domingo, 24 de abril de 2022

"Rolé nas Gerais" da Rede Globo


Imagem/divulgação: https://globoplay.globo.com/role-nas-gerais/t/wLvCcPHZhh/detalhes/

 Para se fazer uma análise sobre o programa “Rolê Nas Gerais”, exibido aos sábados na Globo Minas é preciso voltar aos protestos de  2013. Como todos podem se lembrar, a Rede Globo também foi alvo dos protestos de 2013. "Fora Globo, o povo não é bobo”, é o que também se gritava nas ruas. Naquela ocasião, o povo foi às ruas para protestar contra o sistema, o que incluiu a Rede Globo, porque, apesar de deter o monopólio da grande mídia nacional, ela, visivelmente, não divulga para o Brasil suas diversas realidades, sejam elas, sociais, políticas, históricas, econômicas, geográficas, antropológicas, etc.

Então, para se enquadrar aos anseios manifestados pelo povo brasileiro nos protestos de 2013, a Globo Minas incluiu em sua grade de exibição o programa “Rolê nas Gerais”, que hoje é aquele que se propôs a pautar a maior e mais grave questão social brasileira: os guetos de exclusão a que se chamam favelas.  Quando vi, não acreditei. A Globo pautando favela!!? Achei muito estranho porque a Globo tem um histórico conservador e será somente quando as muitas realidades das favelas passarem a ser pautadas pela grande mídia que as coisas poderão mudar no Brasil. A Rede Globo foi fundada em função do Golpe de 64, que como todos, foi um golpe conservador, destinado a conservar os status quo e, portanto, a impedir que um governo progressista promovesse as várias reformas institucionais, anunciadas naquela ocasião. A Globo também não tem um programa sério para discutir política, o que reafirma o quão conservadora ela é.  Aliás, o Brasil, hoje, só é o país do futebol porque o futebol é um dos temas mais pautados pela Globo.   Se o Brasil pudesse contar com um programa na grande mídia para discutir política, certamente, já poderia estar muito mais adiantado em todas as áreas.  Mas, há atrasados 57 anos, isso não ocorre.    

Então, diante de um inédito programa na Globo que se propunha a pautar as favelas de Minas Gerais, eu não podia fazer outra coisa, senão assistir. Assisti e, como suspeitado, o resultado não foi um tremendo engodo. Infelizmente, programa “Rolé nas Gerais” não pauta as diversas realidades das favelas mineiras, mas apenas o aspecto cultural das mesmas. Tudo que distingue o Brasil e estabelece a identidade nacional é em grande medida afro-brasileiro. Há cultura na favela. Isso é inegável e uma amostra da imensa capacidade desdobramento do povo brasileiro, porque produzir cultura naquele ambiente de exclusão social por si só já é um ato de heroísmo. Contudo, não é pautando, dissimuladamente, apenas a cultura das favelas que tal realidade será superada. É preciso, mais do que isso, pautar a situação de exclusão completa que define as favelas brasileiras. E isso, o programa “Rolé nas Gerais” não faz. A favela vai muito além da pobreza!  É preciso pautar as favelas como os guetos de exclusão que elas são. É preciso pautar a ausência de acesso aos serviços públicos essenciais que vigora e define as favelas, como o arruamento, o ordenamento urbano, as condições das moradias, o abastecimento de água, a coleta de lixo, o fornecimento de eletricidade e serviços de comunicação,  a coleta do esgoto, a saúde, a educação, a segurança, o direito de ir e vir, etc, etc. É preciso mostrar como a ausência de acesso, sobretudo, ao serviço de educação faz com que as pessoas excluídas nas favelas ocupem postos de trabalho, nos quais trabalharão toda uma vida sem jamais aferirem o suficiente para adquirem dignidade e terem acesso aos bens e serviços do Brasil. É preciso pautar a infância nas favelas e mostrar como é difícil para as crianças o acesso a uma educação de qualidade, pois por definição não há escolas nas favelas, salvo raras exceções. É preciso mostrar a dificuldade de estudar, a falta de estrutura para tal e como as crianças ficam, completamente, desassistidas naquele ambiente de exclusão social. É isso que queremos ver no programa “Rolé nas Gerais”, a realidade nua e crua das favelas. Para quem se deixa influenciar pela Rede Globo é muito difícil pensar, mas o Brasil apenas se tornará um país desenvolvido e rico quando as massas forem integradas à sociedade brasileira e, portanto, quando não existirem mais favelas, como os guetos de exclusão que são. E de engodo, já basta a ditadura monocromática do futebol.  Na próxima, vou escrever sobre o "Globo Esporte", que deveria se chamar "Globo Futebol". 

 

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