O brutal incidente ocorrido em Paris, recentemente, é mais
uma mostra de que o Ocidente ainda não compreendeu o que é a Jihad.
Assim como o Hajj, que é obrigatória peregrinação à Meca, a
esmola, o jejum no Ramadã e etc, a Jihad é um fundamento do Islã. Conhecida também como Guerra Santa, a Jihad
não possui apenas um forte significado religioso. A Jihad também tem seus elementos morais,
culturais, étnicos e até geopolíticos.
Foi por meio da Jihad, por exemplo, que o Islã se expandiu da Península
Arábia, atingindo todo o Norte da África, Oriente Médio, instalando-se em
certos períodos em Portugal, Espanha, indo até o Extremo Oriente. É a Jihad que confere o caráter
expansionista, próprio do Islã. Foi também a Jihad que tomou dos europeus o controle sobre o comércio da
Rota da Seda, mergulhando a Europa na pobreza da Idade Média.
A história mostra que exército convencional não dá conta da
Jihad. Cada jihadista é um soldado doutrinado, autônomo, que sabe o que fazer,
sem precisar receber ordens centralizadas para tal, com extraordinária
predisposição a morrer em combate, já que a Jihad é considerada um estado
perfeito fé.
O terrorismo não é uma exclusividade do Islã. Um dos mais
famosos terroristas da historiografia mundial foi um conde católico que tinha o
hábito de empalar jihadistas nos Bálcãs, região estratégia da Europa, que,
durante a Idade Média, sofreu intensa pressão expansionista por parte do
islã. Esse terrorista era tão eficiente
e sanguinário que lhe foi atribuída, com propriedade, a fama de beber o sangue
de suas vítimas. Seu nome era Drácula. Aliás, no passado, a Igreja teve seu próprio movimento
contra-jihadista, que ficou conhecido como As Cruzadas. Durante mil anos, com o
objetivo de retomar as fundamentais rotas de comércio com o Extremo- Oriente
(Índia e China) e sem muito sucesso, o Catolicismo empreendeu uma série de
Cruzadas, que, na brutalidade e no terror, não ficaram devendo nada à Jihad. Foi
assim até o Ocidente perceber que a Jihad não podia ser derrotada, mas podia
ser contornada. E foi assim que se deram as Grandes Navegações. Com a Rota da
Seda tomada pela Jihad, a única forma de os europeus reestabelecerem o tão
necessário comércio com o Extremo Oriente era por via marítima. O primeiro a
chegar à Índia por via marítima foi o português Vasco da Gama. Daí em diante, a
Europa se firma novamente como agente hegemônico do comércio mundial. Com isso,
a Europa não apenas se livrou da pobreza da Idade Média como também criou as
condições socioeconômicas para se engajar na Renascença e, posteriormente, na
Reforma Protestante, que, no Ocidente, separou o Estado da religião. As Cruzadas não eram mais necessárias.
Diferentemente da Igreja, o Islã ainda não passou por uma
reforma do tipo da protestante. Talvez,
o Islã ainda não tenha tido tempo para isso já que é a última e a mais nova das
três religiões monoteístas. Talvez, também não tenha tido condições socioeconômicas
para tal, já que, com raras exceções, as nações islâmicas, invariavelmente, têm
ocupado a periferia econômica do Mundo Capitalista moderno.
Como se vê, a Jihad não é algo novo, como muitos imaginam.
Muito pelo contrário, a Jihad é coisa da Idade Média, que, portanto, não
dialoga com conceitos modernos como a liberdade de expressão. Assim, neste mundo pós-Guerra Fria, em que a
Jihad volta a ganhar vida com muita intensidade, a publicação de charges
provocativas do profeta Maomé chega a ser uma imprudência imensa. É o mesmo que, literalmente, cutucar a onça
com um lápis, além de um atestado de
ignorância em relação ao Islã .
Por outro lado, também não é aceitável que o Mundo Moderno
conviva com fenômenos medievais, como a Jihad, atualmente, verificada na Síria,
no Iraque e na recorrência dos atentados.
A Jihad não pode ser vencida por forças convencionais, mas
pode ser sufocada. Num primeiro momento, seria preciso a coordenação de
esforços globais para sufocar, materialmente, a Jihad. Seria preciso um
movimento de toda a Comunidade Internacional para embargar o suprimento de
armas, recrutas e insumos para os jihadistas.
Mas, fundamentalmente, seria necessário que o Ocidente se engajasse junto a
setores mais liberais da Comunidade Islâmica como apoiador ou indutor de um processo de
reforma dentro do Islã, tal qual já ocorreu com a Igreja Católica. Bombas,
guerras e invasões já se demonstraram ineficientes neste processo e no caso
específico do Iraque, ao contrário, apenas têm atuado como alimentadoras da
Jihad.
Aí, depois que um Martin Lutero, de turbante, passar triunfante por Meca, talvez todos nós possamos dizer: je suis Charlie.
Aí, depois que um Martin Lutero, de turbante, passar triunfante por Meca, talvez todos nós possamos dizer: je suis Charlie.
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