O governador Zema pretende transformar quatro escolas
estaduais de João Monlevade em escolas cívico-militares. São elas as escolas
Manuel Loureiro, Luiz Prisco, Geraldo Parreiras e Alberto Pereira Lima.
Primeiramente, é preciso chamar a atenção para a forma
enganosa com que este modelo de escola é tratado, ou seja, escola cívico-militar.
Não existe escola cívico-militar, ou ela é civil ou ela é militar. Então, o que
verdadeiramente pretende o governador Zema é militarizar quatro escolas civis
no Município.
Resta muito claro que a escola pública brasileira necessita
de profundas reformas. Ela é visivelmente uma escola insuficiente, podendo ser
chamada até de meia escola, já que funciona apenas em meio período e não é uma
escola filosófica, isto é, aquela que ensina a pensar. Ao contrário, é uma
escola excludente, historicamente muito voltada para a decoreba de conteúdos
que não serão utilizados na vida do aluno, mas que são exigidos nos
vestibulares, que são aqueles mecanismos que existem para impedir que os
excluídos tenham acesso à universidade pública. Hoje o Enem substituiu os
vestibulares. No Brasil, 1 a cada 3
brasileiros é analfabeto funcional, que é aquele aluno que cursa a escola
pública e, apesar disso, sai dela sem a capacidade de compreender o que lê.
Poucas instituições sofreram tantas reformas degradantes e sabotadoras quanto a escola pública brasileira nas últimas
décadas. E os políticos sabotadores da escola são os mesmos que agora propõem a
militarização delas. O Brasil tem hoje, disparado, a pior escola da América
Latina.
Mas não será militarizando a escola pública que os profundos
problemas da escola pública brasileira serão solucionados. Basta copiar as boas
experiências dos outros países. Nenhum país desenvolvido do mundo tem um modelo
de meia escola que funciona em apenas um turno como o Brasil. Também não há
nenhum país desenvolvido no mundo que tenha um modelo de escola militarizado. Aliás,
a destruição do modelo de escola pública brasileira se iniciou, justamente,
durante a ditadura militar instalada a partir de 1964, quando, em 1966, os
militares extirparam dos currículos escolares a matéria filosofia, que é a
disciplina que ensina a pensar e passaram a deturpar a história lecionada nos
bancos escolares. Na disciplina OSPB, por exemplo, muito marcante nas escolas
durante o regime militar, ensinava-se que o verde e amarelo da bandeira
brasileira representava, respectivamente, as matas e o ouro do Brasil. Quando
na verdade, o verde tem origem no brasão da casa real des Orleans e Bragança,
da qual descende Dom Pedro I e o amarelo, da casa real dos Habsburgo, da qual
descende Dona Leopoldina. O analfabetismo funcional brasileiro, cada dia
maior, não é produto apenas da ineficiência para ensinar, ele também é
resultado de uma escola não filosófica onde não se ensina a pensar.
Em relação a um modelo de escola de excelência para Minas,
não é necessário ir muito longe. Minas tem modelo histórico de escola de
excelência que foi o consagrado Colégio do Caraça, nada menos do que a maior
Escola de Filosofia do Brasil, mascado ainda por sua incrível disciplina. Não é
por menos que o Caraça ardeu em chamas em maio de 1968, ano mais conturbado da
ditadura militar. Ditaduras militares não convivem com escolas de filosofia,
que ensinam a pensar.
E este é o problema central, militarizar escolas é encomendar
para o ensino público tudo aquilo que o Brasil viveu, tragicamente, durante a
ditadura militar, como a censura, a truculência, a doutrinação, deturpação de
conteúdo e sobretudo a ausência da
filosofia, tudo o que o Brasil não necessita para solucionar seu modelo de
escola pública. Na verdade o que o
Brasil precisa é de uma modelo de escola de ensino integral que prepare o aluno
para a vida e o habilite a pensar. E não matar de vez a disciplina filosofia,
que é o que acontece quando as coisas são militarizadas, conforme é o histórico
da ditadura pós 1964.
Ademais, militar é aquele que faz o emprego da letalidade, ou
seja, é aquele treinado para matar. E matar é algo completamente incompatível
com o ensino que liberta. Lugar de militar
é no quartel.
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