segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

RISCO DE DESMORONAMENTO DE PILHA DE REJEITO EM SANTA BÁRBARA ESCANCARA COMO TUDO PIOROU NA MINERAÇÃO DO OURO EM MINAS GERAIS


 (foto: Mateus Parreiras/EM/D.A.Press)

O ouro descoberto a partir do final do sec XVII definiu, absolutamente, tudo em Minas Gerais, desde as fronteiras do estado, passando pelos modos de ser e de viver, até a culinária, a arte e tudo mais. E naqueles idos, podíamos minerar o ouro. Por isto, somos chamados de mineiros, porque minerávamos o ouro.

O modelo de minerário implantado por Portugal era, extremamente, democrático e permitia o acesso à mineração a quem se interessasse por ela. E foram centenas de milhares os que se interessaram pela mineração do ouro e receberam suas concessões para minerá-lo, situação muito diferente da vivenciada, atualmente, em Minas Gerais.

Hoje em Minas Gerais, apesar de toda crise econômica, desemprego e de o grama do ouro estar cotado a R$320, 00, não se vê mineiro nenhum a minerar o ouro. Muito pelo contrário, se o mineiro se dirige ao aluvião e, depois de um dia inteiro de trabalho artesanal, apura dele dois gramas de ouro, ele é imediatamente preso pela polícia. A mineração tradicional do ouro foi criminalizada e, atualmente, em Minas Gerais apenas as grandes mineradoras, muitas delas estrangeiras, são, de fato, autorizadas a minerar o ouro.

Exemplo disto é a mineradora Anglogold, localizada no município de Santa Bárbara. A Anglogold é a companhia mineradora mais antiga em serviço em Minas Gerais. Diferentemente de nós, mineiros, ela está autorizada a minerar ouro em Minas há quase 200 anos. Praticamente, todo o ouro extraído pelo Anglogold é remetido ao estrangeiro, sem o recolhimento de royalties ou qualquer imposto sobre a mineração.

Antigamente, quando éramos colônia de Portugal e vivíamos sob o jugo português, o mineiro recolhia o quinto e era autorizado a minerar o ouro. Hoje que somos livres e independentes,  o mineiro é, na prática, proibido de minerar e quem é autorizado a fazê-lo remete todo ouro para o exterior, sem pagar nada em troca.

E como a situação já não fosse ruim, além da proibição de minerar e da evasão da riqueza aurífera de Minas, agora o mineiro também tem que conviver com o medo da mineração do ouro, tal qual já vinha ocorrendo com a mineração do ferro, depois dos rompimentos das barragens de rejeito de Mariana e Brumadinho, além de vários outros episódios de instabilidade de barragens, Minas afora.

Agora, uma imensa pilha de 80 metros de altura de rejeitos da mineração do ouro da Mina Córrego do Sítio I, localizada em Santa Bárbara e de propriedade da Anglogold, corre considerável risco de desmoronar. Trata-se de um marco muito negativo no já sofrido contexto minerário de Minas Gerais, pois evidencia que a situação de medo que já envolvia a mineração do ferro, agora, também alcança a mineração do ouro, tornando-se ainda mais sistêmica.  Sinal de que todo o atual sistema minerário vigente em Minas Gerais precisa ser revisto, não apenas para permitir que o mineiro volte a minerar, mas também para que o medo deixe de existir como instrumento de uma política de mineração excludente e destruidora. Mineração não pode ser sinônimo de medo em Minas Gerais. E o mineiro, que não minera, vira caipira!  

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