terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

Monlevade desviou o leito de dois ribeirões para dentro de sua Fábrica de Ferro



O potencial hidráulico encontrado no entorno do Solar Monlevade (foto) foi de especial importância para a implantação e para o funcionamento da pioneira Fábrica de Ferro homônima, estabelecida a partir de 1828. 
As águas dos ribeirões locais, além de abastecerem as serventias da Casa Grande e da numerosa escravaria de Monlevade, também irrigavam o amplo pomar existente no entorno dela e até deleitavam a vista dos observadores, já que o próprio Monlevade se orgulhava de ter construído no fundo de seu Solar uma cascata artificial de mais de 50 metros de altura. Contudo, a água representava uma importância ainda maior para Monlevade, já que todo o maquinário de sua Fábrica de Ferro era movido pela força da água, desde o grande martelo hidráulico de 1.200 quilos de peso, até os ventiladores das fornalhas de fundição, o que obrigou o patrono do Município a desviar os leitos de dois ribeirões para dentro de seu estabelecimento metalúrgico. 
O primeiro leito desviado foi o do ribeirão que nasce no alto do que hoje é o Bairro Vila Tanque. Mais limpo e menos caudaloso, o dito ribeirão foi desviado por meio de um rego tirado no traçado que hoje corresponde à Rua Imbé, de onde suas águas saltavam o paredão de pedra para formar uma bela cascata artificial de 54 metros de altura no fundo do Solar Monlevade, onde ela era toda recolhida por um bicame que a distribuía para abastecimento de todas as necessidades da casa, das senzalas e para irrigação do grande pomar. Ainda intramuros, após movimentar um engenho de pilões, um moinho de fubá e um ralador de mandioca, esta água era conduzida até a Fábrica de Ferro para se somar à água de outro ribeirão, num incrível esforço hidráulico. 
O segundo leito desviado foi o do ribeirão que hoje é conhecido pelo nome de Córrego Carneirinhos. Muito mais caudaloso, o leito do Córrego Carneirinhos foi desviado por meio de um bicame aberto pouco antes de sua foz, no Rio Piracicaba, a fim de conduzir suas águas para dentro da Fábrica de Ferro Monlevade, de modo a movimentar uma série de maquinismos, tais como os três martelos hidráulicos de forja, de 75, de 225 e de 1.200 quilos de peso; os ventiladores das seis fornalhas de fundição e os ventiladores dos três fornos de caldeamento das quatro tendas de ferreiro. Esta água ainda movimentava um engenho de serrar madeira e uma máquina de tornear ferro. 
Sobre a utilização da água em seu estabelecimento, João Antônio de Monlevade registrou em 1853:
[...] 
 "Dois ribeirões, com regos já tirados, trazem para a fábrica em tempo de maior seca, muito mais água do que a necessária para o consumo dela, colocada aliás a 112 pés acima do Rio Piracicaba, cujas águas poderiam cobrí-la se fosse necessário. [...] Das montanhas vizinhas desce um córrego, o qual, por meio de um rego, forma a pequena distância e a vista da casa, uma cascata de 180 pes de altura a qual parece obra da natureza . Esta aguada é muito importante dando, mesmo no terreiro, impulso a um engenho de pilões, moinho de fubá a moda européia, ralador de mandioca, ventilador, etc... Esta água, repartida por todas as necessidades da casa, serve também para irrigações, e refrescando o ar, também deleita a vista. [...] Um bicame ou tanque d’água, colocado a trinta palmos acima do fundo do canal e no meio da casa está recebendo a aguada toda do ribeirão, dando força motriz para as duas rodas e o vento necessário por meio de quatro trompas, repartido com canais de braúna por todas as partes."

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Ofensas e denúncias infundadas serão riscadas ou excluídas a critério do autor do Blog. Obrigado pelo comentário.