Quando li nas laterais dos ônibus da Enscon o pretenso
título “Monlevade, capital mundial do fio-máquina”, pensei: aí tem treta!
Quem monitora o Jornal A Notícia já percebeu que a própria
Arcelormittal pretende adotar o título estampado nos coletivos que circulam na
cidade, numa campanha publicitária que busca melhorar a imagem do grupo
siderúrgico no Município. Aliás, o que se tem visto em relação à Arcelormittal,
em João Monlevade ,
é muita propaganda que não condiz com a realidade e pouco resultado prático. É
possível encontrar pelas ruas do Município out-doors da empresa que transmitem
a mensagem: “Arcelormittal, descarte zero de efluente no Rio Piracicaba.”.
Realmente, o Monlewood já demonstrou que a Mittal não descarta efluente, diretamente, no rio.
Descarta na sarjeta da Avenida Getúlio Vargas. Se o efluente vai parar no Rio
Piracicaba já é uma questão newtoniana determinada pela Lei da Gravidade.
Mas, será que a adoção desse título, que também conta com a
participação da Prefeitura e do CDL, é o que se tem de mais justo para o
Município, considerando sua história e suas vocações, ou tudo não passa de uma
jogada de marketing engendrada pelos operadores da comunicação local, visando melhorar a imagem do indiano
Mittal?
Será que Monlevade é mesmo a capital mundial do fio-máquina?
Depende do mercado e de outros fatores. Se, por exemplo, o mercado demandar e
Mittal colocar em funcionamento o novo laminador, pode ser que Monlevade se
coloque como a capital mundial do fio-máquina. O título também depende da
produção nas outras cidades mundo afora onde o fio-máquina também é
confeccionado. Se uma delas chegar a produzir mais que Monlevade, o município
perde o título. Como se vê, o título de
capital mundial do fio-máquina é muito frágil e, potencialmente, efêmero.
No entanto, existe outro título, muito mais justo para com
as peculiaridades históricas locais, que
pode e deve ser concedido a João Monlevade e que ninguém ou mercado nenhum pode
tomar do Município, que é o de Berço da Siderurgia Industrial Brasileira.
Poucos sabem, mas o que difere a Fábrica de Ferro de Jean Monlevade das demais
já existentes na época é a presença da Máquina a Vapor. Antes de Monlevade,
existiram fábricas de ferro em
Ouro Preto , em Itabira, no Serro e etc. O próprio Monlevade
chegou a instalar uma Forja Catalã em Caeté. Entretanto ,
nenhuma delas contava com a força motriz da Máquina a Vapor que aqui chegou, em
1828, importada da Inglaterra e introduzida em Minas através de dificílima
navegação através dos rios Doce e Piracicaba. E á a Máquina que caracteriza a Indústria! Maiores estudos são necessários,
mas Máquina a Vapor de Monlevade deve ter sido a primeira a funcionar em Minas Gerais e,
também a primeira empregada na siderurgia nacional. Para se ter uma ideia do
pioneirismo deste maquinário, a primeira locomotiva a vapor do Brasil só
entraria em operação em 1854, no Rio de Janeiro, 26 anos depois.
Outra curiosidade sobre a Máquina a Vapor de Monlevade é que
ela era, contraditoriamente, operada por escravos, já que foi o advento da
Revolução Industrial, ou seja, o emprego da máquina no processo das manufaturas
que viabilizou a Abolição da Escravidão. Não se tem notícia em Minas Gerais de outro
local, onde escravos operaram e conviveram com a máquina.
Todavia, apesar de toda essa riqueza histórica, o Grande Capital se associa a entidades governamentais e faz uso de suas estruturas no setor de comunicação local para ignorar a historiografia municipal, concedendo à João Monlevade um título, potencialmente, efêmero, que se enquadra muito mais como uma campanha publicitária de uma mercadoria, do que na tradução identidade de seu povo. Tudo isso feito com o aval das atuais autoridades que não fazem outra coisa, senão caírem de quatro diante do onipotente Mittal. E neste ano de 2015, em que a Usina Barbanson-Monlevade completa 80 anos do lançamento de sua pedra fundamental, muitas outras bajulações virão, enquanto o efluente segue, livremente, escorrendo pela sarjeta.
Todavia, apesar de toda essa riqueza histórica, o Grande Capital se associa a entidades governamentais e faz uso de suas estruturas no setor de comunicação local para ignorar a historiografia municipal, concedendo à João Monlevade um título, potencialmente, efêmero, que se enquadra muito mais como uma campanha publicitária de uma mercadoria, do que na tradução identidade de seu povo. Tudo isso feito com o aval das atuais autoridades que não fazem outra coisa, senão caírem de quatro diante do onipotente Mittal. E neste ano de 2015, em que a Usina Barbanson-Monlevade completa 80 anos do lançamento de sua pedra fundamental, muitas outras bajulações virão, enquanto o efluente segue, livremente, escorrendo pela sarjeta.
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