É estarrecedor como o monlevadense, no geral, não tem tido
capacidade nem sensibilidade para preservar a arquitetura legada por Louis
Ensch. O que não foi demolido, tem sido descaracterizado, dia a dia.
Falo do outrora belíssimo conjunto arquitetônico da Avenida Aeroporto e da Rua Dr. Geraldo Soares de Sá (foto), na Vila Tanque, que já foi tão representativo da Cidade Industrial de Louis Ensch. A arquitetura é uma das mais primordiais formas de arte da civilização. Aquelas casas são imensamente amplas e possuem construção muito sólida, demandando pouquíssima alteração. O máximo seria alguma reforma para atualizar os banheiros, a cozinha e nada mais. No entanto, não é o que se tem visto Em vez, de um consenso para conservarem a arte, ou seja, a arquitetura das casas e a homogeneidade do casario, depois de vendidas pela Belgo Mineira, os atuais proprietários se engajaram numa disputa de puro exibicionismo para, supostamente, apontar quem tem mais capacidade econômica de modificá-las. Um ergue um puxadinho no telhado, o vizinho ergue um maior. O outro desfigura parte da fachada, o vizinho desfigura a fachada inteira. E o resultado tem sido a descaracterização sistemática da arquitetura e, por conseguinte, a destruição da arte e, portanto, de um insubstituível elemento da identidade local. Prova de que a capacidade econômica, por si só, não é sinônimo de alto nível cultural. Lembro-me de quando era criança, descia aquelas ladeiras em disparada a bordo de meu carrinho de rolimã fechado, de dois metros de comprimento e, na volta, quando tinha de rebocar todo aquele peso morro acima com o auxílio de uma corda, parava várias vezes para retomar o fôlego, tendo a grata oportunidade de apreciar a beleza arquitetônica daquele casario homogêneo. No início, achava que todas as casas eram iguais. Mas, depois, percebi que apesar de muito parecidas, não havia nenhuma casa igual a outra. Cada uma tinha algum elemento arquitetônico diferente da outra. O gradil das casas era baixo e, em virtude das muitas amizades de infância, tínhamos acesso aos quintais delas, por onde passávamos para chegar à mata, onde colhíamos morangos silvestres e atravessávamos o riacho dependurados no cipó. Hoje tudo acabou, não há mais a beleza arquitetônica do casario, carrinhos de rolimã, até porque os passeios também foram modificados, impedindo o trânsito deles, nem acesso à mata. Definitivamente, não estamos evoluindo.
E tudo isso vem
ocorrendo ao arrepio da Casa de Cultura, do Conselho de Patrimônio Cultural e
da Prefeitura, cujo mandatário é, justamente, morador da Vila Tanque. É muito triste ver
tudo se acabando e sendo destruído. De
outro lado, também houve aqueles que reformaram as casas, conservando a sua
originalidade. Estes estão de parabéns pela sensibilidade artística. Hoje, o
casario mais bem conservado e representativo da arquitetura monlevadense é o
conjunto arquitetônico da Rua Imbé, também no Bairro Vila Tanque, com aquelas
belíssimas casas suspensas.
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