outra ponta do resultado eleitoral, é possível enxergar claramente o melancólico fim de um verdadeiro ciclo do terror. Um terror que não apenas se relaciona com o resultado terrível de 20 anos de influencia política de Carlos Moreira em João Monlevade, mas principalmente pelo terror que representou para a democracia monlevadense. Tecnicamente, não se pode ter instalada a Democracia num ambiente de manipulação dos meios de comunicação. E foi justamente, valendo-se, durante anos, de descarada e sistemática manipulação de meio de comunicação social, que Carlos Moreira foi eleito prefeito de João Monlevade no ano de 2000. Durante todo o tempo em que esteve na Rádio Cultura, Carlos Moreira deturpou a democracia monlevadense, na medida em que negou ao povo a liberdade de Imprensa. Ele é o precursor das "fake news". Depois de eleito, além do controle político do conteúdo, inclusive, jornalístico da Rádio Cultura, Carlos Moreira passou a adotar também a estratégia do aparelhamento político das instituições para se manter no poder. Nisso ele foi campeão. Foi quando o Município de João Monlevade perdeu os trilhos do desenvolvimento. O desenvolvimento somente pode ser alcançado através do bom funcionamento das instituições, imprensa livre é apenas uma delas. Ao aparelhar as instituições municipais a fim de servirem a seu projeto pessoal de poder, elas deixaram de servir ao povo e o retrocesso se instalou. Assim, Moreira foi reeleito em 2004. Em 2008, ele perdeu as eleições e voltou para a “Rádia”. Já inelegível por múltiplas condenações por variados atos de improbidade administrativa, em 2012, Moreira se viu impedido de candidatar-se e foi o principal cabo eleitoral do candidato eleito. Em 2016, ainda sob o efeito da inelegibilidade de mais e mais condenações por improbidade administrativa, Moreira lançou candidata á Prefeitura sua consorte conjugal, que venceu as eleições com um diferença de apenas 126 votos, o que fez muito mal à sua percepção política. A partir da vitória de Simone, Moreira passou a considerar-se, politicamente, infalível. O poder subiu-lhe a cabeça. Quando que, na verdade, aquela eleição havia sido perdida por questões internas da oposição. Assim, foi muito fechado o governo Simone, inclusive para muitos aliados. Também foi incapaz de emanar uma liderança. Tudo que dependeu da liderança da prefeita para acontecer nos últimos quatro anos, simplesmente, não aconteceu em João Monlevade. Nada, desde limpeza pública, até o socorro aos atingidos pela última cheia do Rio Piracicaba. Aliás, depois da cheia do rio, o que se viu foi uma crescente onda de antipatia em relação ao governo. No Centro Comercial, em Carneirinhos, a onda de antipatia parecia um tsunami . Até que, na segunda metade do governo Simone, Moreira foi desligado da Rádio Cultura. Eu sempre disse: Carlos Moreira nunca foi nada além da manipulação política que fez na rádio; não fosse a rádio, não existiria Moreira. Dito Feito. Uma vez desligado da Rádio, o castelo de cartas desmoronou-se. Foi só Moreira deixar a rádio, que Simone perdeu o apoio do vice-prefeito, vivenciou duas dissidências internas e viu a Câmara virar-se contra si. Tudo se desfez. Nunca mais. A rádio, agora integrada a um sistema de programação regional de conteúdo, não tem mais o tão danoso programa “Carlos Moreira”. Assim, ele não tem mais o que inventar. Como segue inelegível para os próximos 20 anos ou mais, Carlos Moreira não poderá atrelar-se a ninguém para se esquivar de sua inelegibilidade, vez que o eleitor já comprovou que tal artifício não é sinônimo de bons resultados administrativos. Muito pelo contrário, o resultado foi muito ruim. É o fim de um ciclo. Moreira deixa um terrível legado para João Monlevade, uma cidade abandonada, imunda, esburacada, triste, refém da Dengue, vítima da falta d’água sistemática, do esfacelamento do sistema de saúde, de arruaças no Hospital Margarida, de obras inacabadas e muita corrupção. É preciso que o cidadão compreenda, por exemplo, que aquele terrível e obscuro Frankestein de concreto a que se chegou a chamar de hospital Santa Madalena, que só representou prejuízos e perdas para a comunidade, como a evaporação de muito mais de 22 milhos de reais, a perda de uma Rodoviária centralizada e bem estruturada, do PA, da Policlínica Central, etc, etc, é produto direto da manipulação política efetivada por Carlos Moreira na Rádio Cultura. A lição que fica é a de sempre se defender a Democracia, jamais permitindo que ela seja deturpada por demagogos oportunistas, seja por meio do rádio ou da imprensa escrita, que está cheia de marqueteiros de político, travestidos de jornalistas. Devemos estar sempre vigilantes neste
sentido. Mas, graças a Deus que acabou. Mesmo que ele continue na Rádio Global, ela não tem o poder que já teve a Rádio Cultura. Vivemos a era das redes sociais de mídia eletrônica.
A sensação em João Monlevade, após as eleições municipais, é de alívio, de leveza e de esperança. É como se espessas nuvens de escuridão tivessem se dissipado e a primavera não fosse terminar no próximo dia 21. Na João Monlevade de 2020, apesar da pandemia, a primavera se estenderá além do ano novo. Moreira, nunca mais! E viva a primavera que, em João Monlevade, não se acaba!

terça-feira, 24 de novembro de 2020

Brincadeira da Infância Monlevadense: uma caixa de sapatos, uma lâmpada cheia d'água, uma vela e um retalho de filme do Cine Monlevade



Acompanho com muito interesse e curiosidade pela rede social o projeto de reconstrução virtual da Praça Ayres Quaresma (imagem), realizado pelo monlevadense, da gema, Lev Vertchenko. 
Vejo todas as imagens, as variações de texturas, leio todos os comentários, etc.Muitos comentam sobre as brincadeiras de infância daquela época de ouro, quando foram crianças no Monlevade Antigo. 
Fiquei especialmente impressionado com a brincadeira revelada num daqueles comentários que consistia no seguinte: a meninada que brincava em meio aos arcos do casario da Praça Ayres Quaresma estava sempre atenta aos retalhos de filmes que eram descartados pelo Cine Monlevade. Uma vez na posse dos retalhos, corriam para casa, onde, com o ajuda de uma caixa de sapatos, uma lâmpada queimada cheia d’água e uma vela acesa, projetavam as imagens dos filmes na parede do quarto escuro.

terça-feira, 3 de novembro de 2020

Cemitério Histórico pode ser a maior fonte de dados sobre a escravidão em João Monlevade


Durante os quase 50 anos que aqui viveu, João Monlevade colacionou uma invejada Biblioteca e farta documentação, composta pela contabilidade e registros de sua Fábrica de Ferro, além de muitos relatórios mineralógicos e correspondências trocadas com diversas autoridades. Poucos anos após o falecimento de Monlevade, Henri Gorceix fundava, em 1876, a Escola de Minas de Ouro Preto, propondo a compra de parte da Biblioteca de João Monlevade. Era um acervo de cerca de 300 volumes, dentre os quais se destacavam 57 volumes do “Annales des Mines” e do“Journal des Mines”, 30 volumes do “Dicionaire critique et bibliographique”, 13 volumes do “Cours de Agriculture” e inúmeras obras sobre a metalurgia do ferro. Contudo, a compra não se concretizou. E, infelizmente, quando a propriedade foi vendida para a Companhia Nacional de Forjas e Estaleiros, em 1891, a Biblioteca e os registros produzidos ao longo de quase 5 décadas pela Fábrica Monlevade foram extraviados para o Rio de Janeiro, encontrando-se hoje em paradeiro desconhecido. Muito possivelmente, tais documentos devem integrar hoje algum acervo do Barão de Mauá, no Rio de Janeiro, pois não é possível crer que foram jogados fora, já que possuíam grande valor econômico, vez que, entre outros, eram os primeiros registros da imensa riqueza mineral de Minas Gerais. Assim, atualmente, são muito poucos os documentos disponíveis capazes de embasar a história da Fábrica de Ferro Monlevade. Os principais são as cartas de Guido Thomaz Marlieri, que registram a expedição pelos rios Doce e Piracicaba, tripulada por uma centena de índios botocudos, que transportaram as 7,5 toneladas de equipamentos para o local escolhido para o estabelecimento da fábrica e o Relatório de 1853, redigido de próprio punho pelo Monlevade, que descreve as cinco cordilheiras de ferro de Minas Gerais, sua Fábrica de Ferro, etc, etc. 
Muito pouco se sabe, por exemplo, a respeito de seus escravos. E na falta de registros documentais disponíveis, a arqueologia pode se tornar uma boa base de dados para o esclarecimento de uma faceta muito controversa e pouco abordada de nossa história que foi a escravidão em João Monlevade. 
Monlevade foi sepultado em meio a seus escravos. No alto de uma colina a pouca distância do Solar Monlevade, situa-se o Cemitério Histórico, também chamado de Cemitério dos Escravos, onde se encontram os túmulos do próprio João Monlevade, de Louis Ensch, etc, e onde, segundo a tradição oral, também se encontram sepultados os corpos dos escravos que serviram à Fábrica de Ferro Monlevade. O cemitério é amplo, murado de alvenaria de pedras e os jazigos dos escravos são desprovidos de sepultura, o que impossibilita distingui-los. Não se sabe, ao menos, quantos escravos estão sepultados ali. O que se sabe é que foram muitos, mais de 150. Na falta dos registros, apenas uma escavação criteriosa poderia revelar o número exato de sepultamentos ali ocorridos. E, a partir do estudo do material exumado, tantas outras informações valiosas ainda poderiam ser fornecidas como, sexo, idade, origem étnica, desgaste ósseo por esforço repetitivo, fraturas por acidentes do trabalho, causa da morte, etc, etc. 
O Cemitério Histórico é uma cápsula do tempo, aguardando para ser revelada e, sem dúvida, o maior “banco de dados” que se conhece hoje sobre a escravidão em João Monlevade. Algum dia, esse trabalho de arqueologia será realizado e muitas perguntas serão respondias.