sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Botão de Prata Extraída por Monlevade no incêndio do Museu Nacional

Enquanto atravessava o Atlântico, em 1817,  rumo ao Brasil, o minerálogo e metalurgista francês João Antônio de Monlevade (retrato), certamente, mal poderia imaginar que, 10 anos mais tarde, estabeleceria em Minas Gerais aquela que seria a maior e mais importante Fábrica de Ferro a funcionar durante o Brasil Império e além.

O objetivo inicial da viagem de Monlevade ao Brasil era o de estudar suas jazidas minerais, mensurando-as a fim de responder, sobretudo, à grande dúvida da época: o ouro de Minas Gerais havia se esgotado ou não? E a resposta de Monlevade para aquele dilema foi um sonoro “não”. Havia ainda muito ouro a ser extraído, contudo seria necessário o emprego de novas técnicas de mineração. Para se ter uma ideia, adotando as novas técnicas de mineração difundidas por Monlevade e empregando os artefatos de ferro manufaturados em sua fábrica, apenas o Congo Soco produziria, de 1826 a 1856, 27.887 quilos de ouro puro, fazendo dele a mina que mais produziu ouro na história da humanidade.

Mas, pouco antes de assumir sua bem sucedida carreira metalúrgica no Brasil e sempre imbuído do dever de buscar proveito econômico para as jazidas minerais de Minas, Monlevade foi incumbido pelo governo da província de uma difícil empreitada, cujo sucesso lhe somaria como mais uma credencial para torná-lo a maior autoridade metalúrgica de Minas Gerais durante o sec. XIX e revelaria sua face de alquimista.

Enquanto ainda vivia em Caeté nos idos de 1825, experimentando imensa dificuldade em fundir o ferro no alto-forno devido à ausência de matas para o fabrico do carvão em escala, Monlevade foi incumbido pelo governador da província, o Visconde de Caeté, de estudar a viabilidade econômica da Galena do Abaeté, a única mina de chumbo e prata conhecida em Minas Gerais. Monlevade, então se dirigiu para o Abaeté, onde elaborou detalhado relatório mineralógico da galena e um plano para explorá-la . Em pouco tempo Monlevade extraiu da galena pelo processo químico 10 toneladas de chumbo em barras e as remeteu para Ouro Preto a 500 quilômetros de distância, com o auxílio de uma tropa de 200 muares.  Em Ouro Preto, munido de aparelhos, Monlevade submeteu parte do chumbo apurado no Abaeté a um processo de copelação, através do qual, como se ele fosse um verdadeiro alquimista, apurou um botão de finíssima prata que foi remetida como amostra para o Rio de Janeiro, aos cuidados de ninguém menos do que José Bonifácio de Andrada e Silva. O botão de prata extraída por Monlevade do chumbo do Abaeté era parte integrante do acervo de mineralogia do Museu Nacional, incendiado em 2 de setembro de 2018 no Rio de Janeiro.           

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