domingo, 26 de dezembro de 2021

Como o Galo forte vingador superou o insulto infame que fundou Minas Gerais

O Cruzeiro foi fundado pela colônia italiana de Belo Horizonte. O time mineiro até chegou a se chamar Palestra Itália, tendo de mudar de nome décadas mais tarde, quando o Brasil declarou guerra àquele país durante a Segunda Grande Guerra. Nada contra os italianos. O Brasil é o país onde o mundo inteiro de encontrou. Antes dos italianos, por exemplo, o molho do macarrão em Minas Gerais era preparado a partir do refogado de cebola, alho e urucum, sendo um prato mais cotidiano. Somente a partir da imigração italiana que se passou a encontrar em Minas o macarrão à bolonhesa, feito com molho de tomates, que é um prato para ocasiões mais especiais. Contudo, não foram os italianos que fundaram Minas Gerais, eles chegaram muito depois. A seguir, contarei como a escolha do Galo para ser o mascote do glorioso Clube Atlético Mineiro superou o insulto a partir do qual Minas Gerais foi fundada. 
Foram os bandeirantes paulistas que, a partir do fim do sec.XVII, descobriram o ouro, dentro de sua própria capitania, a de São Paulo, que era imensa, estendendo-se de Santa Catarina até o Mato Grosso. Muito diferente das ilustrações dos livros escolares de história, os bandeirantes não eram aqueles homens brancos, barbudos, vestidos de calça, gibão de couro e chapéus de abas largas. Na verdade, eles eram metade portugueses, metade índios. Por isso, andavam com pouca roupa, descalços e falavam o tupi. Eles também eram muito possessivos e gananciosos. Depois de descobrirem as Minas de Ouro de Mariana, Ouro Preto, Sabará, Caeté, S. J. Del Rei, etc, os bandeirantes resolveram monopolizá-las apenas para si, o que gerou imensa insatisfação do crescente afluxo de pessoas que chegavam às regiões auríferas, vindas da Bahia, de Pernambuco, do Rio de Janeiro e de Portugal, atraídas pela notícia do descobrimento de tão fabulosas jazidas. O clima ficou tenso, de um lado os bandeirantes paulistas, do outro, os forasteiros. Até que num fatídico dia, no Morro Vermelho, em Caeté, um bandeirante paulista chamou de “emboaba” um daqueles forasteiros, o que principiou um tiroteio que se multiplicou por todas as regiões auríferas, dando início à Guerra dos Emboabas. Pouco tempo depois, os bandeirantes paulistas perderam a Guerra dos Emboabas e foram expulsos das Minas de Ouro. Vencedores, os Emboabas desmembraram as Minas de Ouro da Capitania de São Paulo e fundaram a Capitania de Minas Gerais. 
Mas, o que essa história toda tem a ver como o Galo, o mascote do Clube Atlético Mineiro? Veja que Minas Gerais foi fundada em conseqüência da Guerra dos Emboabas, que, por sua vez, teve início em função de uma ofensa: “emboaba”.“Emboaba” é termo do tupi que designa uma ave pernalta, desengonçada e mal emplumada. Os bandeirantes se referiam, pejorativamente, aos forasteiros atraídos pela notícia da descoberta do ouro como emboabas porque eles calçavam longas botas cujos canos se elevavam até pouco abaixo da linha da cintura. É que as regiões das Minas de Ouro eram habitadas pelo temido jararacuçu, que do tupi significa “gigante que envenena a quem agarra”. É a cobra que mais quantidade de veneno injeta em suas prezas e a única que pica acima do joelho. Geralmente, os acidentes com cobras venenosas do Brasil ocorrem da altura do joelho para baixo. O jaracuçu, que pode chegar a mais de 3 metros de comprimento, é o único que pica acima do joelho, podendo seu bote alcançar a altura do peito de uma pessoa de média estatura. Como os bandeirantes eram metade índios, eles não se preocupavam com as cobras porque o índio as percebe muito antes delas estarem ao alcance para um acidente. Índio não pisa em cobra! Situação muito diversa da dos emboabas, que não possuíam a leitura do índio sobre o ambiente e, portanto, se viam obrigados a utilizar as longas botas a fim de prevenir a picada mortal do jaracuçu. 
Assim, 200 anos depois da Guerra dos Emboabas, quando estudantes belorizontinos fundaram o Clube Atlético Mineiro em 1908, foi preciso escolher para o time um mascote que superasse, definitivamente, aquela imagem de ave pernalta, desengonçada e mal emplumada que passara a atormentar o imaginário do mineiro desde tempos áureos . O escolhido não poderia ser outro senão ser o Galo forte vingador, galantemente, emplumado e dotado de bico voraz e esporas capazes de fulminar com pontaria o adversário, como fizeram os disparos de bacamarte no Morro Vermelho. E depois de fundado o Galo, nunca mais se ouviu falar daquela emboaba pernalta, pouco emplumada e desengonçada. Muito pelo contrário, em Minas Gerais, emboaba se tornou sinônimo de herói de guerra e a única ave sobre a qual se ouve falar é o Galo! Se foi intencional, não sei. Só sei que foi assim.

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