No sábado passado um grupo de manifestantes protestou no centro da cidade contra a morte do menino Kaíque, de apenas 10 anos de idade, ocorrida recentemente no Hospital Margarida. Na segunda-feira anterior, a criança havia dado entrada na unidade hospitalar com fortes dores abominais, sendo atendida e, em seguida, liberada com receituário médico. Na quarta-feira, Kaíque deu ingresso novamente no HM apresentando piora de seu quadro clínico, quando foi encaminhado para pediatria e diagnosticado com o quadro de apendicite tardia. Após quatro paradas cardíacas, o menino Kaíque foi a óbito.
Em junho de 2022, um bebê de 9 meses já havia ido a óbito no
Hospital Margarida, depois de 12 horas de espera por atendimento pediátrico
dentro da unidade hospitalar.
Além de crianças, pacientes idosos, neurológicos, cardíacos,
etc, têm encontrado uma série de dificuldades para obter atendimento técnico e
humanizado na urgência e emergência do Hospital Margarida. Neste contexto é
necessário relembrar ainda do paciente neurológico que foi encontrado morto na
mata do entorno do HM e do paciente de Bela Vista de Minas que deu entrada na urgência
do Margarida e, muito embora estivesse em situação de infarto, recebeu a pulseira verde
do protocolo de Manchester, indo a óbito em seguida.
Primeiramente, é preciso esclarecer que o problema do Margarida não se deve ao fato dele ser um
hospital regional que também atende pacientes dos municípios vizinhos, pois ele
sempre o foi e num passado não muito distante o atendimento era muito mais
técnico, qualificado e humanizado. Como exemplifica o caso do mencionado
paciente de Bela Vista, os pacientes regionais do HM também sofrem e vão a óbito
diante da péssima qualidade do atendimento.
Toda esta problemática vivenciada no Hospital Margarida se
deve, na verdade, ao modelo de gestão hospitalar adotado desde que a Associação
São Vicente de Paulo de João Monlevade (ASVP/JM) assumiu a administração da casa
de saúde, o qual privilegia a execução de obras milionárias de engenharia civil
em detrimento da contratação de pessoal técnico para atendimento da população.
Desde que assumiu a gestão do Hospital Margarida, a ASVP/JM - que por motivos
óbvios não deve ser confundida com a Sociedade São Vicente de Paulo dos
consagrados padres lazaristas – jamais deixou de executar obras de construção
civil nas dependências do Hospital. Há alas que já foram reformadas três vezes dentro
do HM durante a gestão da ASVP/JM. Não
param de executar orçamento de construção, mas não contratam médicos
especializados, enfermeiros e técnicos para o atendimento da população. Neste
exato momento, por exemplo, a ASVP/JM está executando novo orçamento milionário
para a construção de ala que, segundo alegam, abrigará os serviços de alta
complexidade. Ora, se não consegue fazer o diagnóstico de apendicite, que é um
procedimento cirúrgico simples, como é que a ASVP/JM prestará serviços de alta
complexidade à população? Não por coincidência, já fui submetido a cirurgia de
apendicite no HM. A dor é aguda e o apêndice, que fica do lado inferior direito
do abdômen, infla como se fosse um balão. Bastava apalpar o abdômen da criança.
Fosse uma entidade especialista em gestão hospitalar, em função do ocorrido, a
ASVP/JM obrigatoriamente incluiria no protocolo de atendimento a crianças com
sintomas semelhantes aos do menino Kaíque a imediata pesquisa pelo diagnóstico
de apendicite, o que não aconteceu.
A questão é que a ASVP/JM, fundada pelo ex-prefeito inelegível Carlos
Moreira e seus asseclas, não é uma entidade especializada em gestão hospitalar,
mas sim uma entidade que se tornou especialista em faturamento milionário de
obra de construção civil. E veja que tal absurdo de modelo de gestão hospitalar
não vem causando prejuízo à população de agora, pois ele é o mesmo que produziu
o “Santa Madalena”, que foi a tentativa fraudulenta e fracassada de se adaptar
um hospital de 100 leitos no prédio do antigo terminal rodoviário de João
Monlevade, ao custo de muito mais de 22 milhões de reais em recursos públicos
da saúde. Lá, no Santa Madalena, pouco importava o que seria construído desde
que as empreitaras faturassem horrores. Tanto foi assim que o prometido
hospital de 100 leitos nunca foi entregue à população, os mais de 22 milhões de
reais evaporaram, Monlevade perdeu uma Rodoviária excelente e o que pôde ser
aproveitado daquela obra não é passível de alvará sanitário de funcionamento.
Tratou-se da mesma política de gestão hospitalar ora vigente no HM, inclusive
levada à cabo pelas mesmas figuras políticas como o já citado ex-prefeito
Carlos Moreira, seu guru espiritual – que nunca deixou o hospital apesar de
sumido das capas do jornal do marqueteiro - e muitos outros cúmplices. Aliás, a
morte sistemática de crianças dentro de um sistema de gestão hospitalar que privilegia apenas
o faturamento milionário de empreiteiros deve ser, realmente, um dilema
espiritual insuportável para quem é adepto do espiritismo, doutrina que
respeito muito. A vida boa e abastada de
empreiteiro nenhum deve valer mais do que a vida de uma criança, somos todos
iguais. Além do mais a ASVP/JM é uma entidade politiqueira e obscura que
transformou o HM num cabide político inchado de empregos que não presta contas
à sociedade dos muitos recursos públicos ali empenhados e que foi nada menos do
que a autora do maior golpe perpetrado nos últimos 20 anos no Município, que
foi o Golpe do Bingo.
Se há intenção verdadeira em reverter este estado tenebroso
de coisas, a primeira medida a se adotar no Hospital Margarida é suspender toda
e qualquer obra de construção civil em andamento naquela unidade hospitalar. Ou
o Hospital constrói ou ele atende a população com dignidade, contratando corpo técnico
qualificado para tal. É visível que as duas coisas o HM não tem conseguido
fazer ao mesmo tempo. Logo após, será
preciso abrir aquela caixa preta e revelar as constas do hospital, etc. E em
seguida será preciso substituir a ASVP/JM por uma entidade especialista em
gestão hospitalar. Não há como obter resultado diferente, agindo sempre da mesma forma. Do contrário, nossos filhos continuarão morrendo dentro do HM.
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