A considerar que nos encontramos fixados do lado leste da Serra do Espinhaço na predominância do riquíssimo e bastante já devastado bioma da Mata Atlântica, de clima tropical úmido, o rio que drena toda essa região, ou seja, o Rio Doce, por si só, tem importância quase condicionante para tudo.
No entanto, para o francês Jean de Monlevade e para o município que posteriormente foi fundado com seu nome, o Rio Doce representou a única maneira de se introduzir a primeira máquina a vapor empregada em método industrial no Brasil, representando um verdadeiro marco tecnológico de uma era, que, como tudo em Minas, é mantido escondido e longe dos livros oficiais de história.
Ninguém nunca ouviu falar, o monlevadense nunca estudou sobre ela na escola, mas João Monlevade tem a primeira máquina a vapor do Brasil. Trata-se de um martelo-pilão de 1.200 quilos e sua respectiva caldeira, fabricados na Inglaterra e adquiridos por Jean de Monlevade com o polpudo dote em ouro que recebeu do casamento com Clara Sofia de Souza Coutinho, sobrinha do Barão de Catas Altas e sua esposa por toda a vida.
Nas primeiras décadas do séc. XIX, não havia ferrovias em Minas e o único transporte entre o Rio de Janeiro e terras mineiras era realizado por tropas de muares, que, obviamente, não comportavam equipamentos tão pesados.
A máquina a vapor de Monlevade e outros equipamentos de origem inglesa desembarcaram no porto do Rio de Janeiro, de onde saíram em 18 de setembro de 1827 rumo a foz do Rio Doce, no Espírito Santo, local em que foram transferidas para canoas militares, as quais foram conduzidas rio acima, com o auxilio de índios Krenak - a mesma etnia que fechou a ferrovia Vitória/Minas em protesto pela morte do Rio Doce, recentemente - até chegar à Fábrica de Ferro de Monlevade, situada em São Miguel do Piracicaba, em 8 de abril de 1828. Foi uma façanha sem precedentes em Minas! Imagina-se o quão interessante seria a leitura do diário desta jornada! Ao todo, foram 7.500 quilos de equipamentos, incluindo a fornalha e o martelo a vapor, que, atualmente, se encontram expostos no museu fechado para a visitação da Arcelormittal.
Hoje, após a Catástrofe de Mariana, se a mesma viajem fosse realizada pelo Rio Doce, muito provavelmente, a máquina a vapor de Monlevade ficaria atolada na espessa lama da Samarco/Vale/BHP.
Hoje, após a Catástrofe de Mariana, se a mesma viajem fosse realizada pelo Rio Doce, muito provavelmente, a máquina a vapor de Monlevade ficaria atolada na espessa lama da Samarco/Vale/BHP.
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