quarta-feira, 20 de abril de 2022

O Programa "Tô Indo" da Globo na Alienação Cultural do Mineiro



O programa “Tô Indo”, exibido nas manhãs de domingo pela Globo Minas, é mais uma tentativa fracassada e intencional da Rede Globo de fazer circular os verdadeiros alicerces identitários e culturais do povo mineiro.
Mas, por que é fracassada? É fracassada porque sempre associa o mineiro ao já batido, cansativo e enganoso estereótipo de caipira. Segundo, o conteúdo veiculado pelo programa televisivo, Minas Gerais é, invariavelmente, uma roça, coisa que o mineiro autêntico e conhecedor de sua identidade não pode admitir calado. O apresentador do programa encarna com muita propriedade aquele estereótipo de caipira e até fala como tal, incorporando um sotaque que não é o mineiro, mas sim aquele das divisas com São Paulo. Na da contra o estado vizinho. Mas, é porque Minas surgiu de um violento processo de separação, justamente, da Capitania de São Paulo, a que se denominou de Guerra dos Emboabas. Apesar de comportar vários sotaques, já que se trata de um estado-nação do tamanho da Franca, a verdadeira mineiridade não pode ser apresentada, senão pelo muito característico e autêntico jeito mineiro de falar que é aquele da Serra do Espinhaço e não os das divisas do estado. O também é muito jocoso, indiscreto, grita muito e muitas das vezes parece fugido de um sanatório. Tudo o que é incompatível com o jeito mineiro de ser. É inegável que Minas tem sim sua cultura agro-pastoril, pois é um estado grande produtor de alimentos, com muito orgulho. Além dos ciclos do Ouro e do Diamante, Minas viveu o ciclo das fazendas de café e, desde sua fundação, também sempre criou gado de corte e leiteiro, etc. Contudo, a fundação de Minas Gerais não está na roça. Na verdade, Minas Gerais foi o primeiro grande processo de urbanização do Brasil. As Minas de Ouro jamais ocorreram na roça. Basta ver Ouro Preto, a capital histórica de Minas. Ouro Preto nasceu de um processo de conurbação, rigorosamente imposto pelo Código de Posturas, isto é, nasceu da junção de várias urbes mineradoras ordenadas e padronizadas que cresciam na medida do povoamento das Minas de Ouro – uma exigência legal do Regimento de Minas. Veja a foto anexa de Ouro Preto. Veja como Ouro Preto é 100% urbanizada. Veja como o mineiro é, urbanamente, cerimonioso. 
Então, por que a televisão, invariavelmente, associa Minas à roça e o mineiro ao estereótipo de caipira? Porque se trata de um processo intencional de alienação cultural. Primeiro, que é pra domar o espírito revoltoso do mineiro. O mineiro foi, politicamente, sempre muito indomável, promotor de revoltas e sedições. Associando Minas à Roça, a televisão afasta o mineiro da política, porque na roça não há polis, no sentido grego do termo. A política só existe nas cidades, onde os cidadãos compartilham vários interesses em comum. Já na roça, o único interesse que se tem em comum com o vizinho é a via de acesso. Segundo, que é para afastar o mineiro da mineração. Você vê algum mineiro minerando hoje em dia? Não. Alguém, minera ouro em Ouro Preto, apesar do grande desemprego e dos R$300,00 o grama? Só se for escondido! Se alguém se aventurar a tirar um ourinho no Rio Tripuí, abaixo da Casa dos Contos, a polícia aparece e ele é, imediatamente, preso. Hoje o mineiro é convencido pela televisão que é caipira e não minera mais, a não ser como empregado das grandes mineradoras, muitas delas estrangeiras. E não minera porque mineração não é para caipiras. Hoje, na prática, o mineiro se encontra proibido de minerar e a alienação cultural é tão grande que ele nem se dá conta disso. Imagina o tamanho da revolta se o mineiro fosse proibido de minerar naqueles tempos do Brasil - colônia! Hoje, não! Além de proibido de minerar, o mineiro assiste a imensos desastres humanos e ambientais, sem qualquer reação a altura, porque, como caipira, acredita que a mineração é um assunto no qual não deve se meter. Aliás, pode-se dizer que as tragédias da Samarco, em Mariana, e da Vale, em Brumadinho, são produtos direitos da alienação cultural imposta a Minas porque elas são resultado de uma omissão que teve seu início no fato de o mineiro se encontrar de costas para a mineração, acreditando, erroneamente, que é caipira.

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