segunda-feira, 13 de março de 2023

Arcelormittal Suprime Elementos Tombados do Solar Monlevade: "Não é a Primeira Vez"




Na entrada principal do intramuros do Solar Monlevade existe uma bela porteira, larga o suficiente para permitir o trânsito oposto de dois carretões de bois ao mesmo tempo.  Ela é de abertura dupla, tem o centro abatido e encontra-se instalada entre dois sólidos mourões de pedra lavrada, originalmente, encimados por um belo par de grandes lanternas, conforme demonstram as fotos acima. Contudo, como se pode ver pela fotografia abaixo, capturada na data de ontem, o par de lanternas que guarnecia a porteira principal do Solar Monlevade sumiu, recentemente.




O conjunto arquitetônico original do Solar Monlevade é tombado para fins de preservação pelo inciso IX do art. 170 da Lei Orgânica Municipal. Significa dizer que qualquer supressão ou modificação em elemento arquitetônico do Solar Monlevade, inclusive de tudo o que está em seu intramuros, só pode ser feita mediante a autorização do Conselho Municipal de Patrimônio Cultural, com o fim de preservação, o que eu acredito que não seja o caso. O Solar Monlevade tem passado por muitas intervenções ultimamente, que ocorrem totalmente à revelia do Conselho de Patrimônio Cultural e da Casa de Cultura. Há pouco tempo, a ArcelorMittal instalou uma grande estrutura em aço dentro do Museu Monlevade, que também se encontra instalado no intramuros do Solar, alterando o conjunto arquitetônico tombado. Enviei email para a siderúrgica e para a Prefeitura, requisitando cópia da autorização do Conselho para a instalação da mencionada estrutura de aço e não obtive resposta em ambos os casos.

Não é a primeira vez que a poderosa siderúrgica suprime elemento histórico tombado do conjunto arquitetônico do Solar Monlevade. Em 2017, a Arcelormital já havia deixado ruir um telhado rústico que existia sobre o engenho hidráulico de pilões que integrava o acervo do Museu Monlevade. No Relatório de 1853, o próprio Monlevade mencionou o citado engenho, conforme transcrevo a seguir:

“Um bicame, ou tanque d’água, colocado a 30 palmos acima do fundo do quintal e no meio da casa está recebendo a água toda do ribeirão, dando a força motriz para as duas rodas... há também duas mãos de pilões movidas por uma das rodas, as quais servem para reduzir em pó a pedra de ferro, quando não se emprega a jacutinga na fundição, assim como para sacar certas borras ricas de partículas de ferro, as quais lavadas e refundidas dão um ferro de superior qualidade.”

Sem o telhado e exposto à chuva, a roda d’água do engenho e seu o bicame de madeira se perderam e ruíram. E o que fez a Arcelormittal? Restaurou o bem tombado? Não. Ela apenas o suprimiu, como demonstra a postagem de novembro de 2017.  

Agora, foram as lanternas da porteira principal que sumiram. Obviamente, não é papel da Arcelormittal conservar os bens históricos do Município. Também não é papel da Arcelormittal organizar museu, mantê-lo aberto à visitação, nem restaurar os bens que se deterioram por omissão. O papel da siderúrgica é o de produzir aço. Contudo, se é a Arcelormittal que detém a propriedade dos bens históricos, ela deve providenciar a sua preservação, restauração e acesso ou, então, deve entregá-los para o seu verdadeiro dono que é o povo de João Monlevade. Manter os bens históricos fechados e se perdendo, quando não são alterados, é destruir a identidade monlevadense e o potencial turístico de João Monlevade. São, justamente, o Solar Monlevade, o Museu Monlevade e o Parque Histórico da Companhia Nacional de Forjas e Estaleiros, no Jacuí,  que inserem o Município dentro do roteiro turístico da Estrada Real de Forma muito especial, pois ao contrario do discurso deturpado cunhado pela da própria Arcelormittal no sentido de “uma pequena forja catalã, fabriqueta de enxadas”, Monlevade, segundo os documentos históricos, foi a maior e mais importante Fábrica de Ferro a funcionar durante o Império Brasileiro, atuando como fornecedora preferencial de artefatos pesados de ferro para as Minas de Ouro do sec. XIX, alguns deles com mais de uma tonelada de peso, os maiores já forjados nos Brasil até então.

O Museu Monlevade, por exemplo, se bem administrado e aberto à visitação, tem o potencial de alavancar o turismo local, porque conta com acervo completo sobre a história da indústria do ferro em Minas Gerais. Mas, para que isso ocorra é preciso conservar e abrir os bens históricos à visitação, coisa que a Arcelormittal demonstra não estar apta a fazer, por motivos óbvios. Antes que não sobre nada, é preciso que o Município tome para si a administração dos bens históricos de João Monlevade, não somente para preservar a identidade local, mas também para alavancar o turismo. Existem muitos instrumentos jurídicos para tal. Contudo, a Prefeitura atual nem sabe onde fica o Parque Histórico do Jacuí. Registre-se, por fim, que foi na prefeitura do PT, que as lanternas do Solar Monlevade desapareceram.                      

       

 


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